ENCONTRO DAS ÁGUAS: NO ANIVERSÁRIO, POVO DECLARA AMOR A UM DOS SÍMBOLOS DE MANAUS


Ponto turístico tombado pelo Iphan, fenômeno já foi palco do casamento de astro do rock internacional e faz parte da vida dos manauaras
Uma das certezas da vida é que as águas dos rios Negro e Solimões se encontram, mas não se misturam. Um dos maiores cartões-postais da cidade, o mítico Encontro das Águas poderia muito bem ser considerado uma das novas maravilhas da natureza. O encantador fenômeno é um esplendor que só o Amazonas possui, singular, lendário e estupendo, se completando como num quebra-cabeça de tonalidades negra e barrenta.
O ponto turístico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cheio de singularidades e passagem obrigatória para quem visita o Amazonas. Em 1º de junho de 2005, o astro do rock Jack White, vocalista da banda White Stripes, casou-se com a cantora e modelo Karen Elson dentro de uma típica canoa em meio ao Encontro das Águas, com direito a benção de um pajé - horas mais tarde ele fez um show histórico junto com a ex-parceira de banda Meg White no Teatro Amazonas.
Em julho deste ano, uma visita real: Mako Akishino, neta do imperador Akihito e filha mais velha do príncipe Akishino, segundo na linha de sucessão imperial do Japão, fez um passeio de barco ao Encontro das Águas.
Encontros
Quem mora em frente ao ponto turístico nem sonha em sair de lá. Muito pelo contrário: o Encontro das Águas completou a vida de quem pedia a Deus, insistentemente, para viver em um local de paz e harmonia. Foi nele que o ex-motorista e comerciante Santino Santos Guimarães, 69, escolheu para viver com a família há 22 anos na casa localizada na rua Ernesto Costa, na Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste - onde administra um restaurante.
“Moro aqui há 22 anos e nunca mais adoeci. Estar aqui de frente para o Encontro das Águas é uma benção de Deus. Sempre pensei em passar minha velhice num lugar como esse, e Ele abriu os braços e me deu um pedaço desse rio para morar”, comentou ele, natural de Santarém (PA) e desde os 11 anos em Manaus.
O paraibano Francisco Rufino, 66, também tem o mesmo privilégio: ele mora há 13 anos na rua Beira-Rio, na comunidade 11 de Maio, Colônia Antônio Aleixo, defronte ao grandioso espetáculo.

“É o maior prazer morar aqui porque estou diante de uma perspectiva diferente. Sempre quis morar em um local onde houvesse peixe e muita água, e que certamente nenhuma bomba atômica pudesse cair. Ele me completa”, disse. Professor de Filosofia, ele contou que por diversas vezes parou para ficar olhando a beleza natural. “Só acho que seria necessário ter um  trabalho de remoção da lama da vazante”, destaca o mestre.
Susto
Todos os amantes do fenômeno amazônico levaram um susto no final de agosto deste ano: um vazamento de 1,8 mil litros de óleo combustível na margem esquerda do rio Negro, na área do porto Ceasa, orla do bairro Mauazinho, Zona Leste, se estendeu até o ponto turístico, mas, até o momento, não há notícias de consequências, digamos, mais danosas. Iniciativas como da ONG “SOS Encontro das Águas” mantém viva a luta e o pensamento de preservação do local.
O Encontro das Águas respira, pulsa, sobrevive. E que permaneça assim, pujente e resistente à ação do homem que agride o meio ambiente.
Porque as águas dos rios Negro e Solimões não se misturam?
Um dos maiores mistérios do fabuloso Encontro das Águas é porque as águas dos rios Negro e Solimões não se misturam. De acordo com a doutoranda em Ensino de Química Pâmela Nunes, esse fenômeno ocorre devido a composição química de ambos os rios, tais como temperatura e velocidade e, como eles não se misturam, ocorre o encontro das águas.
“Isso acontece devido à diferença de composição e acidez, aliada à temperatura e à velocidade das duas correntezas. O rio Negro carrega uma grande quantidade de matéria orgânica, o que dá o tom escuro à sua água, corre a cerca de 2 quilômetros por hora, mais ou menos, com uma temperatura de 28°C. Já o Solimões tem uma água de aspecto barroso e velocidade aproximada de 4 a 6 km/h a uma temperatura de 22°C. Assim ambos andam lado a lado, mas não se misturam”, explica a doutoranda em Ensino de Química.
Sem memorial
Projetado pelo consagrado arquiteto Oscar Niemeyer, em 2005, o que deveria ser o Memorial Encontro das Águas, ponto referencial para turistas assistirem aos jogos da Copa de 2014 (Fan Fest), é uma obra que ficou só na promessa. A área onde ele seria construído pertencia à Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), na Colônia Antônio Aleixo. O local é “frequentado” por ratos e urubus.
Personagem
A proprietária do hotel de selva Manati Lodge e guia de turismo, Marília Costa, destacou a importância turística do Encontro das Águas.

“Ele constitui um dos principais atrativos não só da cidade, mas como do Estado do Amazonas como um todo, e praticamente quase que a totalidade dos turistas que vêm a Manaus para fazer pacotes na selva inclui o Encontro das Águas como atrativo mesmo que o hotel de selva em que eles fiquem hospedados esteja do lado oposto”, comentou a guia de turismo.
A empresária e guia de turismo Marília Costa destacou a importância turística do Encontro das Águas. Foto: Reprodução
Segundo a empresária, os turistas que visitam o local ficam bastante impressionados com o fenômeno. “Eles ficam estupefatos, maravilhados, dizendo como que pode haver um fenômeno tão grandioso onde duas águas de extensões tão imensas não se misturam devido à velocidade, densidade e temperatura. Os turistas acham isso tudo fantástico”, ressalta ela.
Os portos do Centro da cidade e da Ceasa fazem trajetos com passagem pelo fenômeno.
Mergulhando em dois rios ao mesmo tempo
É no famoso Encontro das Águas que o produtor de eventos, Kussuda Ricardo, encontra a sintonia perfeita para relaxar nos momentos de lazer e quando ciceroneia artistas de outras cidades.
“Com certeza é um local especial sim por ser único. É um lugar único no mundo. Você tem esse encontro no maior rio do mundo, que é o Amazonas, no encontro do Negro com o Solimões”, destaca ele, que vai mais além no encanto pelo local.
 “Já me banhei no Encontro das Águas e de vez em quando dou uns mergulhos lá quando trago alguns humoristas, comediantes, artistas para lá. É um momento, também, de renovação porquê lá é um encontro completo com a natureza. Você acaba tomando banho de rio e tendo o fenômeno do rio Negro com o Solimões. E você consegue nitidamente perceber a diferença da água, a temperatura da água. É um dos momentos que você tem com a natureza de maior impacto”, disse Kussuda.
“Digamos que é um momento de sintonia perfeita. Um misto de sentimentos. Um dos passeios da Amazônia que eu mais gosto de fazer”, declara ele.

Fonte/Foto: Paulo André Nunes, em A Crítica Manaus/Márcio Silva

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