DENÚNCIA: INVASÕES DE TERRAS E LAGOS PÕEM EM RISCO A SOBREVIVÊNCIA DE COMUNIDADES RURAIS DE SANTARÉM-PA
![]() |
Anísio Azevedo Pires, da comunidade São sebastião, expôs preocupação com assoreamento de igarapés e pesca predatória |
O assunto foi tema de debates na manhã desta terça-feira, na
Colônia de Pescadores Z-20. Conselhos de Pescam cobram fiscalização mais
rigorosa.
Conflitos
pesqueiros em comunidades rurais do município de Santarém, oeste do Pará, têm
tirado o sono de comunitários que não conseguem sozinhos impedir a entrada de
geleiras e a pesca em larga escala, em total desrespeito aos acordos de pesca.
O assunto foi tema de debate em reunião realizada na manhã desta terça-feira
(15), na sede da Colônia de Pescadores Z-20.
O
encontro reuniu representantes de 11 conselhos de pesca do Baixo Amazonas,
diretoria da Colônia Z-20, a secretária municipal de Meio Ambiente Vânia
Portela e o chefe de fiscalização da Semma, Arlen Lemos.
Segundo
o pescador Manoel Pinheiro dos Santos, do Conselho de Pesca do Urucurituba,
devido à região ser próxima da cidade, nessa época de enchente dos rios o
acesso às “bocas” de lagos fica mais fácil, intensificando os conflitos
pesqueiros. Os pescadores nem sempre são da região, são de outras áreas e não
respeitam as normas para pesca nos lagos.
Escassez de pescado
Manoel
Pinheiro ressaltou que os comunitários não conseguem fazer fiscalização em toda
a área, e percebem que o município não tem um planejamento de fiscalização
específico para pesca. “Infelizmente, essa fiscalização em geral só ocorre
quando os conselhos de pesca vêm até a cidade expor o problema e solicitam. As respostas
aos conflitos e à pesca predatória demoram a chegar”, disse.
Ainda
segundo o comunitário, a cada ano que passa diminui a quantidade de espécies
nos lagos da região em função da pesca predatória. “O Urucurituba era muito
abastecido de peixes lisos, principalmente mapará e fura-calça. Mas essas
espécies estão ficando muito escassas devido à invasão de geleiras que vêm em
busca do peixe liso. Há um exagero no uso de malhadeiras”, declarou.
Na
região do Maicá, muitos conflitos relacionados à pesca e ao desmatamento em
áreas de igarapé tem alterado o modo de vida dos comunitários, como relatou o
comunitário Manoel Batista da Rocha, da comunidade Ipaupixuna. “São vários os
problemas que nós temos na região do Maicá. Além da pesca predatória, nós temos
o desmatamento, o agrotóxico, e conflitos diretos, com ameaças aos
comunitários. A gente vive preocupado com essa situação. O próprio Ministério
Público Federal é sabedor, a Semma também. As comunidades indígenas e
quilombolas, Ipaupixuna, Tiningu, Murumuru, Cavada e Amparador, estão vivendo
uma situação muito conflituosa tanto nas áreas de rios quanto de floresta”,
relatou.
A
titular da Semma, Vânia Portela, reafirmou o compromisso firmado com as
comunidades, de uma fiscalização mais presente. “A gente tem feito vários
encontros na secretaria, temos feito várias visitas em comunidades da região de
rios e da cidade, e o órgão ambiental está aberto a ouvir as comunidades e
promete intensificar a fiscalização, principalmente nessa época de cheia que é
quando mais ocorre invasão dos lagos para pesca predatória. Reafirmar o
compromisso da Semma na fiscalização e combate à pesca predatória”, frisou.
Estudo
Durante
a reunião, foi apresentado um estudo elaborado pela Sociedade para a Pesquisa e
Proteção do Meio Ambiente (Sapopema) a partir de monitoramento dos lagos do
Baixo Amazonas e oficinas participativas.
O
estudo apontou que em praticamente toda a região do Baixo Amazonas a pesca
predatória tem ocorrido com frequência e resultado em graves conflitos e
ameaças para as comunidades.
“Através
de monitoramento e de oficinas participativas, nós temos identificado que o
conflito de pesca está em toda a região onde as comunidades estão com os
acordos de pesca organizados, fazendo a conservação, de tal forma que é preciso
que haja uma atuação mais efetiva da fiscalização, porque onde a fiscalização é
fraca ou deixa de acontecer, os conflitos intensificam e isso cria um conflito
para a comunidade”, disse o coordenador da Sapopema, Antônio José Bentes.
Para
o coordenador da Sapopema, é importante uma atuação em parceria do poder
público com a sociedade para minimizar os conflitos e contribuir para a
comunidade que está lutando para preservar o recursos para a toda a população
da região.
“Nós
estamos desenvolvendo um trabalho de discussão com as comunidades da região de
várzea não só do município de Santarém, mas de todo o Baixo Amazonas,
entendendo a problemática da pesca e a partir desse processo nós estamos
elaborando um plano de desenvolvimento da pesca na região. Temos propostas para
como enfrentar o conflito que está em torno dos recursos pesqueiros da região”,
finalizou Antônio José.
Fonte/Foto: Silvia Vieira - G1 Santarém/Júlio
César Guimarães - Ascom Semma - Divulgação
Nenhum comentário:
Postar um comentário