PANORAMA POLÍTICO | DIA 26: COM DISCURSOS EXTREMOS SUAVIZADOS, COMPARECIMENTO EM MANIFESTAÇÃO PRÓ-GOVERNO AINDA É INCERTO
Cientista político acredita que os dois “lados” têm
medo de cenário que encontrarão domingo (26)
As manifestações em favor
de pautas defendidas pelo Governo Federal marcadas para o próximo domingo (26)
continuam gerando expectativas em diversos analistas do cenário político
brasileiro. Após uma semana de grande movimentação nas redes sociais, em que
apoiadores voltaram a subir hashtags no Twitter convocando os cidadãos às ruas,
a impressão de especialistas é que o tom das manifestações foi amenizado.
O cientista político Paulo
Kramer, por exemplo, avalia que isso aconteceu porque os dois “lados”
resolveram abandonar discursos extremos, por medo do cenário que vão encontrar
nas ruas no domingo. “A principal razão para isso, foi que Bolsonaro está com medo
de dar gente de menos e sair prejudicado e o Alcolumbre, que é presidente do
Senado, e o Maia, presidente da Câmara, estão com medo de dar gente demais”.
Os apoiadores das
manifestações, alegam, entre outras coisas, que é preciso ir às ruas em defesa
da Reforma da Previdência, do Pacote Anticrime do ministro Sérgio Moro e da
aprovação da Reforma Administrativa. Por outro lado, os opositores alegam que o
movimento pode mais atrapalhar, do que ajudar a tramitação de todos esses
projetos no Congresso.
O cientista político da
FGV, Sérgio Praça, acredita que Bolsonaro fez um movimento ousado ao incentivar
as manifestações. Ele avalia que as vantagens para o governo – caso muitas
pessoas compareçam às ruas – não serão significativas. Por outro lado, Praça
entende que, se poucas pessoas forem aos atos, o fracasso será pessoal de
Bolsonaro. “Foi uma jogada arriscada da qual ele já se arrependeu e está
tentando se distanciar agora”, explica.
Logo no início das
convocações, o tom de “ameaça” ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal
apareceu em algumas conversas de apoiadores dos movimentos – que consideram que
as instituições são ineficazes e trabalham contra o Brasil.
Acontece que Bolsonaro
chegou a falar em café da manhã com jornalistas na quinta-feira (23) que os
grupos que forem às ruas e falarem em fechamento do Congresso e do STF estariam
na manifestação errada. O presidente lembrou que tais discursos não fazem bem
ao Brasil e não estão alinhados à sua política.
Virgilio Arraiz, professor
de História Contemporânea da UnB, lembra que essa situação de atrito entre o
Executivo e o Legislativo é normal em uma democracia. Segundo ele, a
independência e autonomia dos poderes é um reflexo disso. “Em função da
deterioração do quadro econômico, os ânimos foram acirrados, no sentido de que
o Governo acredita que os seus projetos deveriam ser encaminhados e aprovados
de maneira mais rápida, porque isso ajudaria o país a sair da crise. Já o
Congresso tem outra visão e acredita que deve ter mais debate, que outras
sugestões podem ser incorporadas”, pontua Virgílio.
Na avaliação do cientista
político Sérgio Praça, o peso das manifestações também diminuiu quando a
esperança em ver a Reforma Administrativa (MP 870) aprovada no Congresso,
aumentou.
Isso porque na
quarta-feira (22), a Câmara dos Deputados aprovou a proposta e a expectativa é
que o Senado faça o mesmo na próxima semana. O fato de a Câmara ter devolvido o
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao Ministério da Economia
até foi diminuído após a conquista da MP 870 na Câmara. “Eu acho que ele
imaginava que o conflito com o Congresso seria maior do que está sendo. A
aprovação da MP da reforma administrativa é ótima para o governo, apesar de ter
deslocado o Coaf. Então, na verdade, o Congresso não entrou em um conflito tão
grande como Bolsonaro esperava”, avalia Praça.
Consenso
Entre os parlamentares do
PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, não há consenso sobre o assunto. O
próprio partido convocou uma coletiva de imprensa liberando os filiados a comparecerem,
ou não, aos atos. O líder no Governo na Câmara, Major Hugo (PSL/GO), por
exemplo, acredita que as manifestações podem ser positivas. Já a deputada
estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) – parlamentar mais votada na história do
País - recriminou os atos, alegando que as manifestações não possuem
“racionalidade nenhuma”.
Entre os ativistas da
direita, também existe um “racha”. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra
Rua, por exemplo, não vão aderir às manifestações.
O movimento Vem Pra Rua
emitiu nota dizendo que as pautas não estavam em sintonia com o que o grupo
defende. "O Vem Pra Rua não apoia políticos nem partidos (...) Respeitamos
o equilíbrio institucional dos poderes da república e acreditamos que as
críticas pontuais que tem de ser feitas devem respeitar a sua integridade. A
democracia não pode prescindir de poderes fortes e independentes.”
Tido como um dos
principais movimentos que atuaram pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e
pela consequente eleição de Bolsonaro, o MBL também anunciou que não apoia o
protesto. Em seu Twitter, Renan Santos, um dos líderes do grupo, disse que a
manifestação força a barra contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal e
também assusta os militares.
Por outro lado, entre os
movimentos que apoiam as manifestações estão o Movimento Avança Brasil,
Ativistas Independentes, Patriotas Brasil e outros grupos de direta. Segundo o
fundador do Patriotas, Julio Hubner, essa manifestação servirá como um
“termômetro para saber a força política de Bolsonaro”.
Fonte/Foto:
Juliana Gonçalves, da Agência do Rádio
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