FUTEBOL/PARÁ: O MAIOR CLÁSSICO MUNDIAL



 - por Lúcio Flávio Pinto
Não há, no futebol mundial, clássico como Remo e Paissandu. A conclusão não é de nenhum azulino ou alvi-azul (por que a variação em torno da mesma cor básica?). É de Jorge Miguel Matias, que assina uma coluna semanal no Público, um dos melhores jornais portugueses e da Europa. É Planisférico, sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos.
O texto foi publicado em outubro. Fui adiando sua reprodução no Jornal Pessoal. Faço-o agora neste blog para incrementar o debate necessário em torno do contraste entre o enorme potencial do esporte entre nós e a situação lamentável ou dramático dessas duas referências do futebol internacional, do que não deixa dúvida o artigo de Matias, no qual fiz ligeiros ajustes para o entendimento do leitor brasileiro.
Esqueça Benfica-Sporting, AC Milan-Inter de Milão, Boca Juniors-River Plate ou até Flamengo-Fluminense. O maior derby do futebol mundial é o Re-Pa, o mesmo é dizer Remo-Paysandu. A rivalidade entre estes dois emblemas da cidade de Belém, no estado do Pará, no Brasil, nasceu em 1914 e tem sido alimentada ao longo dos 728 jogos que já disputaram entre si (só para ter uma ideia, o Benfica-Sporting tem uma história de “apenas” 293 duelos).
Ao longo de 100 anos de confrontos, o “Leão Azul”, como é conhecido o Remo, leva alguma vantagem, já que venceu 257 vezes (35,3% do total) e marcou 944 gols, enquanto o “Papão da Amazônia” soma 228 triunfos (31,3%) e 902 gols apontados – registram-se ainda 243 empates. Mas o Paysandu pode vangloriar-se de ter mais títulos estaduais (45) do que o Remo (43), embora tenha sido “o mais querido”, como o Remo é apelidado no seu site oficial, que venceu o último, numa final a duas mãos disputada contra… o Paysandu.
O elevado número de embates entre as duas equipes tem a sua explicação. Tudo começa em 1914, quando os dois emblemas adquirem as suas atuais designações. Ambos sempre se mantiveram no principal campeonato estadual, que já leva 102 edições, e sendo uma prova relativamente pequena, com poucos clubes a competir, é inevitável que os confrontos entre os dois sejam frequentes. Aliás, Remo e Paysandu somam 88 títulos, tendo deixado fugir apenas 14 troféus para outros quatro emblemas do estado.
Apesar de, atualmente, atravessarem maus momentos desportivos, a rivalidade entre Remo e Paysandu permanece, embora longe vão os tempos em que o derby, conhecido também como “Clássico Rei da Amazônia”, reunia 65 mil adeptos, como ocorreu em 1999, na que foi a maior assistência registrada em jogos entre ambos até hoje, ou mesmo 50 mil, como sucedeu em 2004. E é preciso recuar até 1993 para descobrir um Re-Pa disputado no principal escalão do futebol brasileiro.
Ao longo de um século de rivalidade, são inevitáveis diversos momentos mais ou menos memoráveis. Dos 7-0 aplicados pelo Paysandu ao Remo, em 1945, naquela que foi a maior goleada entre ambos até hoje, aos 33 jogos que o Remo esteve sem ser derrotado pelo Paysandu (entre 31 de Janeiro de 1993 a 7 de Maio de 1997), no que é apelidado de tabu azulino.
Mas também se encontram vários episódios caricatos. E basta recuar até Fevereiro deste ano para descobrir mais um. Muita chuva, mau relvado, cerca de 20 mil adeptos nas bancadas e o marcador a zero. A partida encaminhava-se para o seu final e o Remo carregava sobre o Paysandu. A cinco minutos dos 90’, Ratinho faz uma boa jogada na área adversária e quando se prepara para finalizar entra em campo um cão, atrapalhando a jogada e impedindo aquele que poderia ser o gol da vitória do Remo. A Fenômeno Azul, claque do Remo, entra em turbilhão, não querendo acreditar como um gol feito é roubado daquela forma por um canídeo, enquanto a Fiel Bicolor, claque do Paysandu, explode em delírio. É, não há derby como o Re-Pa neste mundo.
Fonte/Arte: lucioflaviopinto.wordpress.com/Arquivo

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