OPINIÃO | SIM, O SHOPPING BOULVEVARD, EM BELÉM, TEM RESPONSABILIDADES SOBRE OS CASOS DE SUICIDIO QUE ESTÃO ACONTECENDO


- por Carlos Correia Santos (*)

Vamos falar aqui de um aspecto seríssimo a respeito do novo doloroso suicídio acontecido nesta terça no Shopping Boulevard, em Belém do Pará. Muita gente, querendo denender o indefensável, tem retrucado as argumentações sobre as responsabilidades do empreendimento com frases como "mas não é culpa do shopping... a pessoa que quer se matar, vai fazer isso em qualquer lugar". Bem... falta de entendimento conjuntural causa esse tipo de fala apressada mesmo. Mas vamos lá. Estamos falando de um shopping onde TRÊS SUICÍDIOS aconteceram com dinâmicas IGUAIS. Portanto, estamos falando, sim, de lugar. O lugar se tornou propício. O lugar oferece facilitadores e apresenta gatilho para pessoas que estão em busca de um cenário facilitador. Como especialista em Saúde Mental, obviamente sei que as causas do suicídio não são meramente espaciais. Mas locais podem e viram gatilhos. Portanto, é preciso estar ciente do quadro geral que envolve essa questão. O suicida é motivado por gatilhos, amparado por facilitadores e oferece sinais. Os gatilhos são de ordem subjetiva e não vou entrar aqui nessa questão. Quanto aos facilitadores, falamos de cenários que oferecem caminhos práticos para o ato: uma loja que vende armas sem critério, uma farmácia ou empreendimento de fórmulas químicas que não controla a venda de produtos envenenadores, um local que NÃO CUIDA DAS MURADAS NAS ESPECIFICAÇÕES QUE A LEI EXIGE PARA A SEGURANÇA DE TODOS. Nisso se enquadra o shopping Boulevard. As dimensões das muradas desse shopping, o excesso de vãos livres e mais o fato das muradas serem de material transparente permitindo a visualização do trajeto rumo ao chão. Aspecto que, inclusive, pode induzir a um gatilho. Para além disso, há a plena inabilidade social para aferir os sinais do suicida. Nese campo, podemos situar mais uma falha de segurança. Para que servem os fulanos que ficam circulando naquele shopping fardados? Apenas para ficar atrás de pessoas que podem furtar lojas? Não. Eles precisam ser qualificados TAMBÉM para lidar com o potencial suicida. Eles precisam estar próximos dessas muradas equivocadas, precisam monitorar comportamentos insinuantes nesses locais. Outra ação simples que o empreendimento podia fazer é uma campanha com peças, totens, banners enlaçadores e não apenas voltados para exaltar vendas e padrões estéticos irreais e que so vendem falsas felicidades. Não precisavam ser peças publicitárias explicitamente ligadas ao suicidio. Mas imagine o impacto positivo que teria algo como um imenso banner com a imagem de alguém estendendo a mão e dizendo: "estamos aqui e nos preocupamos com você... converse conosco". Essa mensagem serve para tudo e, em especial, para dores do vazio que a depressão (uma doença séria) impõe. Será que ações assim não teriam trazido conforto mínimo e contido gatilhos das pessoas que se lançaram ao sono naqueles vãos? Todo esse complexo de falta de cuidados é erro do Shopping Boulevard sabido e apontado há anos. Talvez você que diz que o local não tem responsabilidade não saiba por não ser de áreas de estudo ou não ter intento suicída. Então, antes de desqualificar apontamentos que são sérios sobre questões seríssimas, vamos nos informar mais tecnicamente.
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- (*) Carlos Correia Santos é Psicopedagogo Clínico e Musicoterapeuta, esp. Ed. Inclusiva, capacitador de pais e professores


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