SEIS QUESTÕES SOBRE CORONAVÍRUS QUE INTRIGAM OS MÉDICOS



Nota do Editor: À medida que os pesquisadores tentam encontrar tratamentos e criar uma vacina para a covid-19, médicos e outras pessoas na linha de frente continuam a encontrar sintomas desconcertantes. E a própria doença tem efeitos imprevisíveis em várias pessoas.
O dr. William Petri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Virgínia (EUA), responde a perguntas sobre esses achados confusos.

Algumas evidências sugerem que os pacientes experimentam baixa saturação de oxigênio dias antes de aparecerem no pronto-socorro. Em caso afirmativo, existe uma maneira de tratar os pacientes mais cedo?
Mesmo antes do surgimento dos sintomas, as pessoas infectadas com SARS-CoV-2 apresentam danos nos pulmões. É provavelmente por isso que a baixa saturação de oxigênio – isto é, níveis abaixo do normal de oxigênio no sangue – ocorre antes de o paciente ir ao pronto-socorro. Presume-se que restaurar esses níveis ao normal, embora não seja comprovado, seja benéfico; fornecer oxigênio suplementar aos pacientes por meio de uma cânula nasal, um tubo flexível que fornece oxigênio, colocado dentro das narinas, restaurará o oxigênio a níveis normais, a menos que a doença piore a um ponto em que a ventilação mecânica seja necessária.

Jovens adultos estão tendo derrame com covid-19. Isso sugere que a covid-19 é mais uma doença vascular do que uma doença pulmonar nessa faixa etária?
A covid-19 pode ser uma doença devastadora para vários órgãos e sistemas do corpo, incluindo os sistemas vascular e imunológico. Uma infecção pulmonar é a principal causa de doença e morte. Existem exemplos em que o sistema de coagulação é ativado e causa derrames, algo provocado talvez por um sistema imunológico que responde anormalmente à covid-19.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA atualizaram recentemente sua lista oficial de sintomas. Isso sugere algo incomum sobre a covid-19?
Essa nova informação se deve a um número de indivíduos infectados sendo estudado. A atualização simplesmente reflete uma melhor compreensão de todo o espectro da doença atribuído à covid-19, de infecções assintomáticas a pré-sintomáticas e a infecções graves e fatais.

Como tantas pessoas podem experimentar sintomas tão leves e outras morrem rapidamente com isso?
Um dos aspectos mais fascinantes dessas doenças é a enorme diferença que os indivíduos experimentam com uma infecção. Em nossa própria pesquisa, descobrimos que muitas crianças nos EUA infectadas pelos parasitas Cryptosporidium parvum e C. hominis (causadores da criptosporidíase) não apresentam sintomas, mas esse parasita é o principal causador de mortes de bebês no mundo em desenvolvimento. Após uma infecção pelo SARS-CoV-2, a gravidade da doença provavelmente se deve em parte à forma como o sistema imunológico do paciente responde; uma resposta imune excessivamente zelosa pode causar a morte através do que é chamado coloquialmente de “tempestade de citocinas”. Ainda não sabemos se as tempestades de citocinas ocorrem mais em um grupo que em outro – por exemplo, mais velhas versus mais jovens.

A doença parece agora afetar vários outros órgãos – coração e rins, por exemplo. O que isso sugere?
O que sabemos com mais clareza é que a infecção começa apenas em células humanas com o receptor ACE2 – ou seja, em uma célula capaz de receber o vírus. Isso está presente não apenas nos pulmões, mas também em outras células, inclusive no intestino e na mucosa nasal, que reveste a cavidade nasal. Quando essas células estão infectadas, o sistema imunológico é ativado. Uma consequência é que o coração e os rins são afetados. Confira as respostas a estas e outras perguntas.

Por que alguns países não estão enfrentando tantos casos de covid-19 quanto os EUA, a Europa e a China?
Acho que é muito cedo na pandemia para saber se certos países ou populações são relativamente menos suscetíveis. A idade geral mais jovem de uma população pode ser um fator primário. Ou talvez o vírus, pelo menos até agora, não tenha tido tempo de se espalhar mais amplamente nesses países.

 * William Petri é professor de medicina na Universidade da Virgínia (EUA)
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons.


Fonte/Foto: Revista Planeta/ Mohsen Atayi - Wikimedia

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