BELO MONTE DEIXA PENDÊNCIAS NA JUSTIÇA E FUTURO DUVIDOSO PARA A REGIÃO
Com
a primeira das suas 24 turbinas gerando energia, a usina de Belo Monte, em
Altamira (PA), foi visitada pela presidente Dilma Rousseff, nesta quinta-feira
(5).
Polêmica desde sua fase de projeto, em 2006, a obra que começou a
funcionar há um mês deixa cerca de 1.500 ações pendentes na Justiça, um legado
de questionamentos sobre a forma como foi conduzida a obra e dúvidas sobre o
futuro da região com o desmonte do canteiro de obras.
"Belo Monte representa a perda de uma oportunidade de mostrar
que os grandes empreendimentos podem ser realizados na Amazônia com respeito
aos direitos humanos. Tivemos condições de fazer uma discussão da implantação,
mas acabamos reproduzindo aquele modelo da década de 1970, com a imposição de
uma obra. E surgiu assim uma série de irregularidades", declarou o
procurador da República Ubiratan Cazetta, que acompanha o projeto desde seu
início.
Em 2013, a movimentação de trabalhadores da usina Belo Monte era intensa em Altamira (PA) |
"O que foi em Altamira que melhorou com Belo Monte? Nada!
Dilma vem inaugurar o caos! Ainda pagamos aqui a energia mais cara desse país,
de péssima qualidade", disse Antonia Melo, da ONG (organização
não-governamental) Xingu Vivo.
Segundo a Norte Energia, as obras de Belo Monte estão praticamente
concluídas, restando o trabalho de montagem eletromecânica. A previsão é que a
cada dois meses, em média, seja ativada uma nova turbina até o pleno
funcionamento da hidrelétrica, em 2019. A empresa diz que a usina terá
capacidade instalada de 11.233,1 MW, distribuindo energia para 17 estados do
Brasil.
Para o Ministério Público Federal, com o fim das obras, a
preocupação agora é acompanhar o desmonte de Belo Monte. "O impacto agora
é desmontar toda estrutura, que chegou, no auge, a ter 30 mil trabalhadores.
Com a saída, Altamira vai ter um impacto significativo, e agora vamos entender
o tamanho real de Belo Monte. A operação demanda pouca gente, e muitos serviços
do entorno vão deixar de ocorrer. Daqui pra frente será mais um problema social
que ambiental. "
Cazetta mantém, no momento, um trabalho de "depuração dos
dados", analisando tanto os prejuízos individuais quanto coletivos, que
deverão gerar várias discussões na Justiça. Mesmo sem condições de reverter os
danos causados, o procurador, que questiona inclusive os estudos de
impacto ambiental, espera o julgamento das ações para que outras
obras não passem por problemas idênticos.
Tanto Cazzeta quanto Antonia Melo veem o início de uma depressão
econômica na região, que poderia ter sido amenizada com investimentos
anteriores. Ambos lembram ainda os impactos ambientais como a mortandade de
peixes.
A líder comunitária destaca que as famílias retiradas tiveram que
se mudar para conjuntos distantes do rio e do centro da cidade, e falta postos
de saúde e escolas. "É uma precariedade. Isso sem contar a violência
extrema, as drogas que tomaram conta dos jovens", finalizou.
Fonte/Fotos:
Carlos Madeiro, colaboração para o UOL, em Maceió/Lalo de Almeida
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