Chegou o dia de decisão do Fomc – aquele dia em que o mercado chora e o Powell (finge que) não vê. Para os brasileiros, tem requinte de crueldade: hoje ocorre a conjunção de astros comumente denominada Super Quarta, quando o Copom solta sua decisão junto com o pessoal em Washington. Não há mistério em nenhum dos casos. A bola de cristal dos analistas dá 87,4% de chance de que o comitê de política monetária americana ponha a taxa básica de juros dos EUA no intervalo entre 5% e 5,25%, um aumento de 0,25 ponto percentual em relação à janela vigente. A questão é saber se eles param por aqui. Wall Street está lidando com a derrocada indigesta do First Republic Bank, a terceira grande vítima da crise de março no setor bancário (as duas primeiras, claro, foram o SVB e o Credit Suisse, engolido pela UBS). Esse efeito-dominó – que você entende melhor na nossa matéria de capa de abril – é sinal de que a “Selic” alta nos EUA está, sim, cobrando seu preço. As ações de vários bancos regionais desabaram dois dígitos no pregão de ontem. O problema é que os dirigentes do Fed não estão vendo o tal baque respingar muito além da seara das instituições financeiras. A inflação nos Estados Unidos até começou a ceder, mas está longe da meta de 2% ao ano. Em janeiro, fevereiro e março os resultados foram de, respectivamente, 6,4%, 6% e 5% em doze meses. Os balanços da maioria das empresas (inclusive bancões peso-pesado) vieram fortes no primeiro trimestre, e o desemprego permanece irrisório. Esses são todos sinais de que a economia ainda está aquecida. Por outro lado, a inflação de serviços cedeu com mais força, e o consumo estagnou em março, o que são dois bons presságios para o segundo semestre. Altas nos juros funcionam com delay. Você sobe a taxa agora e só colhe os frutos daqui seis meses, pelo menos. Por isso, espera-se que Powell, em seu pronunciamento agendado para 15h30, sinalize o fim do ciclo de alta na próxima reunião. A ideia é que os 5% já são suficientes para gerar, em médio prazo, o impacto desejado – não adianta pisar demais no freio da economia e então causar o problema oposto da inflação: uma recessão brutal mais para o final de 2023. O mercado aposta que chegamos mesmo ao fim do ciclo de alta, ao menos a julgar pelos futuros de Nova York, que amanheceram em um verdinho receoso: S&P 500 subia 0,20% às 7h26, Nasdaq marcava 0,24%. Aqui no Brasil, Campos Neto não vai recuar dos 13,75%, isso é dado como certo. Ele já afirmou e repetiu que o Banco Central não vai mexer nos juros só porque o novo arcabouço fiscal foi apresentado, e que os núcleos de inflação – isto é, o componente menos volátil dos índices, que não inclui preços de combustíveis e alimentos – permanecem altos, ainda que os números cheios estejam encolhendo. Mas essa é uma dor de cabeça para amanhã: a decisão só sai às 18h30, após o fechamento do pregão. O tom do comunicado só vai mexer com o coraçãozinho do Ibovespa na quinta. Há outro acontecimento que, na prática, só fará preço amanhã: a divulgação simultânea de um caminhão de balanços. Demos a lista lá embaixo, na seção “temporada de balanços”, mas vale repetir aqui em cima: CSN, CSN Mineração, Dexco, EDP, Pão de Açúcar, Prio, Klabin, Renner, Taesa e Ultrapar. Os nerds de fundamentos terão muito trabalho pela frente. Bom dia e bom pregão! |
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