CINCO ANOS APÓS APROVAÇÃO, CÓDIGO FLORESTAL MOSTRA POUCOS AVANÇOS, APONTA ESTUDO
Pesquisa feita pelo Observatório do Código Florestal avalia que
somente um dos 14 pontos para implementação de novo código andou de forma
satisfatória em meia década de existência
Aprovado
em 2012 com a grande promessa de conciliar conservação ambiental com produção
agropecuária e desenvolvimento socioeconômico, o novo Código Florestal ainda
não atendeu as expectativas. De acordo com um estudo feito pelo Observatório do
Código Florestal, somente um de 14 pontos fundamentais para a implementação do
novo Código Florestal andou de forma satisfatória nestes cinco anos de
existência. Na avaliação de especialistas da área, os avanços realmente foram
insuficientes.
Para
o pesquisador sênior Mariano Cenamo, do Instituto de Conservação e
Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), o reflexo dos avanços do
Código Florestal pode ser observado em duas frentes. A primeira, na dinâmica do
desmatamento. “Um indicador importante sobre o sucesso na implementação do
código na Amazônia seria de que teríamos sucessivas reduções na taxa de
desmatamento, infelizmente isso não aconteceu. O que vemos é que está havendo
uma retomada do crescimento dessa taxa”, lembrou.
E
a segunda, na dinamização de atividades produtivas sustentáveis, que também não
avançou muito. “A criação de incentivos econômicos para conservação de
florestas, seja via as cotas de reserva ambiental, que foram levantadas como a
grande promessa de incentivo para conservação de floresta no Código Florestal,
praticamente não saiu do papel. Outro ponto é a regulamentação do artigo 41,
que previa a criação de um sistema de pagamento para serviços ambientais e
incentivos para conservação de floresta, que nós não tivemos”, apontou Cenamo.
Falta prática
Na
avaliação da engenheira florestal Fiorella Chalco, professora da Universidade
do Estado do Amazonas (UEA), no ponto de vista da lei, o novo Código Florestal
foi ótimo porque determinou regras que evitam o desmatamento e trouxe avanços
na conservação de mata nativa ao permitir maior fiscalização, monitoramento e propor
planejamento, além de levar informações de controle, estratégias para
proprietário e sociedade como um todo. “É uma ferramenta eficaz, mas sua
complexidade acaba dificultando o seu cumprimento”, observa.
Para
ela, cinco anos é um bom tempo, mas nem todo os programas do Código Florestal
foram regulamentos e implementados neste período. “Além do problema de sua
complexidade, não conseguimos recursos e estratégias para implantar
efetivamente o código”, indicou. “O programa de incentivo econômico do proprietário,
pelo fato de não ser regulamentado e nem implementado, não oferece ao produtor
rural condições de obedecer à legislação, por exemplo. Com ele, o produtor vai
receber capacitação e ajuda financeira para entender a plantar de forma sem
desmatar”, acrescenta.
Cadastro de imóveis rurais
O
único ponto que caminhou bem desde 2012 foi a inscrição de propriedade rurais
no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), de acordo com o estudo
do Observatório do Código Florestal. Até 31 de dezembro de 2016, mais de 3,92
milhões de imóveis rurais, totalizando quase 400 milhões de hectares, foram
inseridos na base de dados, segundo o Serviço Florestal Brasileiro, que faz a
gestão do sistema.
Porém,
o estudo mostra que o próprio sistema ainda precisa avançar em outros pontos,
com a análise dos cadastros com base nos programas estaduais de regularização
ambiental – que, por sua vez, existem em apenas em 15 Estados, dos quais dois
foram suspensos.
A
análise ainda indica o atraso na definição de regras para cotas de reserva
ambiental, um mecanismo financeiro previsto no Código Florestal, e para
atividades produtivas em áreas de preservação permanente; na interação com
outras políticas públicas, como zoneamento ecológico-econômico e programa de
conversão de multas; e em mecanismos de transparência, ainda que a divulgação
de dados vetoriais do Sicar em novembro seja um avanço nesta área.
Para
o pesquisador de política ambiental do Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia (Ipam), Tiago Reis, é preciso acelerar a regulamentação de
instrumentos importantes, como os ligados a incentivos econômicos. “Sem avanço,
perdem todos aqueles que agiram corretamente, dentro da lei”, destacou.
É lei
A
Lei 12.651, de 25 de Maio de 2012, conhecida como novo Código Florestal,
estabelece normas para proteção da vegetação nativa em áreas de preservação
permanente, reserva legal, uso restrito, exploração florestal e assuntos
relacionados.
Desafios ou oportunidades
Para
o pesquisador sênior Mariano Cenamo, o grande desafio, que tem uma enorme
oportunidade para ser superado, é abrir novas frentes de financiamento ou novas
frentes de captação de recursos para poder investir na implementação do novo
Código Florestal. “Toda essa agenda de incentivos econômicos ou de mecanismos
de incentivo positivo para a conservação de florestas ou para recuperação de
áreas degradadas é fundamental para atingir essa meta”, aponta.
Ele
lembra que o plano de metas que o Brasil elaborou para cumprir o Acordo de
Paris prevê eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia, reflorestar 12 milhões
de hectares de áreas degradadas, implantar práticas de melhorias de pastagens,
entre outras. “Para o Amazonas a grande oportunidade é a utilização de
mecanismos financeiros para a conservação de florestas, como por exemplo, pela
regulamentação do REDD+ e a utilização de cotas de reserva ambiental”, avalia.
A
engenheira florestal Fiorella Chalco, elenca alguns pontos importantes para o
avanço na implementação do código, como fazer proprietários rurais compreender
a legislação para que possam cumpri-la de forma eficaz. “É um desafio no
Amazonas porque para chegar aos ribeirinhos e as comunidades mais distantes e
mostrar a lei, o que o cidadão tem direito e o que não pode fazer é difícil”,
observa, destacando a necessidade de conseguirmos realizar um levantamento
total das áreas florestais.
Outros
pontos de destaques, conforme ela, é adquirir recursos para poder monitorar e
fiscalizar essas áreas, tornar rentável a reposição da vegetação com
aproveitamento de produtos florestais madeireiro e não madeireiro, engajamento
político, trabalho conjunto entre governo, setor primário e comunidade,
realização de projetos informativos para produtor rurais, promover educação
ambiental e aumentar as parcerias com bancos, institutos de pesquisa e
universidades.
Além
de incentivar a criação de cooperativas de produtores rurais. “Elas existem em
vários municípios e onde tem uma a coisa funciona, pois ela tem força de chamar
pesquisadores para explicar o que acontece e com isso os produtores podem
trabalhar de forma correta e sensata sabendo o que estão fazendo”, destacou
Fiorella. Ela também ressalta a aquisição de imagem de satélites de grande
escala, pois muitas vezes não se consegue saber de quem é propriedade que está
sendo devastada.
Fonte/Foto: Silane Souza – A Critica/Show

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