ARTIGO DEDOMINGO: QUANDO A GUERRA CIVIL SERÁ RECONHECIDA?



- por Lúcio Flávio Pinto (*)

Quatro policiais militares morreram e dois foram feridos, todos a bala, em confrontos diretos, durante operações de rua, ou assassinados em outras ações violentas neste ano na região metropolitana de Belém. A estatística não inclui um PM morto em instrução interna.
Um morreu em confronto com criminosos, dois foram mortos durante assaltos e um foi executado dentro do próprio carro. Dá a média de um morto por semana. A grande Belém possui em torno de dois milhões de habitantes.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, com seis vezes mais habitantes, foram mortos 10 PMs. No Rio, como se sabe, há uma guerra não declarada entre as forças de segurança do Estado e os traficantes. Em Belém, não há. Mas é como se houvesse.
Nenhum dos assassinatos foi até agora esclarecido ou os assassinos presos. As autoridades de segurança pública sequer fizeram uma declaração oficial a respeito. Nem as condições de trabalho dos policiais, militares ou civis, se modificaram. A ausência de resultados concretos e o silêncio espantam, chocam e revoltam.
Assim, não surpreende a cena do dia 23, registrada em vídeo postado na internet. . O governador Simão Jatene cumpria agenda oficial no bairro Jardim Sideral, quando, foi abordado por uma mulher, que se identificou como cabo da Polícia Militar. Muito exaltada, aos gritos, cobrou providências, acompanhando o governador, que ouvia em silêncio:
“Por que quando tá na política pode falar alto e agora tem que falar baixo? Eu não tô ofendendo, eu sou contribuinte. Uma providência tem que ser tomada, senhor. Nós enterramos cinco irmãos em 15 dias. Faltam 11 meses para acabar o ano”.
Ela também comparou o Pará ao Rio de Janeiro: “O Rio enterrou 107 policiais em 12 meses e nós enterramos cinco irmãos em 15 dias. Eu sou policial também e esse secretário tem que sair”, referindo-se ao general Jeannot Jansen da Silva Filho, da Segup,
Ela sugeriu ao secretário que “peça para sair” caso não seja demitido. “Aqui é o Pará, não é o Rio de Janeiro. Esse secretário não conhece a nossa realidade”. A secretária de  Administração, Alice Viana, tentou acalmar a jovem. Sem muito sucesso.
Em 2017 foram mortos foram mortos 34 policiais militares, dando um PM assassinado a cada 10 dias. A média passou para sete neste início de ano. Rio.
Vai continuar assim? Ou vai piorar?


(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.
Tem 21 livros individuais publicados, todos sobre a Amazônia, os últimos dos quais Amazônia Decifradada e A Questão Amazônica. É co-autor de numerosas outras publicações coletivas, dedicadas à Amazônia e ao jornalismo.

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