ARTIGO: MINHAS COPAS - 1990
A
Copa de 90, na Itália, tinha tudo para ser boa, mas foi péssima. Sem sombra de
dúvidas, a de pior nível técnico da história, com uma média de apenas 2.21 gols
por jogo, a mais baixa até hoje. Não bastasse, o Brasil fez a campanha mais
horrível de todos os tempos. A seleção teve um ótimo ano anterior, vencendo com
tranquilidade a Copa América em casa e tinha no elenco bons jogadores. Mas a
escalação do time titular fala por si: Taffarel, Ricardo Gomes, Mozer e Mauro
Galvão, Jorginho, Branco, Alemão e Dunga, Valdo, Careca e Muller. Uma equipe
com três zagueiros e dois volantes de marcação. Na reserva, contávamos com
Silas, Bismarck, Tita, Bebeto e Romário (recuperando-se de contusão). Era
previsível que tivéssemos muita dificuldade para marcar gols, só o técnico
Sebastião Lazaroni não enxergou.
Ultrapassamos
a primeira fase com três vitórias magras e sem convencer ninguém: 2×1 na
Suécia, 1×0 na Costa Rica e 1×0 na Escócia. Por um azar do destino, enfrentamos
a repescada Argentina, classificada na bacia das almas, já nas Oitavas. Na
única partida em que o Brasil jogou bem, com amplo domínio em todo tempo, em um
descuido de marcação sobre Maradona, ele descolou um lançamento para o cabeludo
Caniggia, que frente a frente com Taffarel, não perdoou. Dessa vez, voltávamos
para casa muito mais cedo.
A
Argentina seguiu aos trancos e barrancos até a final, passando nos pênaltis por
Iugoslávia (em sua última participação em Copas como país unificado) e Itália
(depois de um 1×1 em 120 minutos) para enfrentar a Alemanha, que também havia
despachado a Inglaterra nos pênaltis (1×1 no tempo normal). Era a terceira
final seguida dos germânicos, agora unificados, contra a mesma Argentina que os
havia derrotado na Copa anterior. Daquele confronto, sairia mais um tricampeão,
e foi a Alemanha, com um gol de pênalti aos 39′ do segundo tempo.
Incrivelmente,
tenho poucas lembranças dessa Copa. A melhor das recordações é a seleção de
Camarões, que chegou às quartas de final e terminou eliminada pela Inglaterra.
Foi o torneio da retranca, onde as defesas superaram os ataques. Nesse tempo,
já morava em Campinas, onde cursava o primeiro semestre de Engenharia Elétrica
na Unicamp e estava mais preocupado com as provas finais de Cálculo e Geometria
Analítica.
O
Brasil vivia um inferno astral. O plano Collor, do recém empossado presidente
com aquilo roxo, estava indo a pique. A novata Zélia Cardoso de Melo, ministra
da economia, se apaixonou pelo então ministro da justiça Bernardo Cabral. O
caçador de marajás tornara-se um alcoviteiro. No seu ano de estreia na
presidência, o PIB caía mais que 4%. Não tinha como dar certo.
O
mundo observava o fim da era Thatcher e a primeira guerra do golfo, represália
americana à invasão do Kwait pelo Iraque. Ayrton Senna conquistava o
bicampeonato de F1, era a exceção de um Brasil que dava errado. O Corinthians
tornou-se campeão brasileiro pela primeira vez, sob a liderança de Neto, e
deixava de ser um time provinciano. Os roqueiros de 1986 deram lugar aos
sertanejos, Chitãozinho e Xororó levam o estilo musical a outro patamar, com o
clássico ‘Evidências’, cantado até hoje em bares e festas por todo país.
Entrei
de férias em Julho de 1990 livre de cálculo I, Geometria Analítica e da Copa.
Oito anos antes, havia chorado muito a eliminação do Brasil, era um guri de
nove, e agora havia dito alguns xingamentos e dei de ombros. Na próxima,
estaria me formando e o Brasil, pasmem, finalmente iria tirar o pé da lama, no
futebol e na economia. O tempo entre Copas realmente pode mudar tudo.
Fonte/Fotos: o post Minhas Copas: 1990
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