OPINIÃO: DUAS VISTAS E DOIS PONTOS
- por Edilberto Sena (*)
O papa Francisco tem
causado reflexões e estímulos a um novo modo de se encarar a vida no planeta.
Tem sido duro em questionar o consumismo capitalista da época, tão desastroso
às relações interpessoais e entre nações.
Infelizmente, a presidente
do Brasil não leva a sério as advertências do papa. Os dois estiveram no
plenário da ONU na semana passada em Nova York. O papa Francisco fez um apelo
insistente ao compromisso ético de todos os presentes no plenário, diante da
urgência por causa das mudanças climáticas.
Para ele, a COP21 em
dezembro próximo só terá sentido se, de um lados, os chefes de estado tomarem
decisões firmes e corretas e, de outro, cada cidadão, organizações e igrejas
também decidirem mudar comportamento ecológico.
Já a presidente Dilma
Rousseff toma posição contrária em relação à Amazônia. Mal saiu da assembleia
da ONU, deu entrevista à imprensa, admitiu que seu governo cometeu erros na
construção de Belo Monte, mas enfaticamente disse que não abre mão das novas
hidroelétricas na região, começando com a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.
Aqui são sete grandes barragens projetadas.
A submissão da presidente
ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é tão obsessivo que mesmo com a
grande crise econômico financeira porque passa o país, ela e seu ministro
banqueiro preferem cortar alguns bilhões de reais da educação e outros
programas sociais, mas continuam insistindo que não abrem mão das
hidroelétricas no Tapajós, e onde mais houver uma queda d’água.
Para seu governo, os impactos
sociais e ambientais são mínimos. Isto é, a expulsão de milhares de famílias
ribeirinhas e povos indígenas que vivem ao longo da bacia do Tapajós, assim
como a geração de gás metano e CO2 nos lagos a serem gerados e também a
inundação de 130 mil hectares de floresta de áreas de proteção ambiental, tudo
isso são mínimos impactos para ela que vive em Brasília e depois no sul do
país.
Dois pontos de vista tão
opostos e de consequências tão diferentes. Enquanto o papa faz um alerta ouvido
por cientistas, políticos, líderes religiosos, a presidente brasileira age como
se não tivesse nada a ver com os direitos dos outros.
Para ela, o que interessa
é gerar energia para as grandes empresas, mesmo destruindo rios, florestas e
povos. Depois com a cara mais lisa reconhece que cometeu erros nas construções
de hidroelétricas.
Admitiu em parte, apenas
em Belo Monte, mas erros tão graves seu governo cometeu em Teles Pires, São
Manoel, Girau e Santo António do Madeira. Mas sobre isso não admite nada.
Provavelmente ela não leu
a recente encíclica do papa Francisco sobre o clima, a Laudato Si. Ali, entre
outras afirmações, ele enfatiza que “a falta de preocupação por medir os danos
à natureza e o impacto ambiental das decisões, é apenas o reflexo evidente do
desinteresse em reconhecer a mensagem que a natureza traz inscrita nas suas
próprias estruturas.” Pg. 96.
Isso não atinge a
consciência obstinada da senhora Dilma Rousseff.
Estranhamente há pessoas
aqui mesmo na região do Tapajós que defendem tais projetos hidrelétricos,
dizendo que são necessários para o progresso. Não importa ao desastres
previstos, como revelam os danos na região do Xingu. Será possível?
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- (*) Edilberto Sena é
santareno, padre diocesano. É coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese
de Santarém.
Publicado originalmente em
jesocarneiro.com.br


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