BRASIL | CERCADINHO DE BOLSONARO
Na frente do Palácio da Alvorada há um local reservado para o presidente Jair Bolsonaro dar declarações e tirar selfies com eleitores. Apelidado de “cercadinho”, o lugar é praticamente um palco montado apenas para o presidente ouvir elogios e manifestações de apoio. Em 10 de junho, uma militante do Movimento Brasil Livre, eleitora confessa de Bolsonaro, acendeu uma luz amarela ao colocar o presidente em situação desconfortável. Cris Bernart, de 33 anos, cobrou uma postura mais contundente do presidente no combate à pandemia do coronavírus. Segurando um cartaz que trazia estampado o número de vítimas fatais até então, 38 mil, deu uma verdadeira bronca no presidente e o acusou de trair o País. “Como chefe da Nação… eu votei no senhor, fiz campanha… sinto que o senhor traiu nossa nação”, afirmou, olho no olho com Bolsonaro. Visivelmente incomodado, o presidente se afastou sem responder. “A população morrendo e o senhor está me ignorando, presidente?”, completou a ativista. Filmada por celulares, a cena viralizou e se espalhou pelo País.
ATAQUES À IMPRENSA
Em 18 de fevereiro, no mesmo cercadinho, Bolsonaro havia ofendido a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo. Disse que “ela queria dar o furo”, referência ao jargão jornalístico usado por repórteres que trazem informações exclusivas. Era uma referência ao depoimento na CPMI das Fake News de Hans River, funcionário de uma empresa de marketing digital, que havia acusado a jornalista de tentar seduzi-lo em troca de informações sigilosas. River é acusado de disparar mensagens ilegais durante a campanha eleitoral. A acusação foi desmentida pela própria jornalista, que revelou a troca de mensagens de Whatsapp. A matéria foi base para o surgimento da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou o caso. Além de Hans River, a jornalista também entrou com processo contra o presidente Bolsonaro.
Esse é um exemplo do tipo de declaração que o presidente costuma dar quando está “protegido” em seu cercadinho. Ali era comum vê-lo mandar jornalistas “calarem a boca”, sob aplausos efusivos de seus apoiadores. A situação ficou tão fora de controle, no entanto, que em 25 de maio os grupos jornalísticos Band, Folha e Globo retiraram suas equipes da cobertura no local por alegarem falta de segurança para seus profissionais. Ao ser cobrado por ex-apoiadores em seu próprio “cercadinho”, o presidente começa a perceber que tem que prestar contas a todos os brasileiros — e não apenas àqueles que o apoiam.
Fonte: Fernando Lavieri/ISTOÉ
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