JUSTIÇA LIBERTA ÍNDIO PORÓ BORARI, PRESO EM MANIFESTAÇÃO PELA SAÚDE INDÍGENA EM SANTARÉM-PA
Poró Borari foi preso ao se manifestar pela saúde indígena em
Santarém
Atendendo
a um pedido do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da
União (DPU), a Justiça Federal de Santarém libertou hoje (10) o índio Poró
Borari, que havia sido preso em flagrante pela Polícia Federal ontem, acusado
de manter em cárcere privado funcionários da Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai). A prisão aconteceu durante uma manifestação de índios de 13
etnias da região do baixo Tapajós e Arapiuns, que ocuparam a secretaria em
protesto pelo direito à assistência de saúde, atualmente negado para esses
povos.
Após
a ocupação da Sesai pelos índios, agentes do departamento da Polícia Federal em
Santarém chegaram ao local e acusaram Adenilson Alves, o Poró Borari, de ser
líder do movimento. Também o acusaram de ser responsável pelo cárcere dos
trabalhadores da Sesai, apesar da secretaria estar funcionando normalmente, com
os servidores trabalhando e de portas abertas. Mesmo assim, Poró Borari foi
levado para o presídio e celulares de dois manifestantes que filmavam a ação da
PF foram apreendidos sem ordem judicial.
“A
acusação que pesa sobre o indiciado não encontra respaldo fático. Adenilson
Alves não se afigura líder de qualquer ato ilegal. Não houve qualquer comando
expresso de proibição de livre circulação de pessoas, sejam elas usuárias,
servidoras ou prestadores de serviço no órgão”, dizem a defensora pública da
União Ingrid Soares Leda Noronha e o procurador da República Camões Boaventura
no pedido de liberdade em favor de Poró Borari.
Para
MPF e DPU, “um fato é inequívoco: a prisão e a abordagem da Polícia Federal foi
de todo ilegal. Partiu-se de ilações desacompanhadas de realidade”. “O ato policial merece reprimendas”, diz o
pedido de liberdade. A defensora pública e o procurador acompanharam a autuação
do indígena dentro da delegacia da Polícia Federal e relataram à Justiça que,
durante o interrogatório, a autoridade policial fez perguntas tendenciosas e
manifestações jocosas.
Boaventura
e Noronha ressaltaram ainda que Poró Borari não tem passagem pela polícia, é
estudante da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e pai de duas
crianças, que dele dependem financeira e emocionalmente.
A
MANIFESTAÇÃO
A
reivindicação dos índios na Sesai, para o MPF e a DPU, é legítima e mais do que
respaldo legal, tem respaldo judicial. A assistência diferenciada à saúde
indígena é um direito e a Sesai tem negado esse direito às etnias Borari,
Arapyun, Maytapu, Cara-Preta, Jaraqui, Tapajó, Kumaruara, Tupinambá, Apiaká,
Munduruku, Tupaiú, Arara Vermelha, Tapuia que moram no baixo Tapajós e
Arapiuns. A justificativa da Sesai é que são índios que não moram em terras
indígenas.
A
justificativa não tem fundamento nenhum no ordenamento jurídico brasileiro e a
própria Justiça Federal de Santarém reconhece isso. Em janeiro desse ano, a
pedido do MPF, a Justiça obrigou, no processo nº 2096-29.2015.4.01.3902, que a
Sesai passasse a ofertar o atendimento diferenciado. Quase oito meses depois, a
Sesai não cumpriu a ordem judicial, o que deu origem à manifestação.
MULTA
Logo
após a libertação de Poró Borari, o MPF pediu à Justiça que execute multa
contra a Sesai por descumprir a ordem judicial para oferecer assistência às 13
etnias. A multa de 1 milhão e 970 mil reais corresponde aos 197 dias em que a
decisão está sendo desobedecida pela Sesai. A Justiça havia arbitrado em R$ 10
mil a multa por dia de desobediência.
Ontem,
após a manifestação dos índios, a Sesai comprometeu-se a criar um grupo de
trabalho para debater o atendimento de saúde das etnias, o que, para o MPF, não
é suficiente. A ordem judicial de janeiro de 2016 determinava um prazo de 90
dias para que fossem cadastrados todos os índigenas das 13 etnias da região, 48
horas para que a Casa de Saúde do Índio de Santarém passasse a atender todo e
qualquer indígena que lhe procurasse, independente do local de moradia e também
90 dias para organizar equipes multidisciplinares para atender os indígenas.
Nenhuma das medidas foi cumprida até hoje.
Fonte/Foto: RG 15, O Impacto e MPF

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