A PROPÓSITO DA DATA DE HOJE: “AVÓS E NETINHOS”
- por Paiva Neto*
Há
tempos, a Ph.D. em neurociências Suzana
Herculano-Houzel apresentou oportuna reflexão sobre o sentido de família,
no seu artigo publicado na Folha de
S.Paulo, em 29 de abril de 2014 (terça-feira). Intitulado “Avós e
netinhos”, ela escreveu sobre as vantagens evolutivas do envelhecimento
saudável, em especial na interação entre as gerações. Citou pesquisa do
neurocientista Stephen Suomi, do
Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos EUA. O que
ele e seu orientador Harry Harlow
(1905-1981), descobriram? Ao estudar filhotes de macacos reso criados sem mãe e
sem carinho, perceberam que eles cresciam com uma série de distúrbios sociais e
de ansiedade. No entanto, quando conviviam com macacas e macacos idosos,
cuidadores experientes e carinhosos, isso resgatava o desenvolvimento dos
bebês. Esse processo, sob a condição de ser um gesto espontâneo dos primatas,
isto é, com o direito de ir e vir, também recuperava a saúde física e mental
dos mais idosos, fazendo alguns deles assumirem o papel de pais.
Diante
dessas evidências, a cientista brasileira concluiu com apurada sensibilidade: “Avós voluntariamente carinhosos, portanto,
ajudam não só a educar a nova geração como ainda a fazer vingar netinhos
saudáveis e bem integrados socialmente — e, de quebra, os avós se mantêm
revigorados por serem úteis aos netos. Eu bem sei. Perdi minha avó no começo
deste ano. Cresci ouvindo-a dizer, sempre hiperbólica, que estava à beira da
morte —mas ela manteve a saúde de um touro enquanto teve netos e bisnetos por
perto para cuidar. Consolo-me, então, pensando não nos anos que perdemos, mas
nos 40 anos em que tive o privilégio de crescer com uma avó que me ensinou
música, tricô, costura, empadão e leite queimado; que me divertia não engolindo
sapo algum e dirigindo feito uma louca até os 80 anos e tantos anos —e que
sempre teve colo para mim e, depois, para meus filhos”.
Belo
testemunho, dra. Suzana. Sabemos que sua avó, onde quer que esteja nesse imenso
espaço sideral —pois cremos que os mortos não morrem —, deve ter se comovido
com sua homenagem.
Como já
afirmei em tantas ocasiões: Amor faz rima perfeita com mãe. E posso
acrescentar: com avós também. É a base da Família; logo, o sustento do mundo.
* José de
Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
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