Parece que os mercados financeiros estão perto de completar um 360°. Uma virada de ciclo. Tal como já aconteceu diversas vezes, ações das gigantes das commodities entram em baixa e cedem lugar a papéis de varejo e tecnologia. A maior queda do Ibovespa nesta quinta foi a Vale (-6,66% – a pior desde novembro de 2021). Enquanto isso, a maior alta foi Cielo (6,44%). Distópico, não? Como a Vale tem um peso equivalente ao de 63 Cielos no Ibovespa (o número é esse mesmo), não teve conversa: o índice fechou em queda de 1,80%, a 96.121 pontos, com uma mãozinha dos -2,69% da Petrobras (48 Cielos…). Ou seja: não falta quem migre de papéis muito valorizados, leia-se caros, para os mais descontados: Cielo, Magalu. Hora de aproveitar a xepa da feira, afinal. O movimento é fruto de um certo desespero no mercado diante de duas bombas: juros altos e recessão. (No Brasil, ainda temos uma cereja apelidada de PEC Kamikaze em cima do bolo). Bom, juros altos criam recessão, e inflação cria juros altos. Os EUA começaram a subir os deles há pouco tempo. E eles seguem até mirrados, em 1,75%. Mas uma alta a patamares realmente elevados para o dólar (coisa de 4%) é dada quase como certa, já que a inflação decidiu pisar de vez no acelerador. Após o CPI (inflação oficial dos EUA) ir de uma alta anual de 8,5% em maio para 9,1% em junho, hoje o PPI (índice de preços ao produtor, uma espécie de IGPM deles) acabou por cimentar a alta de preços por lá. Na comparação anual, o PPI subiu 11,3% em junho, o maior salto desde o recorde de 11,6% em março deste ano. Em maio, a alta tinha sido 10,9%. A atual leitura do mercado é que o Fed (banco central dos EUA) vai priorizar o combate à inflação mesmo que isso custe uma recessão. Na semana passada ainda se discutia se a autoridade sairia de sua próxima reunião, dia 27 de julho, com um aumento de 0,5 ou de 0,75 ponto percentual. Agora já há quem aposte em 1 pp – caso do Citibank. Para piorar o drama em Wall Street, a temporada de balanços do segundo trimestre começou com um balde de água fria. Os bancões JPMorgan e Morgan Stanley decepcionaram. O primeiro apresentou uma queda de 28% nos lucros em relação ao segundo trimestre do ano passado. O segundo, de 29%. Se tivessem combinado, não daria algo tão próximo. Muita gente por lá deve ter pensado: "Se até eles estão em maus lençóis, imagina o resto…". Queda de 0,30% no S&P 500. Recessão? Apesar de ainda estar em um estado de pleno emprego (só 3,6% procuram trabalho e não encontram), há sinais de piora. Os pedidos de seguro-desemprego nos EUA subiram para o maior nível desde novembro: 244 mil pessoas deram entrada no benefício, 9 mil a mais que na semana anterior e que a expectativa. Com recessão à vista, empresas tendem a adiar contratações e adiam demissões. Uma eventual recessão americana puxaria o resto do mundo para baixo. E essa é a maior razão para a queda do minério de ferro, que tragou a Vale para as trevas. A matéria-prima do aço tombou 8%, e foi ao seu menor valor desde novembro de 2021. O petróleo até que não apanhou tanto (queda de 0,47%, a US$ 99,10). Na mínima do dia, porém, ele chegou a abaixo da cotação em que estava antes da guerra na Ucrânia (US$ 96,84). Falando em guerra na Ucrânia, um momento de comédia involuntária. “Eu sei como seria a solução do caso (a invasão russa)", disse Jair Bolsonaro numa entrevista à CNN. O presidente tem um telefonema marcado com Volodomyr Zelenski para o próximo dia 18. E disse que estava a fim de dar algumas dicas ao seu par ucraniano. "Vou dar minha opinião e dizer o que acho (...). Mas não vou adiantar. Como acabou a guerra da Argentina com o Reino Unido, em 1982? É por aí". É. Por aí… Boa sorte, Zelenski. Até amanhã!
Maiores altas Cielo (CIEL3): 6,44% BB Seguridade (BBSE3): 4,31% RaiaDrogasil (RADL3): 3,67% Magazine Luiza (MGLU3): 2,83% Cosan (CSAN3): 2,21% Maiores baixas Vale (VALE3): -6,6% CSN (CSNA3): -6,40% Cyrela (CYRE3): -5,95% Bradespar (BRAP4): -5,445 BTG (BPAC11): -4,86%
Ibovespa: -1,80%, a 96.121 pontos Em NY: S&P 500: -0,30%, a 3.790 pontos Nasdaq: 0,03%, a 11.251 pontos Dow Jones: -0,46%, a 30.630 pontos Dólar: 0,51%, a R$ 5,4333
Petróleo Brent: -0,47%, a US$ 99,10 WTI: -0,54%, a US$ 95,78
Minério de ferro: -7,91%, US$ 100,29 no porto de Qingdao (China) |
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