“BOI É BOI, LADRÃO É LADRÃO”: A INTOLERÂNCIA À CORRUPÇÃO AMPLIA-SE CADA VEZ MAIS



Não se faz mais distinção entre pequenos, médios e grandes corruptos
Eleitores não se deixam mais enganar como antigamente. Não se deixam mesmo. As redes sociais estão inundadas de manifestações que alertam sobre os riscos que representa a entrega de cargos eletivos a corruptos - notórios ou não.
O diferente é justamente isto: não se faz mais distinção entre pequenos, médios e grandes corruptos. Alastra-se a certeza de que, como nas palavras - sábias, verdadeiras, incontestáveis e indiscutíveis - do padre Batista Campos (1782-1834), “boi é boi, ladrão é ladrão”.
Amplia-se aquela noção evidente de que o homem público 99% honesto é 100% corrupto. Exige-se de governantes e parlamentares transparência de caráter porque eles não deveriam e nem devem jamais adotar posturas que expressem suas convicções, mas da sociedade.
Quando assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), no primeiro semestre de 2012, o então ministro Carlos Ayres Britto definiu de forma lapidar os princípios constitucionais que regem questões relacionadas à moralidade pública.
“Na Constituição está dito que os atos de improbidade importarão em perda da função pública, indisponibilidade dos bens, suspensão dos direitos políticos, ressarcimento ao erário. É preciso fazer valer a Constituição. Como dizia Ulysses Guimarães, o cupim da República é a corrupção. É o principal ponto de fragilidade estrutural do país”, disse o ministro, hoje aposentado.
“É pela corrupção que falta dinheiro para programas sociais de primeira grandeza como a moradia, o transporte, a assistência à infância e à adolescência. Combater a corrupção e o crime do colarinho-branco tem de ser a prioridade das prioridades”, complementou Ayres Britto.
Quando proferiu voto durante o longo julgamento do processo do mensalão, outro integrante do Supremo, o ministro Celso de Mello, delineou exemplarmente o sentido da improbidade.
O ato de corrupção, destacou o magistrado, “constitui um gesto de perversão da ética do poder e da ordem jurídica, cuja observância se impõe a todos os cidadãos desta República que não tolera o poder que corrompe nem admite o poder que se deixa corromper.”
Para Celso de Mello, “quem transgride tais mandamentos, não importando a sua posição estamental, se patrícios ou plebeus, governantes ou governados, expõe-se à severidade das leis penais e, por tais atos, o corruptor e o corrupto devem ser punidos, exemplarmente, na forma da lei.”
A repulsa, o nojo, a rejeição à roubalheira, às malfeitorias, aos esquemas criminosos, às fraudes e combinações espúrias não se expande apenas no âmbito do Poder Judiciário.
Os cidadãos comuns, eleitores que a cada dois anos atendem a imposições constitucionais de dirigir-se às urnas para escolher candidatos a cargos eletivos, também estão, como os magistrados, plenamente convictos de que cada processo eleitoral é uma oportunidade única de banir da vida pública os elementos que a enodoam.
É por isso que a massiva - e maciça - manifestação de cidadãos em ambientes virtuais, onde se compartilham opiniões, oferece um indicador seguro de que ninguém, respeitadas as preferências político-partidárias de cada um, tolera mais que a corrupção mostre suas garras e tente conservar, intactas e intocáveis, as condições que propiciam a continuidade da rapinagem dos cofres públicos.
Isso é uma vitória da democracia. Revela a supremacia da efetiva participação popular no processo político, entendido como um meio dos mais legítimos para intermediar as demandas da sociedade.
Repudiar a corrupção e reforçar a noção de que os corruptos não passam de nódoas na vida pública são essenciais para que o controle social seja uma consequência natural do anseio de toda a sociedade, que não tolera mais ver seu dinheiro escorrer para o bolso de ladrões eleitos pelo voto popular.

Fonte: Editorial de hoje do jornal O Liberal

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