GRANDES PROJETOS: PARÁ FICA FORA!



- por Lúcio Flávio Pinto

Se depender dos chineses, 37% dos grãos produzidos em Mato Grosso serão escoados pela ferrovia Bioceânica, que ligará Goiás ao Pacífico, em território peruano. Outros 51% iriam para os portos do litoral sul brasileiro e só 12% seguiriam para portos no Pará.
Se isso realmente vier a acontecer, se tornará inviável economicamente a proposta do governo do Estado para a abertura de duas ferrovias e uma rodovia de Mato Grosso para o norte, estabelecendo pontos de saída nos rios Tapajós e Amazonas, e em Barcarena.
O volume de carga disponível, de 12% da produção de grãos, tornaria a operação antieconômica. Subsistiriam apenas as vias já em uso pelo rio Madeira e a ferrovia Norte-Sul.
A ferrovia Bioceânica foi anunciada no ano passado como um empreendimento comum entre o Brasil, o Peru e a China, abrindo um caminho no Pacífico para a produção do centro-oeste brasileiro.  A obra seria concluída dentro nove anos, com quase cinco mil quilômetros de extensão. Começando em Goiás, cruzaria a Cordilheira dos Andes a 2.050 metros de altitude, terminando em Bayovar, no norte do Peru.
Ela poderia escoar inicialmente 23 milhões de toneladas de carga. Em 25 anos sua capacidade poderá chegar a 53 milhões de toneladas, que lhe possibilitaria transportar 37% da carga da região do Mato Grosso.
Esses dados, apresentados pela empresa chinesa Creec, contratada pelo governo do país asiático para desenvolver os estudos de viabilidade do projeto, concluíram pela viabilidade econômica do empreendimento. Os chineses já gastaram 200 milhões de reais nos levantamentos, que ainda deverão durar pelo menos mais um ano.
Pelos estudos, em 2025 a ferrovia poderia transportar cerca de 15 milhões de toneladas na direção do Pacífico e outros 8 milhões no sentido inverso. Para 2050, as projeções são de 33 milhões e 19 milhões, respectivamente.
Uma novidade do projeto será a utilização de estruturas de pilares de alta elevação, tecnologia de construção muito usada na China, para minimizar o desmatamento, ainda inédita no Brasil. Boa novidade para a floresta amazônica, ao menos em tese.




- Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.
Tem 21 livros individuais publicados, todos sobre a Amazônia.

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