ARTIGO | NÃO PODEMOS SER AVULSOS
-por Francis Augusto
Goes Ricken (*)
O modelo eleitoral
brasileiro não permite candidaturas avulsas, obrigando que os candidatos tenham
filiação partidária para concorrer a todos os cargos públicos. Em cargos
majoritários - presidente, governador, prefeito e senador - é preciso ser
filiado a um partido político, mas o candidato poderá alterar a legenda durante
o mandato sem perder o cargo. Em cargos proporcionais - deputados federais,
deputados estaduais e vereadores - os candidatos precisam de filiação
partidária, mas não podem se afastar da legenda durante o mandato, sob pena de
perder o cargo para legenda, exceto em casos de expulsão, perseguição
partidária ou criação de novos partidos.
Assim como o modelo
brasileiro exige, outros modelos possibilitam as chamadas candidaturas avulsas.
Adianto minha defesa enfática às filiações e fidelidade partidária. Acredito
que o modelo partidário e sua obediência, de alguma forma, organiza melhor as
estruturas políticas, e possibilita que o eleitor tenha uma forma de
identificar e responsabilizar suas escolhas.
Dificilmente veremos uma
disputa presidencial entre um grande partido norte-americano e um candidato
avulso, isso porque as candidaturas avulsas são muito custosas econômica e
politicamente. Dificilmente um candidato avulso consegue organizar as forças
políticas e uma gama de candidatos para viabilizar sua candidatura. Dentro do
modelo brasileiro, de presidencialismo de coalizão, dificilmente temos
condições de manter uma coalizão sólida, sem uma base partidária razoável.
Os partidos políticos têm
uma função primordial: possibilitam, de forma mais racional, a aglutinação de
forças políticas em torno de um candidato ou uma agenda política a ser
implementada. Se observarmos as votações ou encaminhamentos de uma sessão da
Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, verificaremos o impacto das
estruturas partidárias nas votações.
São os partidos que mantém
de forma mais estável o modelo de coalização dentro do Poder Legislativo. Seria
muito ingênuo acreditarmos que um político sozinho pudesse agradar a todos e
possibilitar a construção de um governo tão grande como o nosso, somente com
seu prestígio ou capacidade política. Acredito que a possibilidade de
candidaturas avulsas geraria instabilidades políticas e dificuldades na
construção de uma ideia das “elites políticas”.
Os maiores defensores das
candidaturas avulsas são os políticos que não se adequam aos modelos
partidários, ou que têm dificuldade de aceitar a organização dos partidos e sua
dinâmica de coalizão dentro do Congresso. Esses mesmos candidatos, não
adaptados, necessitarão dos partidos e do Poder Legislativo se tiverem que
exercer um mandato. Formação de base no Congresso e aglutinação de forças
políticas em prol de uma coalizão são primordiais para governos estáveis. As
candidaturas avulsas devem ser discutidas, mas é um ponto muito superficial
diante de outros problemas que já temos. Precisamos avançar dentro de
discussões como a democracia interna dos partidos políticos; convenções
partidárias mais efetivas e sérias e abertura das estruturas partidárias para
modelos mais democráticos. É por meio dessas discussões que os ambientes
partidários se tornarão mais abertos para entrada de grupos políticos capazes
de estruturar melhor nosso modelo democrático.
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