PESQUISAS AO GOSTO DO CLIENTE
A manchete de hoje de O
Liberal anuncia que Simão Jatene subiu de 40% para 42% e Helder Barbalho caiu
de 40% para 38%. E que o governador conquistaria a reeleição no 2º turno por
42% a 40%. Já o Diário do Pará, também na capa da edição dominical, diz que
Helder “vence no primeiro turno”.
Ambos os jornais manipulam
não só os dados das pesquisas que utilizam como as próprias sondagens. Partem
da premissa de que falta inteligência aos seus leitores para perceber as
manobras. Aceitarão comprar gato por lebre. E assim serão induzidos a votar nos
candidatos opostos dos dois grupos que dominam a comunicação de massa no Pará.
O grupo Liberal inovou na
história mundial das pesquisas ao ironizar e procurar desacreditar a empresa
que contratou para executar o trabalho. Foi esse o procedimento do jornal da
família Maiorana ao anunciar, no mês passado, os resultados da primeira
pesquisa do Ibope.
O instituto, o mais antigo
e o de maior credibilidade do país, foi contratado pela TV Liberal e não pelo
jornal. Os Maiorana, se pudessem, não teriam usado o Ibope, ao menos não
naquele momento. Já esperavam – embora temessem – pelo resultado: Helder
praticamente empatado com Jatene, que se distanciava apenas um ponto e deixava
de ser o franco favorito, conforme seus patrocinadores na imprensa o
projetavam.
O empate logo na primeira
pesquisa era considerado impossível pelos tucanos e aliados. Ou debitada na
conta dos exageros dos veículos de comunicação dos Barbalho. O selo do Ibope
cancelava de vez uma surpresa que já vinha se desfazendo no mundo da realidade:
era evidente o avanço da candidatura do filho do senador Jader Barbalho, do
PMDB.
Os Maiorana tiveram que
engolir o Ibope, obrigados pelos Marinho, os donos da Rede Globo, sem a qual as
Organizações Romulo Maiorana estariam em sérias dificuldades econômicas e
financeiras. Mas prepararam uma reação para a pesquisa seguinte: a calçaram com
os resultados da encomenda (literalmente falando) feita ao Sensus, de Belo
Horizonte, muito ligado em Minas ao PSDB de Jatene e ao candidato tucano à
presidência da república, Aécio Neves.
A terceira pesquisa do
Ibope no Pará, noticiada hoje, não teve mais essa companhia: ficou sozinha.
Porque agora seus resultados agradaram aos Maiorana (além do próprio Jatene, é
claro). O Ibope voltou atrás e mexeu nos números? A pesquisa do Sensus
influenciou o eleitorado a chegar à posição que agora o Ibope retratou?
Mesmo sem ter respostas
para essas perguntas, há discrepâncias e inconsistências entre as três
pesquisas do Ibope. Acima disso, porém, elas permitem interpretação (ou “leitura”,
conforme o jargão) diversa da que O Liberal apresentou aos seus leitores. No
mundo da realidade, as tendências eleitorais dos dois candidatos podem estar
mais emboladas (como estiveram nas duas pesquisas anteriores) do que agora,
quando se manifesta tendência favorável ao governador.
Na segunda pesquisa os
dois candidatos evoluíram para o empate em 40%, mas com um crescimento de
Helder (a partir de 38%) um pouco menos aquecido do que o de Jatene (com 37%).
A tendência foi incrementada agora, com 42% a 38% em favor do governador. Ainda
assim, considerando-se a margem de erro de 3% para cima e para baixo, os dois
podem estar, na realidade, empatados, já que a diferença entre eles é de 4% e o
máximo de erro possível é de 5%.
Essa tendência, de
crescimento proporcionalmente maior de Jatene, é desmentida pela própria
sondagem de 2º turno do Ibope. Na segunda eleição, que acontecerá três semanas
depois da primeira, Jatene estacionaria nos 42%, enquanto Helder cresceria dois
pontos, chegando a 40%. Significa que, considerando a média da margem de erro,
ele pode estar empatado com Jatene ou até o vencendo, na opinião de hoje dos
eleitores consultados pelo instituto. É o “retrato do momento”, como dizem.
Aí há outro complicador. A
pesquisa que O Liberal destacou foi sempre a estimulada, tanto na capa como na
página interna. A que escondeu foi a espontânea. Por um motivo: nela Jatene
caiu de 24% para 19% da primeira para a segunda pesquisa e, estranhamente, sem
nenhum fato traumático aparente no período, pulou para 27% na terceira.
Já Hélder Barbalho caiu de
22% para 20% e parou nesses 20% na pesquisa anunciada hoje. Isso tudo no
primeiro turno. No entanto, enquanto Jatene não consegue passar dos 42% da estimulada
do primeiro para o segundo turno, Helder cresce para 40% na segunda votação.
Que conclusão tirar desses
números aparentemente desencontrados? Talvez a conclusão de que quanto mais
Helder aparecer, maiores serão as possibilidades de ele vencer no 2º turno (já
que parece definido pelas pesquisas que haverá 2º turno). Simão Jatene chegou
ao limite, ao topo das suas possibilidades.
A rigor, ele dependerá
tanto do desempenho do adversário, se conseguir ser bem sucedido, e da
possibilidade de quebrar a descrença, o ceticismo e a rejeição de parcela
fundamental do eleitorado contra ambos. Sintomático desse quadro é a evolução,
na pesquisa estimulada do Ibope, da quantidade dos que não sabem ou não
responderam à pergunta dos entrevistadores sobre sua opção de voto: eles passam
de 10% para 13% do 1º para o 2º turno. É um notável crescimento: de 30%. Muito
maior do que o desempenho dos próprios candidatos.
É a confirmação –
dramática e triste – de que os eleitores não conseguem chegar a um nome
aceitável e nem mesmo, como reclamou um deles, chegar ao “menos pior”.
E as pesquisas do Diário
do Pará? Com todo respeito ao jornal e aos dois institutos que contratou, elas
têm a marca da indução de tendência. Não só há discrepância interna quanto
externa como a escolha simultânea de dois institutos de menor expressão e pouca
credibilidade (quando há a Datafolha ou mesmo o Vox Populi no mercado). Os
Barbalho repetem a estratégia dos Maiorana. Essa atitude não estimula a análise
do que apresentaram.
Pode ser até que venham a
acertar (nome, aliás, de outro instituto, que raramente acertava), mas aí já
será astrologia e não técnica de sondagem de opinião.
Entre quem se dá ao
trabalho de tentar analisar objetiva e tecnicamente os números, essas pesquisas
têm efeito contrário ao possivelmente pretendido. Levantam uma pergunta: será
que os Barbalho não estão acreditando no seu candidato? Ou já estão na fase do
jogar tudo para o ar e ver o que vai cair?
Daí a perplexidade, a
descrença e a indignação de parcela do eleitorado que poderia decidir a
eleição, caso a disputa vá ao final por margem mínima de votos. E, afinal,
ainda pode. Por enquanto, pesquisa não é voto. E voto, como todos sabem desde
que a democracia deixou de ser exercida entre os gregos pelo grito em praça pública,
onde todos se reuniam (menos todos os de fora do rol dos escolhidos), resultado
de urna é igual ao da gravidez: só depois da apuração (ou da délivrance) é que
se sabe. Ou se fica irremediavelmente com a pulga democrática atrás da orelha.
Fonte:
lucioflaviopinto.wordpress.com
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