AMAZÔNIA AMEAÇADA: DESMATAMENTO AVANÇA E DECRETO FLEXIBILIZA PLANTAÇÕES
Desmatamento na terra indígena Karipuna, em Rondônia |
Redução
de reserva legal será discutida no Congresso; servidores da Funai denunciam
ameaças
Enquanto o óleo
avança litoral abaixo no Nordeste, o Brasil enfrenta más notícias em outro
patrimônio ambiental: em setembro, a devastação da Floresta Amazônica cresceu
80% em relação ao mesmo mês do ano passado. Anteontem, o presidente Jair
Bolsonaro assinou um decreto que permite ainda o avanço das plantações de
cana-de-açúcar sobre o bioma; e um projeto de lei para redução de uma reserva
extrativista está a caminho do Congresso.
Boletim do
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia ( Imazon ) divulgado ontem apontou
que o desmatamento em setembro erradicou 802 km² da Amazônia Legal, contra 444
km² no mesmo mês de 2018. O corte raso corresponde à retirada total da
vegetação, convertendo o terreno em pasto. Pará, Rondônia e Amazonas, estados
de fronteira agrícola e especulação imobiliária, lideram o ranking dos mais
problemáticos.
Entenda
por que a Amazônia mobiliza o mundo
O índice mais
preocupante, porém, é a escalada de 787% na degradação, termo usado para a
extração das árvores, normalmente para a comercialização da madeira, ou
resultante de incêndios. As florestas degradadas somaram 1.233 km² em setembro.
No mesmo período, em 2018, foram 139 km².
Procurado pelo
GLOBO, o Ministério do Meio Ambiente não se pronunciou sobre o levantamento.
Além da
destruição vista dois meses atrás, ambientalistas se preocupam com os
potenciais efeitos na floresta da revogação de um decreto de 2009 que proibia o
cultivo da cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal.
Segundo Cid
Caldas, coordenador geral de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério da
Agricultura, a legislação de 2009 estava defasada e referia-se apenas a
financiamento para atividade econômica, e não a conservação ambiental.
— Atendemos às
demandas dos governos estaduais, que queriam gerir o seu próprio zoneamento
ecológico, e temos agora uma legislação reforçada por instrumentos como o
Código Florestal — explica Caldas. — O novo decreto propõe normas ambientais
muito mais acirradas.
‘Porteira
aberta’
Idealizador do
decreto revogado por Bolsonaro, o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc
avalia que o presidente “abriu a porteira para desmatadores”.
— A produção
agrícola brasileira não precisa de mais território. Seu crescimento, hoje, está
ligado ao aumento da produtividade na área que já ocupa — assinala. — O decreto
de Bolsonaro é um retrocesso terrível, tanto do ponto de vista ambiental quanto
econômico. Parte do mercado internacional boicota nossos vegetais devido ao uso
de agrotóxicos. Agora, vamos fragilizar mais ainda nossas exportações.
Outra batalha
ambiental será travada em breve em Brasília. A deputada federal Mara Rocha
(PSDB) e o senador Márcio Bittar (MDB), ambos do Acre, apresentarão no
Congresso um projeto de lei para reduzir os limites da Reserva Extrativista
Chico Mendes, localizada em seu estado.
No texto que
será enviado à Câmara dos Deputados e ao Senado, ambos afirmam que a reserva,
desde sua criação, em 1990, conta com a presença de pequenos produtores rurais
que tinham suas terras regulares e, agora, encontram barreiras para trabalhar.
— Há conflitos
entre os antigos proprietários, que não foram indenizados desde a criação da
reserva, com os órgãos ambientais do governo federal. Eles não têm dinheiro
para pagar multas, nem conhecem outra forma de subsistência — conta Bittar. — A
área mais crítica é próxima a uma estrada, onde pessoas que vêm do extrativismo
querem migrar para a agricultura, porque ninguém sobrevive apenas com o
comércio da borracha.
Bittar e Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) foram autores de um projeto de lei que propunha o fim das
reservas legais . Ambos desistiram do texto e o retiraram da pauta do Senado.
— Mas a
realidade da reserva de Chico Mendes é a mesma de muitas unidades de
conservação em todo o país. O discurso dos ambientalistas de não mexer em nada
no meio ambiente só fez com que a Região Norte se tornasse a mais pobre do país
— condena.
Ataques
a indígenas
Ontem,
funcionários da Fundação Nacional do Índio ( Funai ) divulgaram uma carta
alertando para o risco de paralisação no serviço de proteção a indígenas
isolados . Entre os pontos críticos apontados no texto estão a falta “crônica”
de recursos humanos, cortes e contingenciamentos orçamentários e a escalada de
violência contra servidores do órgão, que, por temer represálias no campo,
estão pedindo afastamento.
A carta é
divulgada na semana seguinte ao mais recente ataque à base de proteção a índios
isolados do Vale do Javari, no extremo Oeste do Amazonas. Invasores dispararam
tiros contra a instalação. Ninguém ficou ferido. Na mesma semana, o líder
indígena Paulo Paulino Guajajara foi morto a tiros no Maranhão.
As bases
funcionam como uma espécie de proteção aos índios que, atualmente, são
ameaçados por invasores — garimpeiros, caçadores e madeireiros ilegais — das
terras em que eles vivem. Os casos de violência contra servidores da Funai
também foram mencionados na carta. Os atentados, segundo o documento, “colocam
em risco todo o trabalho desenvolvido há mais de três décadas pelo Estado
Brasileiro”.
Fonte/Foto: Renato Grandelle, O Globo/Chico Batata -
Greenpeace
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