ARTIGO: UMA GREVE, UM GOVERNO MORIBUNDO, UM PAÍS A ‘DEUS DARÁ’
A greve dos caminhoneiros escancarou alguns problemas crônicos
brasileiros, infelizmente sem solução à vista.
Primeiramente,
qualquer cidadão tem direito a se manifestar. Sob esse aspecto, é legítimo
fazer uma greve. O que não pode ocorrer é uma categoria ou grupo de pessoas
privar outros indivíduos do direito de ir e vir. Trata-se de ação tipicamente
adotada pelos MTSTs e CUTs da vida, amplamente criticadas nesse espaço. No
momento em que os caminhoneiros resolvem bloquear estradas, jogam a sua
legitimidade na lata do lixo. Há uma grande dificuldade no Brasil de se
entender que a sua liberdade termina onde começa a do vizinho. Não é a
primeira, nem será a última manifestação nociva ao bem estar comum, temos uma
certa inclinação para arbitrariedades.
O
transporte rodoviário representa quase 70% da movimentação de cargas no Brasil.
Essa dependência excessiva é consequência de séculos de falta de planejamento.
Em qualquer atividade, o risco é proporcional à concentração. Diminuí-lo
significa estimular os transportes ferroviário, fluvial, marítimo, aéreo. No
mínimo, seriam gerações de espera.
O
governo da mais inepta, em sua cruzada intervencionista, subsidiou a aquisição
de caminhões a rodo, e o resultado não poderia ser diferente: excesso de oferta
de serviços. Com a economia raquítica, a demanda caiu drasticamente e em uma
situação de aumento de preços de combustíveis, adivinhem quem ficou do lado
mais fraco da equação? Sempre que o estado se mete a intervir arbitrariamente
na economia, os efeitos colaterais serão sentidos, cedo ou tarde.
Com
o barril de petróleo em alta no mundo, o preço da gasolina sobe em qualquer
lugar. Ocorre que aqui a Petrobrás resolveu adotar uma política de reajuste
diário, conforme variação dos custos. E quem está na praça para desafiar as
ações da empresa? Ninguém. Eis uma consequência clara de um monopólio, que até
nem é obrigatório por lei desde 1997, mas quem se aventura em um ecossistema de
pouca previsibilidade onde o governo detentor do controle da maior empresa do
setor dita as regras? Na prática, seguimos reféns de um monopólio e nos
orgulhamos disso. Uma das consequências dele é que experimentamos repasses na
alta, mas raramente ocorrem reduções na baixa…
Impostos
constituem 44% do preço das gasolina e quase 30% do diesel e alimentam a
voracidade coletora dos governos federal e estaduais, que em situação
financeira precária, sofreriam na carne com a decisão de reduzi-los. Para que
isso pudesse acontecer sem grandes danos, governos
deveriam
gastar menos, o que necessariamente implica em tomar decisões impopulares, algo
pouco factível em ano eleitoral e sob gestão recordista em rejeição. Quando o
governo, desesperado para manter o déficit público no estratosférico nível de
R$ 160B, abre mão de um imposto aqui, haverá alguma contrapartida acolá, pois
almoço grátis não existe. E se o barril do petróleo continuar a subir, os
efeitos da medida serão breves.
Como
não podia deixar de ser, entre as reinvidicações dos grevistas temos um
subsídio e a criação de um fundo de amparo à categoria. Confesso que me irritei
ao ler a notícia, divulgada no portal da revista Exame. O brasileiro não perde
a chance de pedir a sua boquinha ao grande estado babá. Aqui não se entende que
subsídios, fundos e toda sorte de beneficios que se concedam a uma categoria
são bancados pelos pagadores de impostos. Temos o paradoxo de se requisitar o
fim de um imposto em uma ponta, e o aumento de gasto na outra. Infelizmente, é
versão difundida no imaginário popular que o estado tem orçamento infinito e a
obrigação de ajudar todos os setores da economia indistintamente.
O
governo moribundo acabará cedendo às exigências dos grevistas, em maior ou
menor escala, em um evidente sinal de fraqueza. Pode ser o estímulo para outras
categorias usarem das mesmas artimanhas e finalmente teremos o caos tão desejado
por muitos, um aperitivo de Venezuela continental. Pode não chegar a tanto,
principalmente pelo fato de que resta pouco mais de seis meses para o fim dessa
esculhambação. Possivelmente nas condições em que se encontra, não resta ao
paciente terminal outra alternativa além das concessões, uma vez foi sua
inabilidade e incompetência que permitiram que a situação chegasse a esse
ponto. Esse governo, que finda melancolicamente nesse evento, tem a sorte de
estar em seu crepúsculo. Houvesse mais tempo, fatalmente seria impichado como o
da sua antecessora.
Qual
a serventia de uma estatal que é esfolada por um governo em um período, como
fonte primária de corrupção e maquiagem da inflação, quase levada à bancarrota,
e que na sequência, para tirar o atraso de anos de opressão, age como se suas
ações monopolistas não tivessem efeito em todo ciclo econômico? Em ambas as
situações, o ônus é do contribuinte. Está na hora de questionar esse modelo. Um
sistema onde vários possam competir sob o monitoramento de um regulador seria
muito mais saudável, apesar de parecer infâmia aos estatistas de plantão.
Nesse
breve período, foram bilhões em prejuízo, com o caos diante de nós caso a
situação persista. Nos últimos anos, vários sintomas de que o país está doente
foram registrados em exemplos nas mais diversas áreas. Esse é apenas mais um
deles. Nada disso ocorreria em um lugar minimamente são. Estamos a ‘Deus dará’,
sem nenhuma liderança que possa aproveitar o momento de crise e capitanear uma
transformação. Haja fé e resiliência.
Fonte/Foto: o post “Uma greve, um governo moribundo,
um país a ‘Deus dará” apareceu primeiro em Blog do Victor.
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