ATITUDE: MULHERES SÃO PROTAGONISTAS DA CENA MUSICAL PARAENSE


Cantoras refletem atitude do resto do país, quebram tabus e gravam criações próprias
O grito delas vem ecoando. Seja no tom agudo ou grave, com arranjos pesados ou mais suaves ou apenas na performance. Já deu para perceber o quanto as mulheres vêm assumindo o protagonismo no cenário musical brasileiro, não só como intérpretes, mas como compositoras, quebrando uma cultura historicamente dominada por homens. Na cena local são muitos os casos em que a mulher passa a sua mensagem na frente dos vocais e na composição, como Sammliz, Liège, Keila Gentil, Lia Sophia, Aíla e tantas outras.
A cantora Sammliz diz que é feminista mesmo antes de saber que era. Ela, que começou aos 14 anos na música e foi criada por uma mulher forte, afirma que cresceu com esse discurso todo do feminismo. Foi natural e sempre fez parte de sua vida. “Nesse mundo tão desigual toda mulher é feminista, por mais que não esteja fazendo um certo discurso, mas apenas pelo fato de estar nesse mundo, todos nós somos um ser político e a mulher é feminista, pois todas nós queremos igualdade, queremos o equilíbrio. Mas pelo mundo não ser assim estamos na luta por nós e pelas outras”, fala a cantora.
Ultimamente todo esse movimento está mais presente nas músicas, nas letras e sobre esse detalhe Sammilz diz que não se sente obrigada e nem fica pensando como vai colocar o tema do feminismo na sua música. Ela explica que simplesmente faz as canções e elas retratam a sua vida, por isso, acaba acontecendo naturalmente. Ainda na concepção da artista, tudo depende do momento que está vivendo. Na música “Deusa da lua”, que Sammilz fez em parceria com a Dona Onete, ela diz que foi fruto de uma conversa sobre dificuldades que a mulher tem para fazer seus trabalhos. “Quando a mulher é consciente de si ela passa a ser vista como um ser perigoso e ameaçador. Por isso, essa música foi pensada dentro dessa temática. E ao nosso redor sempre vai ser colocada essas e outras dificuldades”, pontua.
Sobre o momento “música e feminismo”, Sammilz diz que todo esse movimento é mais forte por conta do tempo em que se vive, mas que nada disso é inovador, pois as grandes divas da música já falavam do assunto. “A diferença é que agora se consegue enxergar isso melhor, pois são tempos em que se precisa tornar isso mais ostensivo”, completa.
Som da periferia
O cabelo cor de rosa, a atitude no palco, a fala da periferia já é um ato feminista na vida da cantora Keila Gentil, que diz que todo esse movimento crescente do feminismo é necessário em todos os campos e, principalmente, no campo da arte, já que ainda é preciso avançar muito para que se aproxime do fim do machismo. Para ela, ainda é comum a própria mulher reproduzir o machismo e diz que já foi essa pessoa. “Eu já fui uma menina que reproduziu o machismo, já cantei músicas que me diminuíam como mulher e não sentia o peso, mas depois de leituras e estudar sobre o movimento passei a ter mais consciência e me sentir incomodada. Por isso, me sinto na responsabilidade de passar para outras meninas”, fala Gentil.
A jovem cantora vem de uma família evangélica, militar e da periferia e essa realidade lhe ensinou que deveria ser uma “mulher para casar”, cuidar do marido, da casa. “A música é um ato político e eu procuro trazer toda essa transformação que eu passei na vida para mais mulheres. Depois que descobri o feminismo me libertei de muita coisa que me aprisionava. Até mesmo meu cabelo, as minhas roupas, a minha postura no palco. Me sinto mais livre para tudo. E fico muito feliz de outras cantoras abordarem isso no palco. Temos que nos abraçar mesmo”, acrescenta Keila.
E é a cantora Liège que diz: “que bom que falar de feminismo está na moda”. Ela percebe que no cenário local muitas artistas estão tomando consciência de que a música é um viés importante para lutar e tratar de assuntos transformadores que possam modificar o contexto. “Há sempre uma reclamação de que agora a onda é falar de feminismo. Isso sempre vai existir, mas que bom que podemos falar abertamente sobre isso. O importante é que a gente estude e mergulhe de fato, seja na música ou em qualquer outro campo profissional”, completa.

Fonte/Foto: O Liberal/Júlia Rodrigues

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.