O TREM NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
- por Franssinete Florenzano
O trem do Pará não pode viajar na contramão da História
No
início de 2016, R$ 92 milhões - 71% dos R$126 milhões devidos ao Pará a título
de compensação pelos impactos ambientais causados pela UHE Belo Monte - foram
direcionados pelo governo federal ao Mato Grosso e ao Amazonas. Agora, os R$ 4
bilhões pela renovação por trinta anos da outorga da Estrada de Ferro Carajás,
da Vale, vão para a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, ligando o município
goiano de Campinorte até Água Boa, no Mato Grosso.
Eu
cantei a pedra no ano passado, e na época enfatizei que a diferença se o
dinheiro iria para lá ou viria para cá dependeria da mobilização e força da
classe política parauara. E da capacidade de união suprapartidária. Como de
tantas outras vezes em que o Pará foi preterido em seus legítimos interesses -
a exemplo da ausência de compensações pelas perdas bilionárias derivadas da Lei
Kandir -, todo mundo faz cara de espanto agora que Inês é morta. Mas, exceto
pelas inúmeras iniciativas do ex-secretário de Estado de Desenvolvimento,
Mineração e Energia, Adnan Demachki, que além de apelos em Brasília alertou os
parlamentares em várias reuniões e notas técnicas, as forças paraenses que se
dizem assim-assim com os manda-chuvas no Distrito Federal não moveram um
músculo em favor do Pará. E nesta hora dramática, ano eleitoral em que R$4
bilhões que poderiam alavancar o desenvolvimento regional nos escapam,
proliferam manifestos de indignação e revolta, como se fosse uma medida
inesperada.
Discursos
que não saem do papel são inúteis. Não há qualquer eficácia em notas oficiais,
postagens e vídeos circulantes nas redes sociais. Cabe aos políticos o mesmo
empenho que têm em Brasília ao disputar cargos: se uma vez na vida se unirem,
poderão ter força junto ao combalido presidente da República e aos
candidatíssimos presidentes do Senado e da Câmara Federal. Aos empresários,
acionar as poderosas entidades representativas em nível nacional. Ao governo,
exigir providências da Vale, que afinal de contas goza de diferimento
tributário junto ao Fisco estadual. É inaceitável que o povo paraense seja
obrigado amargar tamanha derrota, de novo. O trem do Pará não pode viajar na
contramão da História.
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