BRASIL | BOLSONARO ASSINA PROJETO QUE PERMITE MINERAÇÃO EM TERRAS INDÍGENAS
Garimpo ilegal nas terras dos indígenas Kayapó, no Pará, em foto de 2015 |
Promessa
antiga do governo, texto prevê regulamentação do garimpo e da geração de
energia em reservas. Presidente diz que "índios são tão brasileiros quanto
nós" e que, se pudesse, confinaria ambientalistas na Amazônia. O
presidente Jair Bolsonaro assinou nesta quarta-feira (05/02) um projeto de lei
para regulamentar a mineração e a geração de energia elétrica em reservas
indígenas. A medida, que vem sendo estudada pelo governo desde o ano passado, é
rechaçada por entidades indígenas e ambientalistas.
O projeto de
lei será agora analisado pelo Congresso Nacional, onde precisa ser aprovado
pelo plenário da Câmara e do Senado, antes de ser sancionado pelo presidente.
A assinatura
do texto foi realizada durante uma cerimônia no Palácio do Planalto em
comemoração aos 400 dias de Bolsonaro no poder. Em discurso, o presidente
afirmou ser um "sonho" a liberação de reservas indígenas para a
mineração, promessa antiga de seu governo.
"Espero
que esse sonho pelas mãos do Bento [Albuquerque, ministro de Minas e Energia] e
dos votos dos parlamentares se concretize. O índio é um ser humano exatamente
igual a nós. Tem coração, tem sentimento, tem alma, tem desejo, tem
necessidades e é tão brasileiro quanto nós", afirmou Bolsonaro, ecoando
uma posição controversa sobre povos indígenas.
No mês
passado, o mandatário foi acusado de discriminação por diferentes organizações
indígenas devido a uma declaração semelhante. "Cada vez mais, o índio é um
ser humano igual a nós. Então, vamos fazer com que o índio se integre à
sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, isso é o que a gente
quer aqui", dissera ele em janeiro.
Nesta
quarta-feira, antes do presidente, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, também se pronunciou, comparando a medida com uma espécie de nova
"Lei Áurea".
"Pois
hoje, presidente, com sua assinatura, será a libertação, ou seja, nós teremos a
partir de agora a autonomia dos povos indígenas e sua liberdade de escolha.
Será possível minerar, gerar energia, transmitir energia, exploração de
petróleo e gás e cultivo das terras indígenas. Ou seja, será a Lei Áurea",
declarou o ministro.
A exploração
de minérios em terras indígenas é uma possibilidade prevista pela Constituição
de 1988, mas como nunca foi aprovada uma regra específica com critérios e
procedimentos, é hoje uma prática ilegal no país. "Nunca é tarde para ser
feliz, 30 anos depois", disse Bolsonaro.
O projeto do
governo visa regulamentar a exploração mineral e energética, como de petróleo e
de gás, em reservas. As comunidades indígenas terão poder de veto para a
atividade de garimpo, mas serão apenas consultadas previamente nos casos de
exploração energética, que inclui a construção de hidrelétricas e
termelétricas, por exemplo.
O texto
também permite que os próprios índios explorem economicamente suas terras por
meio de atividades como agricultura, pecuária e turismo, atualmente vetadas nas
reservas.
Desde que
Bolsonaro anunciou que seu governo estava se preparando para enviar o projeto
de lei ao Congresso, ONGs e especialistas vêm criticando a medida de exploração
econômica nas aldeias. O presidente chegou a ironizar ambientalistas nesta
quarta-feira, afirmando que, se pudesse, confinaria esses ativistas na Amazônia
para que parem de atrapalhar.
"Vamos
sofrer pressões dos ambientalistas? Ah, esse pessoal do meio ambiente, né? Se
um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio
ambiente. E deixem de atrapalhar os amazônidas daqui de dentro das áreas
urbanas", declarou.
Entre as
entidades indígenas contrárias à medida, está a Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), representante de 180 povos de nove
estados na Amazônia, que ocupam 98% da área de reservas indígenas no país.
A Coiab diz
ser contra a regulamentação da mineração, ainda que com autorização das
comunidades afetadas e compensações financeiras. Mario Nicacio, do povo
Wapichana, e vice-coordenador da Coiab, afirmou à DW Brasil no ano passado que,
para a maioria dos povos indígenas, o aspecto econômico não é prioritário, mas
sim os aspectos ambiental e cultural.
"Já
tivemos experiência com outros empreendimentos com compensações financeiras
[como construção de hidrelétricas]. Vimos que não compensa a destruição de um
rio, de uma serra, e coloca a vida dos povos indígenas em risco", disse.
Fonte/Foto: ISA Instituto Socioambiental/ DW - Deutsche Welle
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