PESCA PREDATÓRIA DIZIMA OS RIOS DA ILHA DE MARAJÓ
É cada vez mais raro encontrar pirarucus nas águas da região. Foto: Istockphoto |
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por Dal Marcondes*
No meio da água e do verde,
vicejam a pobreza e a desesperança.
Na
ilha de Marajó, os rios parecem não ter fim. O barco sai de Belém e aproxima-se
da maior ilha fluvial do mundo. De um lado, deságua o Amazonas, que atravessa a
maior floresta tropical do planeta e com força empurra a água do mar por
quilômetros afora. Do outro chega o Tocantins, fortalecido por centenas de
afluentes. O arquipélago, com suas 19 cidades, carrega o título de região mais
pobre do Pará. Sorte, alguém pode pensar, que existem peixes em quantidade
suficiente para alimentar os ribeirinhos. Engano.
Recentemente,
pesquisadores do Instituto Peabiru, ONG dedicada ao desenvolvimento sustentável
do Pará, atravessaram a Baía do Marapatá em direção a Curralinho. Oito horas em
um barco onde os passageiros viajam em redes. De passagem pela cidade de 30 mil
habitantes, metade deles na zona rural, dá para notar os resultados da
improbidade administrativa pela qual foram condenados dois ex-prefeitos, além
do descaso em relação ao Conselho Tutelar da Infância, que levou o Ministério
Público do Pará a agir contra o atual alcaide. Em abril, a Justiça estadual
afastou o prefeito José Leonaldo dos Santos Arruda, cujos direitos políticos
foram caçados por cinco anos.
O
primeiro indício de problemas com a biodiversidade local aparece em uma cuia de
tacacá, caldo preparado com a goma de tapioca, folhas de jambu e camarão. No
primeiro gole surge um camarão tão pequeno que cabe sobre uma unha. Logo
depois, um “ovado”, repleto de ovas que dariam origem a centenas de novos
crustáceos. Provas de uma pesca descomprometida com o futuro. Os camarões foram
capturados durante o período de defeso, quando os pescadores recebem uma bolsa
do governo federal para garantir a subsistência enquanto os peixes e crustáceos
se reproduzem.
A
equipe segue em um barco menor em direção ao Rio Canaticu, pequeno para os
padrões da Amazônia, mas que despeja cerca de 50 vezes o volume do Tietê em sua
foz. Quase 20 comunidades se abrigam em suas margens, casas, em sua maioria de
madeira, construídas sobre palafitas. O barco é o único meio de transporte. A
mata verde é exuberante e o rio, uma promessa de vida? Nada disso. Nas matas, a
madeira nobre sumiu, assim como os animais nativos. Nas águas, não tem mais
peixe nem camarão.
Os
pesquisadores conversam com os ribeirinhos e tentam entender o que aconteceu.
Vicente de Paula Ferreira de Oliveira, morador antigo, conta que o fim dos
peixes começou com a “malhadeira”, rede de malha fina esticada de margem a
margem nos rios e igarapés de Marajó. Mais de 20 anos de pesca predatória, na
captura de peixes que subiam o rio para desovar na piracema, praticamente
acabaram com a presença de grandes espécies, como o tucunaré e o pirarucu na
região. No prato do ribeirinho reina o frango congelado, que atravessa meio
mundo para chegar naquelas barrancas.
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