OAB ENTRA COM AÇÃO CONTRA O GOVERNO JATENE
A Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) ajuizou ontem, perante a Justiça Federal no Pará, ação civil
pública com pedido de liminar contra o Governo do Estado a fim de garantir a
tutela dos direitos fundamentais dos detentos do sistema prisional. A petição,
subscrita pelos Conselhos Federal e Seccional da OAB, faz referência às
inspeções realizadas pelo grupo de monitoramento do sistema carcerário. O grupo
foi constituído pela Ordem com a participação de seu Conselho Seccional e de 11
subseções instaladas no interior do Estado.
No documento submetido à
apreciação da Justiça, a Ordem dos Advogados sustenta a urgente necessidade de
tutela jurisdicional para compelir o Estado a “cumprir suas competências
constitucionais e legais, assegurando o respeito ao ordenamento jurídico”.
Historiando os fatos narrados pela comissão de monitoramento e que compõem o
relatório aprovado pelo Conselho Seccional, a OAB afirma que, no interior dos
presídios paraenses, “vive-se um verdadeiro estado de abandono pelo poder
público”. E acrescenta: “o quadro é crítico, com problemas das mais variadas
naturezas”.
A petição desdobra e
analisa em sete tópicos a estrutura caótica que mantém em funcionamento o precário
sistema prisional do Estado.
SUPERLOTAÇÃO
Atualmente, a
Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe) conta com uma estrutura de
41 unidades prisionais, com 7.441 vagas para uma um universo de aproximadamente
12.200 pessoas presas. Isso perfaz um excedente em torno de 65%, o que
representa, na prática, superlotação carcerária e se reflete diretamente em
condições inadequadas de cárcere a presos provisórios. Em algumas unidades,
como na Marambaia, Tucuruí e Redenção, a situação chega a ser gravíssima, com
excedentes de 220%, 173% e 228%, respectivamente.
HIGIENE
Nas casas penais, de um
modo geral, a situação do ambiente carcerário é “desumana e estarrecedora”. Há
imundícies de toda ordem, celas alagadas, com pouquíssima ventilação ou entrada
de sol, sem instalações sanitárias. Fezes e urina ficam espalhadas pelo chão,
exalando odores fétidos, e é muito comum a presença de ratos e baratas. Há
ainda queixas generalizadas contra a qualidade da comida, frequentemente
servida crua, azeda e malcheirosa. Os inspetores da OAB detectaram muitos
detentos com doenças graves e infectocontagiosas, sem qualquer assistência
médica. Entre os casos mais preocupantes, estão os de tuberculose, hanseníase,
enfermidades dermatológicas e respiratórias, doenças renais, hipertensão,
diabetes e portadores de HIV, além de pessoas com ferimentos expostos.
PROVISÓRIOS
Não há, nas unidades
prisionais, separação entre presos provisórios e presos condenados. “Essa
realidade vivenciada pelos detentos e permitida pelo Estado fere de morte o
princípio constitucional da individualização da pena”, advertiu a OAB.
TORTURAS
As práticas de tortura e
maus-tratos, tanto físicos quanto psicológicos, foram narradas por custodiados
na quase totalidade das unidades prisionais inspecionadas. Existem relatos de
agressões físicas e espancamentos, bem como da utilização de spray de pimenta,
bala de borracha, régua, choque elétrico e outros instrumentos de agressão e
sevícia. Há pelo menos um caso de suicídio associado ao tratamento desumano dispensado
aos presos nas casas penais do Pará.
ESTRUTURA
A OAB concluiu que as
unidades prisionais carecem de condições estruturais mínimas para que tenham
funcionamento adequado, encontrando-se a ampla maioria delas em estado de
sucateamento. Para agravar esse quadro, não existem políticas adequadas e
efetivas de ressocialização.
ASSISTÊNCIA
Depoimentos colhidos de
detentos e até mesmo de diretores de unidades penitenciárias indicam que os
defensores públicos não se fazem presentes para atendimento com regularidade.
Em algumas unidades, os presos sequer recebem a visita de defensores.
PROMESSAS
A OAB sustenta que o
Governo do Estado costuma reagir a questionamentos com o discurso de que o Pará
tem planejamento penitenciário. Na prática, praticamente nada é feito e a
situação só faz se agravar. “Percebe-se que há uma dicotomia entre o discurso oficial
e o que é real, concreto”, alfineta a Ordem dos Advogados na petição
encaminhada ao Judiciário.
Ordem requer medidas imediatas
A Ordem dos Advogados do
Brasil considera que há “um quadro gravíssimo que decorre senão da omissão
deliberada do Estado, pelo menos de uma visível incapacidade para enfrentar e
resolver os problemas do sistema penitenciário”. Em vista de tal situação, e
como forma de obrigar o governo a encaminhar soluções, a OAB pediu à Justiça
que seja determinada liminarmente uma série de providências de curto e de médio
prazos. Essas determinações, conforme observou, deverão receber cumprimento
imediato, sob pena de fixação de multa diária não inferior a R$ 10 mil para
cada item eventualmente descumprido.
OUTRO LADO
Em nota, a Superintendência
do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) informou que ainda não teve acesso
oficial ao relatório da OAB Pará, mas reconhece os problemas no sistema
carcerário do Estado e vem buscando soluções para a sua melhoria. “O governo do
Estado está investindo mais de R$ 100 milhões na construção de 20 novos centros
de detenção no Pará. Atualmente, 13 obras estão em andamento, e vão gerar mais
de três mil novas vagas até o fim do ano. No último dia 5, o Ministério da
Justiça lançou, em Brasília, o programa Segurança sem Violência, destinado a
desenvolver ações integradas e articular políticas nacionais para a promoção de
melhorias no sistema prisional brasileiro”.
Fonte/Foto: Diário
do Pará/Divulgação
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