ROCK DO BEM: BATERISTA SE DEDICA A ENSINAR MATEMÁTICA E FÍSICA A CRIANÇAS DA PERIFERIA DE MANAUS
Movido pelo hardcore e pela satisfação em ver o
sorriso da criançada, o baterista Magno Corrêa dá lições diárias de amor
“Comecei a ouvir rock e
nesse mundo novo conheci o movimento punk/hardcore, onde aprendi sobre
anarquismo e a lutar pelas pessoas menos favorecidas”. A declaração é de Magno
Corrêa, 30, o “Cego”, que se dedica há pelo menos dez anos a uma ideologia:
ajudar o próximo.
Aos sábados, ele ensina
física e matemática, voluntariamente, para aproximadamente 35 crianças e
adolescentes de uma comunidade carente da Zona Norte. Com a ajuda de parentes e
amigos, ele também distribui cachorro-quente para moradores de rua e brinquedos
em algumas periferias de Manaus.
O sentimento de “dever
cumprido” o impulsiona a ‘fazer o bem sem olhar a quem’ em todas as épocas do
ano. “Distribuo brinquedos no dia das crianças e cachorro-quente quando o bolso
e o tempo me ajudam. E esse ano, pela primeira vez, vou ser Papai Noel”,
contou, empolgado.
Fantasiar-se de “bom
velhinho”, um dos maiores símbolos do capitalismo, pode até ser contraditório à filosofia punk,
mas Magno não acha justo “acabar com os sonhos das crianças” e resolveu encarar
o desafio. “Venho de uma família simples onde vizinhos se ajudavam. Isso
alimentou minha alma. Tive uma boa educação graças aos esforços dos meus pais e
conheço muito bem o que são pessoas necessitadas”, contou o jovem, que é
técnico eletrônico e baterista de uma banda de rock.
O hardcore e a o sorriso
nos rostos das crianças movem o baterista . “No dia das crianças, fomos em um
fusca do João Jarmi (amigo), mas o carro não estava muito bem de ‘saúde’.
Tínhamos que parar para o motor esfriar. Em uma certa pausa, paramos em um lugar
onde só tinha muros e mato. Quando dei por mim estávamos justamente em um lugar
com muitas crianças. Percebemos que era um sinal e lá mesmo começamos a
distribuir os brinquedos. Nunca vi tantos sorrisos verdadeiros ao mesmo tempo”,
relatou.
Filosofia do 'faça você
mesmo'
“Fui punk, não sou mais,
mas ainda carrego resquícios anarquistas em mim. Ajudar as pessoas tem muito a
ver com minha ideologia. Tocar em lugares precários da cidade, conhecer
histórias e pessoas pelas periferias me impulsionou a, ao menos, tentar fazer
algo relevante. Por que esperar pelo governo se eu posso fazer algo pelo meu
irmão?”.
Magno é um dos manauaras
que compartilha boas ações e propaga o espírito de Natal o ano inteiro.
“Vivemos em mundo mesquinho e egoísta. A boa ação, por menor que seja, vai
resultar positivamente na vida de alguém. Nunca fui de ficar sentado esperando
por mudança. A mudança está dentro de você e é preciso externar isso. Minha
filosofia é totalmente do Hardcore, D.I.Y. - do it yourself (faça você mesmo)”.
Logo que começou a dar
aulas em comunidades carentes, Cego sofreu com a falta de confiança dos pais
dos alunos por causa das tatuagens e alargadores. Mas, com o passar do tempo, o
baterista conquistou o amor da comunidade.
“Era tudo uma grande
novidade para eles. Uma cena que eu jamais esquecerei foi um dia que fui para o
ponto de ônibus e a mãe de um aluno me agradeceu pela dedicação e disse que eu
havia salvado o filho dela. Fiquei meses com aquilo na cabeça. Minha força de
vontade só aumentou”, contou.
O baterista coleciona
muitas histórias de gratidão e dever cumprido. “Teve uma aluna que nunca tinha
soprado velas em seu próprio aniversário. Chamei alguns amigos e fizemos o bolo
pra ela comemorar com outros alunos. Foi um dia de festa e, como sou um cara
muito emotivo, aquilo me tocou profundamente”, relembra.
Fonte/Foto:
Luana Carvalho – ACRITICA.COM/Divulgação – Acervo Pessoal
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