REVISTA REVELA ‘PREÇO’ DE HELDER BARBALHO PARA APOIAR DILMA
Orçamento de R$ 3,2 bilhões em
obras portuárias pesou no apoio
A edição
desta semana da revista ‘IstoÉ’ informa que, no derradeiro esforço para tentar
salvar o mandato da presidente Dilma Rousseff, o governo reeditou, nos últimos
dias, sem qualquer pudor, uma prática já condenada pelo Supremo: a de usar
dinheiro público para comprar apoio político no Congresso. Entre os apoios que
teriam sido comprados está o ministro dos Portos, Helder Barbalho, após uma
visita do ex-presidente Luiz Inácio da Silva ao senador Jader Barbalho, seu
pai.
Segundo a
revista, Lula visitou o paraense em sua própria residência, no dia seguinte à
decisão do PMDB de deixar o governo. O esforço, ao menos para o PT, foi válido.
Em jogo, estavam não apenas o eventual voto do senador, mas o de duas deputadas
peemedebistas: sua esposa, Simone Morgado, e sua ex-mulher, Elcione Barbalho. O
acordo foi fechado. A contrapartida oferecida pelo PT à família Barbalho foi
generosa: neste ano, Helder administrará um orçamento de aproximadamente R$ 3,2
bilhões para obras portuárias no Pará, estado do qual ele é pré-candidato a
governador.
Além disso,
Jader conseguiu emplacar a indicação de seu antigo rival e hoje
correligionário, o ex-senador e até então secretário-executivo da pasta
comandada por Helder, Luiz Otávio Campos, para o comando da Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq). Graças ao regalo obtido, Barbalho se tornou um
dos mais ativos articuladores dentro do PMDB a favor de Dilma. Atua afinado com
outro governista de carteirinha: o líder na Câmara, Leonardo Picciani. Sua sede
desmedida por cargos lhe rendeu a alcunha de “rei do fisiologismo”.
De acordo
com a revista, o Planalto passou a negociar emendas e cargos, e até dinheiro,
com deputados que se dispuserem a votar contra o impeachment da petista. O modo
de operar remete ao escândalo do mensalão, o esquema de compra de votos durante
o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com uma
diferença fundamental. O mensalão clássico consistiu no pagamento de
parlamentares a partir do desvio de verbas públicas e da lavagem de dinheiro
por meio de agências de publicidade. Agora, o dinheiro negociado com os
deputados de forma escancarada vem direto do Orçamento – ou seja, dos impostos.
“São práticas terríveis e o PT repete tudo de novo”, lamentou o ex-deputado
Roberto Jefferson, o principal delator do mensalão, em entrevista a ‘IstoÉ’.
Na nova
modalidade do mensalão, o principal operador não tem cargo, ao contrário de
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, e Delúbio Soares, então tesoureiro do
PT. Atua como um agente estranho ao Estado, mas em nome do Estado, e fazendo
promessas de algo que, ao menos oficialmente, não poderia entregar. Esse papel
é exercido pelo ex-presidente Lula, com as ajudas providenciais de Jaques
Wagner e do ministro Ricardo Berzoíni. Após ter sua nomeação para a Casa Civil
barrada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, o petista transformou uma suíte de
um hotel de luxo em Brasília numa espécie de QG do mensalão do impeachment.
De tão
ostensivo, o assédio aos parlamentares e as propostas formuladas por emissários
do Planalto fizeram corar até parlamentares que nunca se notabilizaram
propriamente pela probidade ou por suas reputações ilibadas, como o deputado
Paulo Maluf e o ex-presidente Fernando Collor. Há outro componente agravante no
feirão a céu aberto promovido pelo governo: ele mostra que o PT vira as costas
para a sociedade no momento em que o País vive uma crise político-econômica sem
precedentes na história recente. Enquanto a presidente Dilma determina o
contigenciamento de verbas para a Educação, e paralisa programas como o
financiamento estudantil no exterior, uma das bandeiras do segundo mandato de
Dilma, R$ 50 bilhões em emendas são oferecidas para quem se dignar a votar
contra o impeachment.
O governo
também não parece se preocupar com a existência de quatro surtos de doenças no
País, como a gripe H1N1, que já fez 47 vítimas só este ano. Enquanto diretores
do instituto Butantã reclamam de falta de recursos federais para a produção de
vacinas contra o zika vírus, por exemplo, o critério de escolha do futuro
ministro da Saúde e do presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) se
orienta pelo número de votos contra o afastamento da presidente que os
aspirantes às vagas são capazes de oferecer. Ou seja, no vale-tudo para se
manter no poder, o Planalto não se constrange em comprometer o presente e o
futuro do País.
Na
quarta-feira 6, ao mesmo tempo em que o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) lia as
128 páginas do relatório que concluiu pela admissibilidade do pedido de
impeachment contra a presidente, os defensores do Planalto tentavam conquistar
votos pró-Dilma nos corredores da Câmara. Às claras. Assim se deu, por exemplo,
quando o deputado André Abon (PP-AP) abordou o colega Sílvio Costa (PTdoB-PE),
vice-líder do governo. “Tudo certo?”, perguntou Costa. “Falta assinar”, disse
Abdon. “Então, está tudo resolvido”, afirmou o vice-líder. Costa é dos
encarregados de negociar, no varejo, votos para tentar derrubar, no plenário, o
pedido de impeachment da presidente.
Em meio ao
balcão de negócios que tomou conta dos corredores do poder em Brasília, há
suspeitas de práticas nada republicanas. Ao longo da semana, circulou a
informação de que os deputados Heitor Schuch e José Stédille, ambos do PSB do
Rio Grande do Sul, teriam sido abordados por aliados do Palácio do Planalto com
oferta de dinheiro para apoiar a presidente. A bancada do PSB se reuniu para
cobrar explicações. Eles negaram. Um deputado de um partido da base aliada, no
entanto, assegurou que a oferta foi feita. O valor: R$ 2 milhões pelo voto
pró-Dilma.
Durante as
conversas, não se perde um minuto de prosa para discutir políticas públicas ou
projetos para o andamento do País. No local, onde ele tem recebido uma romaria
de políticos, o samba é de uma nota só: os votos pró-Dilma. O toma la, da cá,
que nos governos anteriores era promovido com uma roupagem mais republicana,
agora é embalado pelo mais puro pragmatismo político. Quem oferece mais votos
sai com a promessa de um cargo num escalão mais alto. Daqueles com caneta,
verba e tinta. Ou com uma emenda mais polpuda. Sem disfarçar, o ex-presidente
Lula fala e age em nome do governo. Claro que nem tudo é escancarado.
Duas precauções
foram tomadas para evitar o flagrante das negociatas. Primeiro, as câmeras do
corredor do ex-presidente foram cobertas, impedindo o registro de quem circula
no local – uma medida preventiva de quem possui experiência no assunto. Ainda
está fresco na memória do PT as cenas filmadas dentro do quarto de um outro
hotel em Brasília do ex-ministro José Dirceu negociando cargos com integrantes
do alto escalão da República, antes de ser preso no escândalo do Petrolão.
Outra medida adotada foi reservar as madrugadas para a intensificação das
negociações. É o período onde o fluxo de parlamentares e ministros é mais
intenso.
Fonte/Foto: ORM News/Tarso Sarraf
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