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MERCADO FINANCEIRO
 
EUA e mais cinco países decidem derramar petróleo no mercado para baixar o preço. Contrariando a lógica, a commodity disparou. Entenda.
 
 
Por Tássia Kastner
 
 
A bolsa brasileira viveu um pregão altamente improvável nesta terça-feira. As ações da Petrobras dispararam mais de 5%, o que não costuma acontecer com empresas do tamanho da estatal – hoje a maior do país. Commodities não costumam subir ante a notícia do aumento de oferta e possível queda de demanda. E o Brasil raramente vive dias tão positivos com o mundo ruindo em ataque de pânico financeiro. Pois foi o que aconteceu.
 
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou que o país vai liberar uma parte das reservas estratégicas de petróleo do país para conter a disparada dos preços dos combustíveis. O que rolou é que a economia da maior parte dos países voltou a funcionar normalmente nos últimos meses, aquecendo a demanda por petróleo, a matéria-prima que move o mundo.
 
Só que a oferta da commodity continua bastante restrita por uma decisão da Opep (o cartel dos países exportadores de petróleo). Eles vinham indicando que aumentariam muito de leve a produção a partir de janeiro, o que o mundo obviamente considera insuficiente dado o estrago que a inflação está causando mundo afora. Acima dos US$ 80 por barril, o produto está tão caro quanto há cinco anos.
 
Além dos EUA, China, Japão, Índia, Coreia do Sul e Reino Unido também anunciaram o uso de reservas do combustível.
 
Por sinal, esse tipo de estoque serve exatamente para isso: aumentar a oferta em caso de desabastecimento e controlar os preços quando o livre-mercado precisa de uma mãozinha para se ajustar. Um país pode ter reservas de qualquer produto que considere estratégico. O Brasil, por exemplo, usava a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para garantir reservas de alimentos. Quando a safra era gigante, comprava a preços baixos e estocava. Nisso, garantia que o produtor continuaria interessado em plantar no ano seguinte. Em períodos de seca e disparada dos preços dos alimentos no supermercado, ele vendia esse produto para manter a oferta relativamente estável e garantir alguma racionalidade nos preços dos supermercados. A Conab ainda existe, mas não tem atuado – como a sua e a minha conta do mercado podem atestar.
 
Só que o país nunca fez reservas de petróleo. Quando a gente finalmente atingiu a tal autossuficiência de produção, a Petrobras mais ou menos ganhou esse papel. O problema é que controlar os preços dos combustíveis sacrificando o caixa da estatal não dá muito certo, como o período de 2014 a 2016 pode atestar.
 
Voltando. Com tanta gente derramando mais petróleo no mercado, o preço da commodity deveria ter caído. Aconteceu o oposto, uma alta de mais de 3%. Existem algumas explicações para isso. Uma delas é que a notícia já era esperada pelo mercado, e os preços caíram nos últimos dias. É o clássico “comprar no boato, vender no fato”. A outra tem a ver com a queda de braço geopolítica.
 
É que os países da Opep não curtiram essa vontade do mundo rico de baixar o preço do petróleo na marra, e fizeram o mundo saber que eles podem não aumentar a produção para compensar esse excesso de oferta. E eles ainda têm um argumento: as medidas de contenção da quarta onda da pandemia na Europa podem reduzir a demanda pelo produto, deixando os estoques maiores. Nisso, mais uma vez eles perderiam o controle sobre os preços (o objetivo final de um cartel, não custa lembrar). A decisão sai na próxima semana.
 
Surfou
 
A reação do petróleo foi como música para os ouvidos dos acionistas da Petrobras – as ações dispararam 5,58% (PETR4) e 4,74% (PETR3). O mercado se agarrou a outras notícias ligadas à petroleira.
 
Na quinta, ela anuncia o plano estratégico quinquenal, e depois de tanto dinheiro que entrou em caixa no último ano, ela deve aumentar os investimentos no negócio. Essa é uma boa notícia porque ajuda a financiar o crescimento no longo prazo.
 
Além disso, o presidente da estatal, o General Joaquim Silva e Luna deu indicações de que as vendas de refinarias estão avançando. A Petrobras fechou um acordo com o Cade (o órgão de defesa da concorrência no país) para vender uma parte da sua operação de refino de modo a forçar uma abertura de mercado. Como até então a estatal era praticamente a única responsável por transformar suco de dinossauro e combustível, ficava fácil dominar os preços – e ainda deixava a porta aberta para o governo intervir no mercado.
 
O fato é que nesse oba-oba de notícias positivas, mais uma vez os investidores se deram ao luxo de ignorar a senha intervencionista do presidente Jair Bolsonaro. Hoje ele afirmou que governo busca “rever a questão” da paridade de preços da Petrobras com o mercado internacional. Mas saiu em uma daquelas frases tortas, enquanto falava sobre os preços altos dos combustíveis. "Tivemos problemas sérios no passado, além da corrupção: a questão da paridade com o preço internacional. Estamos buscando rever essa questão."
 
Ah, o próprio presidente da estatal também soprou a quantas anda a política de preços. “Estamos há 30 dias sem reajuste de combustível. Se reajuste não for para baixo, vamos ver o que será feito.” Para bom entendedor...
 
Levou a galera junto
 
Quem também teve um dia positivo foi a Vale (+2,75%) e as siderúrgicas brasileiras. Elas pegaram carona, mais uma vez, na alta de mais de 4% do minério de ferro. E foi isso o que fez o Ibovespa terminar o pregão com uma alta de 1,5%, a maior em quase duas semanas.
 
A velha economia deixou a bolsa brasileira imune à liquidação de ações tech rolando nos Estados Unidos. Por lá, investidores voltaram a temer que uma alta precoce das taxas de juros – para conter a inflação – possa prejudicar a rentabilidade de empresas que dependem demais de crédito. Mas no fim, o dia nem terminou tão ruim assim. Só a Nasdaq fechou no negativo.
 
Mas, claro, existe uma diferença brutal entre subir 1,5% depois de beirar a mínima em um ano, caso do Ibov, e cair 0,50% depois de bater recordes sucessivos. Vai ver o Touro de Ouro da B3 é mesmo pé frio: o Ibovespa só subiu com gosto depois da notícia de que ele foi instalado irregularmente e precisará sair de lá.
 
Até amanhã.

Maiores altas
 
Braskem (BRKM5) 6,68%
Petrobras (PETR4) 5,58%
PetroRio (PRIO3) 5,20%
Usiminas (USIM5) 4,76%
Petrobras (PETR3) 4,74%
 
Maiores quedas
 
Méliuz (CASH3) -5,43%
Totvs (TOTS3) -5,26%
Petz (PETZ3) -4,02%
Ecorodovias (ECOR3) -3,70%
Iguatemi (IGTI11) -3,81%
 
Ibovespa: 1,50%, a 103.653 pontos
 
Nova York
Dow Jones: 0,55%, a 35.814 pontos
S&P 500: 0,17%, a 4.691 pontos
Nasdaq: -0,50%, a 15.775 pontos
 
Dólar: 0,27%, a R$ 5,6087, depois de oscilar entre R$ 5,5976 e R$ 5,6632
 
Petróleo
Brent: 3,27%, a US$ 82,31
WTI: 2,28%, a US$ 78,50
 
Minério de Ferro: 4,39%, a US$ 99,83 a tonelada no porto de Qingdao, na China

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