EM MANAUS, ESTUDANTE ABRIGA 17 CÃES E 9 GATOS ABANDONADOS NA PRÓPRIA CASA



Alessandra Ossuosky, 27, é voluntária de ONG que estimula adoção de animais e cuida de 26 bichos abandonados. "Não considero isso um trabalho. Eu faço isso porque gosto. Já é um costume", diz ela
Há dois anos, depois de ter a  imagem divulgada no Facebook, o cão “Face” não imaginava que seria um dos bichos mais amados do canil onde vive hoje. Na verdade, ele é apenas um dos 26 animais que são cuidados pela estudante de Medicina Veterinária Alessandra Ossuosky, 27, que prova o amor pelos pequenos abrigando-os na própria casa. Ela é uma das pessoas que faz o Natal durar o ano inteiro em Manaus, mas quem acaba ganhando presente são os peludos de quatro patas.
Voluntária da ONG ComPaixão Animal, com sede na capital, a voluntária possui hoje 17 cachorros e nove gatos abrigados na residência de Alessandra, localizada no Parque das Laranjeiras, Zona Centro-Sul. Apaixonada por animais, ela passou a resgatar cães a gatos das ruas e a instalá-los em um canil e um gatil, construídos há três anos no quintal da casa dela. “Desde pequena sempre tive animais em casa e meus pais sempre deixavam. Criei esse hábito e hoje em dia posso cuidar deles”.
Segundo Alessandra, as “vagas” são limitadas no local devido ao espaço, mas todos os pets recebem o mesmo tipo de tratamento. “Eles são mansos porque são vacinados certinho e muito dóceis com as pessoas. Tenho um casal de filhos e convivemos muito bem. Eu amo tanto meus bichos que até me separei por causa do meu ex-marido, que veio de uma família que não era acostumada com animais. No final, preferi meus cães”, brincou.
Alessandra afirma que todos os animais, que não têm raça definida, foram encontrados por ela nas ruas com problemas de saúde. Alguns deles, como Face, que possuía queimaduras por todo o corpo, foram achados por ela com membros amputados e saúde frágil. A estudante descreve  a satisfação de ajudar bichos abandonados. “Eu gosto de ver o animal que tirei da rua porque sei que se fosse o contrário ele iria morrer. Observar essa mudança já vale a pena”.
O amor de Alessandra pelos bichinhos também não tem preço. Todo o dinheiro gasto com alimentação, remédios e veterinário saem do bolso da estudante. Em algumas ocasiões, Alessandra “hospeda” cães e gatos de outros vizinhos no espaço, e toda essa renda é investida nos 26 bichanos. Ela diz que os desafios para criar essa turma podem ser chamados de “preocupações”. “O problema maior é o espaço. A casa não é tão grande e esse é o número de animais que eu posso receber. Se abrigasse mais colocaria em risco os que já estão aqui, sadios”.
Doação
Não há como afirmar, mas os cuidados com os quais Alessandra envolve seus pets devem deixar os bichanos com a sensação de serem presenteados todos os dias. E, da mesma forma, a estudante afirma que tenta passar um pouco dessa responsabilidade para quem se interessa em adotá-los. “Pergunto profissão, disponibilidade, e muitas vezes, na hora de concretizar a doação, as pessoas se incomodam de você querer saber desses detalhes. Eu me importo com isso. Não vou dar um animal pra uma pessoa que não tem o mínimo de condições de cuidar. O meu esforço não adiantaria nada”.
E enquanto o novo dono de Face não chega, ele segue com sua família de quatro patas comemorando o Natal no canil de Alessandra. A estudante avisa: “Não adianta, eu faço isso 24 horas. Se eu tiver saindo de uma festa e ver um cachorro ou gato na rua, vou parar pra fazer algo, não vou passar direto”, disse.
Ao ser questionada sobre como poderia definir seu trabalho, ela contesta. “Não considero isso um trabalho. Eu faço isso porque gosto. Já é um costume”, completa.
Controle populacional
Conforme dados divulgados neste ano pelo diretor do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Francisco Zardo, o Centro realiza cerca de 400 castrações por mês, quando o ideal seria 4.000 procedimentos.
A marca, segundo o diretor, traria um resultado significativo no controle populacional dos bichos. Ele ressaltou a importância da sociedade no processo. “Esses animais abandonados tiveram dono um dia, porém eles acham que podem deixar largado o animal na rua ou no CCZ porque não querem mais ou não têm condições de cuidar”, acrescentou.
Abandono no AM
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), estima-se que atualmente aproximadamente 200 mil cães e gatos estejam abandonados nas ruas de Manaus. A secretária da pasta, Kamila Amaral, diz que esse número pode ser ainda maior. Em relação ao interior do Estado, não há números definidos.
Para Alessandra,  o preconceito com cães e gatos portadores de algum problema físico e até mesmo com aqueles chamados “vira-latas” contribui para esse número alarmante.
“Já doei animais de raça, divulgo no Facebook tanto eles quanto os que são resgatados. Quando eu posto um que é conhecido, o telefone não pára de tocar, já os outros são mais difíceis achar alguém que abrigue, demora muito. A mesma coisa acontece com animais que já são idosos, que muitas vezes são mais tranquilos”, explica.
Assim como o diretor do CCZ, Alessandra  defende a participação das pessoas na diminuição dos altos índices de abandono. Segundo ela, uma segunda ação  para reduzir os dados seriam procedimentos veterinários.
“Pra mim, se todo mundo fizesse castração dos seus bichos isso resolveria em longo prazo essa quantidade de animais. As pessoas não sabem, mas tem muita gente que não castra e contribui para que o animal pegue vários tipos de doenças”.
ComPaixão Animal
A ONG ComPaixão Animal foi fundada em outubro de 2011  e é uma das mais conhecidas da capital. Apesar do grande papel, a organização relata dificuldades para suprir a grande demanda de pedidos de regate de animais.
“Não possuímos abrigo de qualquer espécie [...], pois além de não possuir recursos financeiros, não há voluntários suficientes para fornecer lar temporário”, afirma em sua página. “Nossa missão há três anos é fazer valer os direitos dos animais no Estado do Amazonas, conscientizando a população sobre a posse responsável, além de estimulando a adoção de animais em condições de perigo em detrimento de sua comercialização”.
Fonte/Fotos: Osvaldo Neto – acrítica.uol.com.br/Clóvis Miranda

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