CONSCIENTIZAÇÃO: DUAS RODAS RUMO AO LAZER OU À VIAGEM ETERNA



Todos são conhecedores dos inúmeros prazeres que uma motocicleta proporciona, principalmente quando o motociclista profissional pega a bela e longa estrada rumo a destinos tantos. Logo na partida, o ronco do motor anuncia quão prazeroso pode ser o passeio ou não.
Nos primeiros quilômetros percorridos, sequer ficam marcas no asfalto. Os pneus deslizam suavemente e, quanto mais vão sendo passadas as marchas em seu devido tempo, mais os ventos beijam a face do piloto. Se for à noite, a brisa toma conta da viagem; desse modo, o longo percurso se torna curto, e, sem dúvida, o tour transforma-se em momentos repletos de prazeres inesquecíveis.
Relembro que, décadas atrás, possuir uma motocicleta era um verdadeiro sinônimo de glamour e de status. Época em que os motociclistas eram chamados de “filhinhos de papai”. Portando jaquetas de couro, elegiam as máquinas de maiores cilindradas e procuravam decorá-las com um sem-número de adesivos e de adereços. Muitos desses motociclistas integravam afamados clubes de motos; outros procuravam adquirir modelos iguais aos de seus galãs de cinema.
Havia alguns que guardavam cada centavo de cruzeiro ou de cruzado para adquirir uma moto razoavelmente possante. Não dispunham de dinheiro sequer para abastecê-las, e, pelo simples fato de chegarem até a praça e de poderem dar uma volta com a namorada, já se davam por satisfeitos. Outros faziam questão de formar grupos para percorrer as principais ruas e avenidas de suas cidades, e uns poucos empreendiam verdadeiras aventuras saindo em excursões pelas estradas de barro.
Como todos sabem, o uso de motocicletas cresce mais a cada dia, com destaque às grandes metrópoles, e, nas últimas décadas, a “febre das motos” chegou às pequenas e às médias cidades. Dado o baixo preço e o pouco consumo do veículo, um elevado número de pessoas passou a adquiri-las numa escala jamais vista. Alguns as usam como meio de transporte para fugir dos elevados preços da passagem de ônibus e de táxis; outros as utilizam como uma fonte de renda, transformando-as em veículos de passageiros e até de cargas.
O seu uso como veículo de passageiros nas grandes cidades se deveu, principalmente, aos longos congestionamentos e, também, ao grande número de jovens desempregados – eu acho! Desse modo, os grandes fabricantes, de olho nesse potencial nicho de mercado e dada a facilidade de financiamento colocada por corporações financeiras, logo cuidaram de levar ao mercado motocicletas com novos designs, robustas, cleans, teens, com cores inconfundíveis, as quais logo foram conquistando mais e mais usuários ávidos por adquirir uma, mesmo que seja de baixa cilindrada.
Desse modo, ocorreram levas e mais levas de promoções tentadoras, e a oportunidade bateu à porta de um razoável número de usuários responsáveis e portadores de habilitações, conforme determinam as leis de trânsito; também, acho que, até de forma inesperada, tais promoções presentearam milhares de usuários, que não sabiam sequer dirigir uma bicicleta, mas que aproveitaram a oportunidade de adquirir uma moto.
Assim, o que deveria ser um meio de transporte voltado ao entretenimento e ao trabalho, além de ser usado obrigatoriamente por pessoas habilitadas, passou a ser utilizado por toda espécie de amadores. Inconsequentes, transformaram – e continuam transformando – a motocicleta numa verdadeira arma mortífera. No trânsito, sentem-se os donos das ruas e das avenidas. Em zigue-zague, passam entre os automóveis deixando danos de toda ordem. Aceleram e avançam sinais colocando a vida de terceiros e a própria vida em risco.
Ainda não se conscientizaram de que uma motocicleta tem apenas duas rodas e de que mesmo o mais hábil dos profissionais, um dia, perde o comando da máquina; o que se dirá, então, de um pobre usuário que jamais se sentou no banco de uma autoescola? Irresponsáveis ao extremo, não procuram fazer a manutenção do veículo, conforme requer o fabricante; e, ainda, dada a elevada bestialidade amadorística, o capacete, que deveria estar na cabeça, fica preso abaixo do assento da moto ou é levado suspenso no próprio guidão.
Por vezes, fico perguntando-me como uma pessoa se torna passageiro de um mototaxista, e sinceramente me vêm muitas respostas, entre elas: não ser dorminhoco, estar sempre atrasado, não gostar de pagar uma passagem de ônibus, encontrar-se realmente tomado por uma profunda crise financeira temporária ou, de repente, precisar ser transportado porque aconteceu um imprevisto ou uma emergência. Todas são situações aceitáveis e passáveis, mas, em sendo possível, seria muito louvável o passageiro relembrar que aquele lindo capacete que o mototaxista repassa ao usuário pode verdadeiramente estar contaminado de fungos, carrapatos, piolhos, lêndeas, caspa, “líquen-vermelhidão”, foliculite queloidiana na nuca – tinha do couro cabeludo – e demais pragas. Cautela e canja não fazem mal a qualquer couro cabeludo ou a qualquer careca.
A prudência e a responsabilidade na condução de uma motocicleta necessitam estar de mãos dadas, e, ao passear ou ao ir ao trabalho, pense sempre que uma criança pode repentinamente atravessar a rua ou que algum veículo mais pesado pode cruzar o seu caminho, que nem todos os motoristas possuem habilitação e que alguém sem carteira, sem nenhum senso crítico e irresponsável pode estar dirigindo com a cabeça cheia do “elixir tombante e outras coisitas”, e assim pode estar muito bem vendo duas motos em vez de uma. E não se esqueça de que, se houver um simples descuido, você faz ou se torna uma vítima com graves sequelas ou parte para a eternidade. Foi assim que eu já perdi vários amigos.
Igualmente, a cada vez que você for usar esse magnífico veículo, não se esqueça de fazer uma oração, uma reza ou de benzer-se, afinal isso não toma o seu tempo, e Deus e todos os santos vão lhe agradecer muito; mas, se você for um ateu, faça ao menos uma figa. É válido ressaltar o mais importante: existem pessoas que o amam, que gostam e precisam muito de você. Você é mais importante que uma motocicleta ou que qualquer veículo terrestre ou espacial.
Pensemos nisso!

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Fonte: Bom Trânsito! Bom Dia! pp.54,55,56,57,58.Editor:Lison Costa.
Autor: Lison Costa.
Obs. em breve, na livraria Saraiva.

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