O IMPONDERÁVEL ASSOMBRA A IMPRENSA
Eduardo Campos: vivo, um coadjuvante de peso; morto,
um grande cabo eleitoral
*Por Luciano Martins Costa em
14/08/2014
A morte trágica do
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos interrompe o processo político
iniciado com a série de entrevistas de candidatos à Presidência da República no Jornal Nacional
da TV Globo. Campos foi surpreendido pela tragédia quando ainda estava
celebrando o que considerava um bom desempenho diante da bancada que conta com
a maior audiência entre os telejornais. Alguns analistas já ponderavam que esse
seria o ponto zero de sua candidatura, empacada em torno de 8% nas pesquisas de
intenção de voto.
Curiosamente, a fatalidade
pode alavancar para um novo patamar a alternativa representada por Eduardo
Campos, se seu partido, o PSB, optar pela solução natural de colocar na cabeça
de chapa a ex-ministra Marina Silva.
Marina partiria com um
patrimônio de 20%, equivalente ao melhor índice alcançado pelo outro candidato
oposicionista, Aécio Neves, do PSDB, com toda a visibilidade e o apoio
explícito que lhe dá a imprensa.
Em agosto do ano passado,
quando ainda havia a possibilidade de se lançar candidata à Presidência à
frente da Rede Sustentabilidade, a ex-ministra chegou a alcançar 26% numa
pesquisa Datafolha, conforme lembra a Folha de S.Paulo na edição de
quinta-feira (14/8). Mesmo com o naufrágio de seu projeto partidário, e
colocada em segundo plano na chapa do PSB, ela aparecia nas sondagens como
detentora de um potencial mais promissor do que o de Eduardo Campos.
O horário do acidente,
ocorrido na manhã de quarta-feira (13), deu à mídia um longo período para
especular sobre as circunstâncias em que se deu a tragédia, e ainda sobrou
tempo para avançar em especulações em torno das consequências políticas da
morte do ex-governador. Ao longo do dia, informações desencontradas falavam de
choque com um helicóptero, versão sustentada pela TV Bandeirantes, e até mesmo
de um possível atentado, hipótese anunciada ao vivo por um imaginoso
apresentador da TV Record.
Coube à GloboNews a
primazia de inserir apostas apressadas sobre o cenário político no clima de
comoção, com uma entrevista afoita do senador Christóvam Buarque (PDT-DF),
seguida por palpites de comentaristas da emissora. Diante do evento inesperado,
os especialistas em generalidades ficaram sem referências.
Pesquisa em clima de
velório
Na quinta-feira (14),
passado o choque, analistas credenciados junto à mídia tradicional buscam
elementos para projetar um novo cenário na disputa eleitoral. A tendência é a
de apostar que a provável indicação de Marina Silva para a cabeça de chapa do
PSB tiraria votos em igual proporção da presidente Dilma Rousseff, candidata à
reeleição, e do senador Aécio Neves, segundo colocado nas pesquisas. Apenas um
entre os principais observadores da política, o colunista Elio Gaspari, sugere
a hipótese de uma aliança entre Aécio e Marina Silva.
A maioria dos analistas usa
como referência principal os indicadores das pesquisas mais recentes,
eventualmente comparando com a eleição de 2010, quando a ex-ministra do Meio
Ambiente empolgou uma parte considerável do eleitorado mais jovem. Entrevistado
pelo Globo, o analista e porta-voz do Datafolha, Mauro Paulino, anunciou que o
instituto já estaria colhendo opiniões sobre a mudança do cenário, mas
considerava arriscada qualquer insinuação.
Márcia Cavallari, analista
do Ibope, também ouvida pelo jornal carioca, disse que o instituto não vai
fazer pesquisa em cima da tragédia e que a próxima sondagem só vai ser
realizada em setembro.
Se os pesquisadores
consideravam imprevisível o resultado da eleição com a presença de Eduardo
Campos, seu desaparecimento pode produzir uma mudança radical na perspectiva do
eleitorado, observam os especialistas. No entanto, a leitura das declarações de
alguns protagonistas de peso indica que, se lançada candidata, Marina Silva tem
grandes chances de personificar com mais densidade o desejo de mudança que
aparece, ainda que difuso, mas de forma consistente, em todas as pesquisas
feitas a partir de junho do ano passado. Essa perspectiva deslocaria o
candidato do PSDB para uma posição marginal, com menos chance de ver crescer
seu eleitorado.
A morte de Eduardo Campos
rompe uma situação nova que se desenhava com a série de entrevistas ao
telejornal da Rede Globo, e que poderia se consolidar com a sequência de
sabatinas e debates programados pela mídia.
O forte apelo emocional da
tragédia será explorado com cautela pelos contendores, porque o ex-governador
de Pernambuco, embora na oposição, tinha fortes vínculos com o partido que
controla o Planalto. Vivo, ele era um coadjuvante de peso; morto, se transforma
no grande cabo eleitoral.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br

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