ARTIGO | BRASIL: A VOLTA DA IMPUNIDADE?????
Nesta quinta-feira, o
STF rediscutirá pela quarta vez nos últimos anos o tema da prisão em segunda
instância, adotada em mais de 190 países e ainda uma celeuma na terra das
apelações sem fim, que usualmente proporcionava aos criminosos de colarinho
branco condições de protelar indefinidamente seus processos.
Em todas as
discussões anteriores, o entendimento de que era possível a prisão após
condenação em segunda instância prevaleceu, o que deu grande impulso à Lavajato
e ao combate à corrupção. Os criminosos poderosos, enfim, estavam sendo presos
e viam-se diante de um estímulo para confessar seus crimes e delatar, situação
impossível em um quadro de protelação infinita.
A Constituição, mal
escrita, permite interpretação diversa, tanto que essa variou muito a respeito
do assunto nos últimos 30 anos. Ocorre que agora parece ter se formado maioria
absoluta à favor da impunidade dentro do STF, que possui em seus quadros notórios
detratores do combate à corrupção e defensores das políticas de celas abertas
para a bandidagem em geral, particularmente aquela posicionada no topo da
pirâmide social, que não estava habituada a pagar pelos seus crimes.
Uma solução
definitiva teria que vir do Congresso nacional, geralmente omisso, que poderia
votar uma emenda constitucional clara que não desse margem à qualquer
interpretação diferente da obrigatoriedade da prisão em segunda instância.
Engavetada por um ano, uma PEC nesse sentido foi reavivada essa semana, tarde
demais diante da iminente subversão do quadro a ser patrocinada pelo STF.
Não há dúvidas de
que se materializada essa mudança, estaremos diante do maior retrocesso da
história ocorrido no combate à corrupção, um verdadeiro nocaute à Lavajato, que
será humilhada com a soltura imediata de gatunos e lavadores de dinheiro como
Lula, Cabral, Cunha, José Dirceu, entre tantos outros.
Humilhados seremos
todos nós que um dia nutriram alguma esperança de que o Brasil estivesse de
fato mudando o rumo histórico que sempre o caracterizou, um país injusto onde
só pretos ou pobres são presos.
O STF, do alto de
sua soberba, da retórica verborrágica que camufla convicções pessoais
travestidas de defesa da carta magna, é capaz de justificar qualquer decisão
como constitucional, dado o emaranhado de leis que complica a vida do
brasileiro, exceto advogados. Ultimamente, a corte tem inclusive legislado,
atribuição que não lhe é conferida pela isonomia dos poderes. E se ela disser
que 2+2=5, ai de quem discordar. São seres supremos, ungidos pelo poder da
palavra final sobre qualquer assunto. Dâo pitaco até em briga de galo.
Não é de hoje que o
STF tem se mostrado um tribunal político absolutamente danoso ao dia a dia do
país. Convertido nos últimos 18 meses em STL, Supremo Tribunal do Lula, tamanho
o tempo dispendio com os recursos do ex-presidente preso, a corte claramente deu
uma guinada de direcionamento na gestão de Dias Toffoli, ex-funcionário do PT e
reprovado duas vezes em concurso para juiz, que assumiu a causa dos ex-colegas
e parece determinado em fazer o Brasil voltar ‘dez casas’.
O país, anestesiado
com a estagnação da economia e polarizado com as tretas continuas entre a
família Bolsonaro e seus opositores, parece não se dar conta da gravidade da
situação que se avizinha no horizonte. Não há sinais de mobilização que emita
uma mensagem vigorosa aos legisladores e juízes ‘supremos’. O asfalto está
frio. Quando o leite for derramado, será inútil lamentar.
Se a pressão
popular não faz efeito nos semi Deuses do STF, imunes ao voto e vitalícios,
certamente abala as estruturas do Congresso, dependentes de eleições.
A essa altura, com
uma iminente derrota no horizonte, a única alternativa que parece possível para
evitar o mal maior seria um pedido de vista, vindo de algum dos ministros
favoráveis à causa: Luis Barroso, Luiz Fux, Edson Fachin e Carmen Lúcia. A
estratégia, certamente antipática por ser protelatória, já foi muito utilizada
por Gilmar Mendes e Dias Toffoli, que engavetaram processos polêmicos por
muitos e muitos meses, sem o menor constrangimento. Trata-se de um recurso
legítimo, resta saber se algum desses ministros teria a coragem de fazê-lo, um
enfrentamento claro ao ‘establishement’, que suscitaria críticas de todos os
defensores do ‘status quo’. Com certeza, tal ação não seria imune a
represálias, pois alguns ministros já tem inclusive tomado decisões monocráticss
que contrariam o atual entendimento da Corte, comprovando a tese de que se
trata da Casa da Mãe Joana. Os rebeldes intensificaram as ações de soltura.
Por outro lado, ao
ganhar tempo, o Congresso poderia acelerar a votação da PEC e torná-la vigente antes
que o tema retornasse à pauta do STF. Nesse caso, aprovado um novo texto imune
à interpretações, caberia à Corte seguir a lei. Essa saída somente seria
possível com imensa pressão popular, uma vez que a oposição a essa ação é
grande: PT, PSOL e PCdoB esperneariam muito contra a tramitação dessa PEC,
segundo seu padrão usual de comportamento.
Trata-se de uma
fresta de oportunidade, improvável, mas possível. Se ela não ocorrer e não
houver nenhuma surpresa positiva no horizonte, teremos que nos acostumar com o
retorno da velho cenário de impunidade. Um país que a maioria absoluta da
população não quer, mas que nos será imposto goela abaixo pelos incriticáveis
ministros do STF.
Com a devida vênia,
cabe um sonoro palavrão. Esse mesmo que você pensou.
Fonte/Arte: por Victor Brasil, em Blog do Victor
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