EM MANAUS, CASAL GAY É EXPULSO DE BAR E FATO CAUSA REVOLTA NA INTERNET
Clientes denunciam proprietários de estabelecimento de
cometerem ato homofóbico. Donos do local disseram que gays “passaram dos
limites” e expulsaram grupo devido à opinião de vizinhos
Um suposto caso de
homofobia em um bar no Centro de Manaus causou a revolta de pessoas na
Internet. Dois clientes que trocavam carícias na madrugada de domingo (14) no
Patupirá Petiscaria e Bar (rua Visconde de Porto Alegre, Centro) foram expulsos
pelos donos do local com outros dois amigos. O depoimento dos quatro clientes
nas redes sociais ganhou repercussão e apoio de internautas.
“Estávamos entre amigos
sentados numa mesa que estava posta na rua. Em certo momento, dois amigos se
abraçavam e ouviam músicas juntos, e foram recriminados por isso. O dono do bar
chegou até mim para dizer para que parassem com aquilo porque era incômodo às
outras pessoas e à vizinhança”, contou Rogério Vilaça*, 21 anos, um dos clientes
expulsos, pelo Facebook.
Rogério disse: “fomos
tirar satisfações com ele. Foi quando ele partiu pra agressividade. Um dos
garçons chegou a pegar um taco de sinuca para bater em um de nós, e teve que
ser impedido. Eles não queriam conversa, só expulsavam a todo instante gritando
e ofendendo. O dono muito alterado dizia para irmos embora e nunca mais
voltarmos ali”.
‘Bate-boca’ e agressão
Segundo os donos do
Patupirá, durante a tentativa de informar os clientes sobre a “regra” do local,
houve discussão das duas partes. “Os dois estavam aqui se beijando a bastante
tempo. Até aí tudo bem. Depois foi um ‘pega-pega’, eles começaram a se tocar
intimamente e vulgarmente”, contou Wanderson Oliveira Matos, 26, o “Jukah”,
funcionário do bar.
Os proprietários do local
confessam que expulsaram os clientes. “Para não chegar neles (casal gay), que
estavam ‘bebidos’, cheguei com os amigos deles. Quando o amigo foi lá avisar,
eles vieram ignorantes agredir. Eu não queria discutir com bêbados, e retiramos
eles (sic) de lá”, contou “Jukah”. Os donos do Patupirá disseram que os gays
“passaram dos limites” e culpam a vizinhança pela atitude que tiveram.
Culpa de vizinhos
“É um bar, um lugar
aberto, mas a galera tem que ter o mínimo de pudor. Aqui passam famílias,
crianças, idosos. A galera não é obrigada a absorver isso da noite para o dia,
goela abaixo. Alguns vizinhos reclamam que passam com o filho e vêem homens se
beijando, mulheres se beijando. Eu teria feito a mesma coisa com héteros”,
disse o proprietário do Patupira, Hoomell Smith Ramos, 24, que tem amigos gays.
Ele justifica: “Eu abri um
bar para ‘broder’. E eles têm esse ‘pudorzinho’, certo respeito. Aí começou a
frequentar bastante ‘GLS’, mas não é a maioria do nosso público. Não é! A
galera está demais, tacam a língua (beijo). Digo a meus funcionários que a
gente tem que chegar ‘na boa’ (com clientes) e dizer que não é preconceito, que
são os vizinhos”. Hoomell afirmou que já pediu “bom” comportamento a outros
clientes.
Registro policial
Outras pessoas relataram à
reportagem que também foram abordadas pelos donos do bar sobre a “regra” local,
mas não quiseram comentar profundamente. E Hoomell se defende. “Todos são bem
vindos, mas tem querer me ajudar. Aqui é como se fosse minha casa. Tenho
certeza que esse ‘camarada’ não faz isso na frente dos pais deles. O nome é
Patupirá, mas é dentro que é lícito, do que é de boa”.
Um dos rapazes registrou
boletim de ocorrência por injúria no 19º Distrito Integrado de Polícia (DIP),
no bairro Santo Agostinho, Zona Oeste. O grupo de amigos gays negou as
acusações do dono do bar. Eles não pretendem levar o caso à Justiça pelo
desgaste processual, e esperam passar bem longe do bar. “Uma forma de
atingi-los é esquecendo aquele local”, relatou Rogério, pelo Facebook.
Homofobia
Segundo a presidente da
Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional
Amazonas (OAB-AM), Alexandra Zangerolame, o fato de clientes terem sido
expulsos por serem gays é homofobia, porém isso não é crime no Brasil. “O
preconceito por estarem abraçados é homofobia sim, a princípio. Mas o registro
é factual, porque homofobia não considerada é crime”, disse.
Segundo ela, a maioria dos
casos de homofobia é registrada em delegacias como agressão, lesão corporal ou
injúria, e cabe ao delegado de Polícia Civil colocar no documento se o fato tem
viés homofóbico. “Isso precisa ser investigado: se houve excesso no
comportamento das pessoas, se estavam se agarrando, ou se elas foram
recriminadas em função da orientação sexual”.
Conforme Zangerolame, no
Amazonas há poucos registros de homofobia. “A gente não tem estatísticas disso.
Não podemos cobrar ações dos governos sem essas estatísticas”, explicou a
presidente. Segundo ela, isso acontece porque a maioria dos casos não é
descrita como homofobia pelos funcionários da Polícia Civil ou nem ao menos é
registrada pelas vítimas.
*A pedido dos envolvidos,
foi dado nome fictício às partes
Fonte/Foto: Vinicius
Leal – A Critica/Divulgação
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