SUSTENTABILIDADE: DA FLORESTA PARA A MERENDA ESCOLAR: AGRICULTURA FAMILIAR OFERECE ALTERNATIVAS ECONÔMICAS NO PARÁ
Ações do Florestas de Valor, do Imaflora, tem ajudado
pequenos agricultores a acessarem políticas públicas, incentivado a conservação
da floresta e oferecido melhorias na alimentação escolar de Oriximiná
A agricultura familiar tem
ajudado a transformar o perfil econômico de Oriximiná, cidade do extremo Oeste
paraense. Com o maior número de reservas de bauxita do Brasil, o município é
conhecido pela sua relação de dependência ligada à extração da matéria-prima,
utilizada nas indústrias de transformação e química. Nos últimos dois anos,
entretanto, as ações do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal
e Agrícola), por meio do Florestas de Valor, tem ressignificado a economia
local e dado novas alternativas às comunidades quilombolas e aldeias indígenas
da região.
Desde 2016, alimentos como
farinha de mandioca, banana, batata doce, quiabo e abacaxi foram incorporados à
merenda escolar do município, injetando mais de R$ 360 mil na economia
oriximinaense por meio do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que
oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a
estudantes de todas as etapas da educação básica pública.
Os recursos alcançaram
mais de 30 famílias de pequenos agricultores locais, em quatro territórios
quilombolas e uma terra indígena. No total, mais de 20 mil alunos, das áreas
rural e urbana, alimentam-se com os produtos da agricultura local, cultivados
de forma sustentável. Oriximiná tem 21 escolas em territórios quilombolas e 11 em
terras indígenas. Só nestas escolas, há mais de dois mil alunos.
As atividades do Imaflora
na cidade começaram em 2010, ano em que foi realizado um curso de formação para
professores de técnicas agrícolas das escolas quilombolas. Nos anos seguintes,
foram formatadas parcerias, realizadas oficinas de capacitação e colocada em
prática uma estratégia para inclusão de produtos da agricultura familiar na
alimentação escolar. Em 2016, as conversas com atores públicos se
intensificaram e foi realizada uma chamada pública, instrumento administrativo
municipal, que selecionou produtos de agricultores locais para a merenda
escolar.
“O objetivo foi romper
gradativamente o fornecimento de alimentos processados e de baixo valor
nutricional à educação local. Aos poucos, foram sendo substituídos itens da
alimentação convencional, industrializados, por alimentos ricos em fontes de
vitaminas e produzidos sem o uso de agrotóxicos. Com isso, contribuímos para a
melhoria da alimentação escolar da cidade, entregando produtos que trazem a
cultura amazônica em sua composição”, afirma Mateus Feitosa, assistente de
projetos do Imaflora.
O Imaflora é uma
organização brasileira, sem fins lucrativos, que trabalha desde 1995 para
promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, gerar
benefícios sociais e reduzir os efeitos das mudanças climáticas. O Florestas de
Valor, uma de suas iniciativas, conta com patrocínio da Petrobras e
financiamento do BNDES / Fundo Amazônia, Gordon e Betty Moore Foundation e
USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
Feitosa explica que o
trabalho na região, logo de início, envolveu assistência técnica, construção de
estratégias para a venda e escoamento dos produtos e conexão com agentes
governamentais. Ele ressalta que, no entanto, nesses dois anos houve uma
mudança importante na relação dos agricultores com a sua produção: os
comunitários passaram a ocupar a posição de protagonistas na orientação dos
seus trabalhos.
“No início chamávamos os
agricultores para se reunir, conversar e organizar materiais, criando espaços
de empoderamento, pois eles não sabiam muito bem como conduzir as negociações e
o andamento dos projetos. Deu resultado e, hoje, são muito mais autônomos em
relação às suas decisões e têm mais controle sobre a produção, relacionando-se
diretamente com políticas públicas e atores do governo municipal”, acrescenta.
Este ano os agricultores
familiares incorporaram dois novos produtos à alimentação escolar do município:
o pão de castanha e o beiju de mandioca seco. Os alimentos são produzidos em
uma unidade de beneficiamento, inaugurada em 2018. Antes de a produção ter
início foram realizadas capacitações em parceria com o Senar (Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural) e o Sindicato dos Produtores Rurais de Oriximiná. Nos
próximos meses, os produtos também começarão a ser vendidos ao consumidor final
em mercados locais.
De acordo com a assistente
de projetos do Imaflora, Andressa Neves, outros grupos também têm se
beneficiado com a produção de quilombolas e indígenas, como ribeirinhos e
assentados. “Estabelecemos um canal de diálogo com agentes municipais e com a
equipe técnica da Prefeitura de Oriximiná e, depois do acesso à primeira
chamada pública, os agricultores familiares da cidade passaram a olhar de forma
diferenciada para os seus recursos, investindo em rótulos, embalagens e novas
ferramentas para produção. A demanda também aumentou e gerou uma nova cadeia
para valorização dos produtos familiares, melhorando a alimentação e a
qualidade de vida local”, destaca.
O Florestas de Valor
fortalece as cadeias de produtos florestais não-madeireiros, dissemina a
agroecologia para que as áreas protegidas e seu entorno contribuam para o
desenvolvimento regional, proporcionando condições dignas às populações locais
e conservação dos recursos naturais. Atua na conservação da floresta nas
regiões da Calha Norte do Rio Amazonas, na Terra do Meio e no município de São
Félix do Xingu, fomentando atividades produtivas e oportunizando a geração de
renda na Amazônia Legal brasileira.
Fonte: Bruno
Bianchin Martim
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