A VACINA DO GUERREIRO
Na cultura dos Sateré
Mawé, a ferroada das tucandeiras tem significado de cura, chamada de Vacina do
Guerreiro. “Quem colocou a mão na luva da tucandeira dificilmente adoece, tem
mais sorte no trabalho, tornando-se bom guerreiro, caçador, pescador e pode
casar mais cedo”, explica Ocivaldo que revela a resistência da cultura e a
identidade do seu povo. “Antes todos eram obrigados, hoje eles se oferecem para
participar do Ritual pela empolgação de ver muita gente”, afirma. Para fazer
parte é preciso cumprir algumas regras de não comer sal e animais que não tem
dente. Diferente dos antepassados que os rituais eram escondidos, atualmente
até os brancos podem colocar a mão na luva e participar da dança. O Ritual fez
parte da Ação do governo do prefeito Pe. Carlos Góes, realizado no Maraú para
incentivar a cultura do povo de Maués, realizada no Dia do Índio.
O canto que alivia a
dor
O choro se transforma em
canto para aliviar a dor. As vozes dos ferrados se misturam a dança para
aquecer o corpo que deve ficar em movimento durante 24 horas.
Eram 16:00h na Comunidade
de Vila Nova do Rio Marau, no dia 18 de abril de 2013, quando Luiz Perreira, 42
chegou carregando uma pequena luva de tucandeira, tecida de palha de tucumã.
Luiz capturou as tucandeiras logo cedo com outros parentes e adormeceu-as na
folha do caju.
Quem observava era Jamico
Michles, 20, que cumpriria o ritual, participando pela vigésima vez. O jovem
sateré da Comunidade Sagrado Coração de Jesus do Urupadi, confessava que não
estava com medo.
O cantador Darci da Silva
preparava os adornos para a luva com penas de arara vermelha e penugens de
gavião-real. A luva ficou exposta para que as formigas acordassem.
Com uma batida forte dos
pés, e o canto de aconselhamento, inicia o Ritual. O primeiro a colocar a mão é
Ivanilson 11, que teve o chocalho amarrado na perna. Tão logo recebeu o
instrumento sagrado ouviu-se o choro do curumim que se contorcia de dor ao ser
ferroado por dezenas de formigas. A dor que sentia Ivanilson causou emoção em
que assistia pela primeira vez o ritual. Conduzido pelo pai o cantador Darci
formou-se uma fileira de jovens que acompanhavam a dança. Ao retirar a luva o
choro se tornou mais forte. E assim foram com mais cinco jovens e um veterano.
Atraído o enfermeiro Jair
Machado, 40 da CASAI, que mora na Comunidade Vila Nova, há seis meses pediu
para ser ferrado. Cumpriu a dança e ao encerrar contou que estava com as mãos
apenas adormecidas. “Queria sentir o que eles sentem”, declarou. Após algumas
horas o enfermeiro começou a contorcer de dor tendo que ser atendido com
medicamentos injetáveis, mas sem sucesso para aliviar a dor. Foram 24 horas
chorando, dançando e cantando para aliviar a dor.
Fonte/Fotos:
Josene Araujo – Comunicação Maués/Josene Araújo e Brayan Levy
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