CRÔNICA | A CIDADE DA RUA SOZINHA...


- por Antonio Monte Jr*

O bom mesmo para quem é caminhante, é chegar em uma cidade desconhecida como um desconhecido.
Vivi muito está sensação. Chegar, sentir o cheiro da cidade , olhar com vagar as ruas, as construções e caminhar.
Cheguei em certa cidade por volta do meio dia. Sol forte, uma temperatura de forno e pouco movimento no porto onde cheguei.
Vi apenas uma rua. Nem larga nem estreita, o sol fazia espelho no barro avermelhado. Tudo em profundo silêncio. Com meu salsichão caminhei pela rua que passei a chamar de Rua Sozinha.... sem quase nada e ninguém, mantive a caminhada até chegar a um minúsculo bar onde tinha um senhor bem grisalho de óculos escuros, sem camisa e de bermudas, se balançando em uma cadeira.
Ao tocar no balcão ele mirou na minha direção e disse: “A cerveja está quente, a luz ainda não voltou...” 
Rebati, tem 51? “Sim,é 2 a dose...”
Coloca 6 reais, disse eu.
Ele levantou da cadeira apalpando nas paredes e sem tropeçar em nada pegou o litro de cachaça, um copo, colocou no balcão e de modo suave pôs o líquido até o meio do copo. Justos 6 reais!
Era cego!!!
Tomei sem respirar.
Assim começou minha caminhada naquele povoado da rua sozinha.


- * Antonio Monte Jr é advogado e cronista

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.