RELIGIÕES TÊM VISÕES DISTINTAS DO NATAL



Para os judeus, a celebração do Hanukah; para os budistas, respeito
Manda a tradição que em dezembro as casas sejam ornamentadas com luzes e pinheiros ricamente enfeitados, familiares e amigos troquem presentes e votos de “boas festas” e uma mesa farta seja preparada para a ceia. É o Natal e suas tradições, prazerosamente cultivadas. Mas não é assim para todo mundo. Como a festa é essencialmente religiosa e marca o dia do nascimento de Jesus Cristo, nem todos os povos e culturas ao redor do mundo festejam o Natal da mesma forma. Alguns nem mesmo o celebram. “Nessa época estamos celebrando o Hanukah”, diz a judia Rose Larrat.
A “Festa das Luzes”, como pode ser traduzido o Hanukah, é uma tradição tão importante para os judeus quanto o Natal para os cristãos. A data marca a vitória do povo judeu sobre os gregos em uma batalha pela liberdade de poder seguir sua religião. A comemoração dura oito dias e tem símbolos importantes como o menorá, o famoso candelabro de sete velas, mas nenhuma relação com a festa cristã, sendo erradamente chamada de “Natal dos judeus”. “Nossa família não comemora o Natal. Para nós o nascimento de Cristo é o nascimento de mais um judeu, um homem santo, mas não o filho de Deus”, explica Rose.
Apesar das duas comemorações acontecerem na mesma época, a celebração judaica não tem uma relação direta com o dia 25 de dezembro. O Hanukah começa no 25º dia do mês judaico de Kislev. Esse ano, o início coincidiu com o dia 16 de dezembro. Ou seja, os festejos do Hanukah acabam antes do Natal. Na casa de Rose, que é de uma família judia de origem francesa e foi enviada para estudar em Israel durante a adolescência para aprimorar e fortalecer os ensinamentos judaicos, a próxima quinta-feira será um dia comum. “Mesmo em Belém morávamos ao lado da sinagoga, então é de lá toda a nossa educação religiosa”, diz ela.
Integrante da terceira geração de uma família budista, a estudante Letícia Sarges, 20 anos, pensa da mesma maneira. Na casa dela, no bairro do Umarizal, em Belém, não há guirlanda na porta ou pinheiro na sala. “Na verdade nunca senti falta dessas tradições”, conta. A jovem, que foi criada dentro dos ensinamentos do Nichiren Daishonin (um segmento do budismo), o pai e a irmã seguem a religião que a mãe herdou da avó de Letícia. “Minha avó passou a doutrina para minha mãe que, agora, está passando para nós”, explica. Apesar de não festejar a data e não enxergar no Natal o mesmo significado religioso que a maioria dos cristãos, a
família Sarges diz respeitar a tradição cristã, como manda o budismo. “Se morasse com uma pessoa católica e ela quisesse montar uma árvore de Natal eu jamais me oporia. Prezar a harmonia e respeitar a religião de cada um é parte dos nossos ensinamentos”, acrescenta.
Para a mãe de santo Ana d’Oxum, adepta da umbanda, há sincretismo além de respeito. Os umbandistas assim como a maioria dos cristãos costumam manter as tradições natalinas, como a decoração da casa, a troca de presentes e a ceia, à meia-noite do dia 25 de dezembro. A diferença é que nessa época, a umbanda volta suas orações também para Oxalá, considerado o maior de todos os orixás e responsável por comandar as forças da natureza. “É da própria natureza da umbanda essa abertura, aceitar outros rituais”, explica a mãe de santo, referindo-se ao sincretismo que originou a religião, a partir do candomblé. Mas por ser uma religião fundamentada na oralidade, Ana ressalta que cada “seara de umbanda” (os templos, terreiros ou barracões) segue a tradição do local. Não há uma regra comum a todos.
Originalmente um dia festivo destinado a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno (o início da estação), o Natal foi adaptado pela Igreja Católica com o imperador Constantino, no terceiro século d.C., para comemorar o nascimento de Jesus. Apesar de ser uma festa cristã, existem cristãos, como as testemunhas de Jeová, que não comemoram a data por terem uma interpretação diferente da Bíblia. Em outras igrejas protestantes, como a Assembleia de Deus, o Natal é visto como símbolo da presença de Cristo. “Festejar o Natal é uma bênção para todos quantos nasceram do Espírito ao tornarem-se filhos de Deus pela fé em Cristo”, diz a evangélica Márcia Bittencourt. Também não celebram o Natal: o islamismo, o hinduísmo, o xintoísmo e o taoísmo.
Fonte: O Liberal

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