ESPECIALISTAS AVALIAM MANEJO SUSTENTÁVEL PARA A CAÇA DE SUBSISTÊNCIA NO AMAZONAS
Para formular a estratégia é preciso ter dados substanciais de
pesquisa sobre as espécies, como taxas reprodutivas, estimativa populacional e
taxas de abate
Uma
rede de especialistas de diversas instituições esteve reunida na última semana
para discutir a caça de subsistência em unidades de conservação do Amazonas. Um
dos resultados foi a proposta de estruturação de um modelo de manejo
sustentável, nos próximos anos, com base nos resultados de pesquisas
científicas já realizadas na região.
A
pesquisadora do Instituto Mamirauá, Lísley Gomes, participou do encontro e
comentou que, os estudos demonstraram que a caça para subsistência acontece em
muitas áreas protegidas, apesar da legislação barrar a atividade em unidades de
conservação de uso integral. Lísley ressalta que outras pesquisas já
demonstraram que, pelo menos, 150mil toneladas de mamíferos são caçados na
Amazônia a cada ano.
"Esta
ainda é uma situação sensível, porque a gente sabe que existem populações
humanas totalmente dependentes deste recurso para sobrevivência. Além disso,
outros cultivos, como a pecuária, podem degradar mais o ambiente do que uma
atividade de caça controlada. Então, a atividade existe, pessoas dependem dela
e outras atividades podem ser mais deletérias ao ambiente. Por isso, a solução
que propomos é o manejo adaptativo", explicou Lisley.
De
acordo com a pesquisadora, essa estratégia, para o controle das atividades de
caça, sugere que o uso e extração de recurso natural poderia ser modelado, ao
longo do tempo, a partir dos dados gerados por monitoramento e pesquisa
científica.
Para
formular um modelo de manejo sustentável de recursos naturais é preciso ter
dados substanciais de pesquisa sobre a espécie, como taxas reprodutivas,
estimativa populacional e taxas de abate. O Instituto Mamirauá realiza há 14
anos o monitoramento da caça na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã.
Por
meio desse monitoramento, os pesquisadores conseguiram reunir uma série
histórica de dados sobre as espécies tradicionalmente mais caçadas, as técnicas
e apetrechos mais utilizados pelos comunitários, o local e o tempo empenhado
para a atividade até o encontro com o animal abatido, entre outras informações.
Os comunitários também fazem doação de material biológico, como penas, ossos,
cascos e vísceras para pesquisa científica.
Paralelamente
ao monitoramento da caça, também são desenvolvidas pesquisas com foco no estudo
da ecologia e biologia de animais cinegéticos, ou seja, espécies preferidas
para caça, que já resultaram em dados sobre a abundância das espécies na
região, assim como informações sobre reprodução, que podem subsidiar um modelo
de manejo que não tenha impactos negativos nas populações das espécies caçadas.
Além
da pesquisa desenvolvida por Lísley no Instituto, que estuda os padrões
espaciais da caça de vertebrados terrestres nas Reservas Mamirauá e Amanã,
também estão em andamento outros projetos, como o estudo da ecologia e
conservação de cutias na Reserva Amanã, e da conservação de guaribas
suscetíveis à caça nas duas unidades de conservação. O Instituto também possui
dados de pesquisa já obtidos em anos anteriores, como é o caso do estudo com
pacas.
Esses
projetos contam com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) para o pagamento de bolsas de estudo.
Resultados
O
monitoramento do Instituto Mamirauá demonstrou que a paca, a cutia e o guariba,
primata encontrado na região, são as espécies mais caçadas na Reserva Amanã. O
Sistema de Monitoramento de Uso de Fauna contabilizou, de 2002 até o início
deste ano, o abate de mais de 14mil kg destes animais em três comunidades
monitoradas pelo projeto.
A
pesquisadora argumenta que a adequação da legislação é o grande desafio para a
regularização da caça em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, em que
comunidades tradicionais podem viver e sobreviver dos recursos naturais da
região.
“A
caça, especialmente na Amazônia, é negligenciada. Como houve uma pressão muito
forte e a extinção local de espécies cinegéticas em outras regiões do país, a
partir da década de 1960, regras de proteção dos recursos naturais acabaram
sendo apropriadas para locais onde ainda existem animais e uso para
subsistência, como é o caso da Amazônia. Esses modelos da legislação foram
generalizados. Por isso, onde ainda existem estoques favoráveis para uso da
fauna o manejo poderia ser adotado”, comentou Lisley.
Seminário
A
proposta favorável ao desenvolvimento de um modelo de manejo sustentável surgiu
no encontro “Caça de Subsistência em Áreas Protegidas no Amazonas”, organizado
pela WCS Brasil. O evento propôs a formação de um grupo de trabalho, composto
por especialistas, para apresentar e discutir o cenário atual, a legislação
brasileira sobre o assunto e os desafios para o manejo.
Além
de Lísley, também participaram do evento o diretor Técnico-Científico do
Instituto Mamirauá, João Valsecchi Amaral, que apresentou a palestra
“Governança em áreas de manejo de fauna”. E a veterinária Louise Maranhão, que
apresentou os resultados da pesquisa realizada no Instituto sobre zoonoses e os
aspectos sanitários no uso da fauna.
Fonte: Portal Amazônia, com informações
do Instituto Mamirauá

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