PARÁ: FANTÁSTICO ACOMPANHA BUSCAS PARA ENCONTRAR DESAPARECIDOS DE BIMOTOR
O Fantástico acompanhou o passo a passo de uma busca
incansável por cinco vidas em uma das regiões mais isoladas da Floresta
Amazônica.
O Fantástico acompanhou o
passo a passo de uma busca incansável em uma das regiões mais isoladas da
Floresta Amazônica. Uma busca por cinco vidas.
Equipes da Força Aérea
Brasileira (FAB) já vasculharam milhares de quilômetros de selva, por terra e
pelo ar, mas o mistério continua: o que teria acontecido com o avião bimotor
que sumiu no Pará há quase um mês?
“Cada dia que passa, mais
sofrimento que fica”, diz Ramiro Aguiar, pai de Luciney Aguiar.
“Achar que eles possam
estar bem ou então que estejam precisando muito da gente, se estão machucados,
a gente não sabe o que aconteceu”, diz Marilia Esquerdo, mulher do comandante
Feltrim.
“Fica até difícil falar
sobre isso sem encher os olhos de lágrimas”, emociona-se Andressa Aguiar,
sobrinha de Luciney.
Terça-feira, 18 de março.
O bimotor Beechcraft, modelo Baron, era pilotado pelo comandante Luís Feltrin,
de 53 anos e com mais de 30 de experiência em voos na Amazônia.
Além do piloto, estavam no
avião quatro funcionários da Secretaria Especial de Saúde Indígena: o motorista
Ari Lima e as técnicas de enfermagem Raimunda Lúcia da Silva Costa, Rayline
Sabrina Brito Campos e Luciney Aguiar de Sousa.
A viagem, de cerca de 300
quilômetros, entre Itaituba e Jacareacanga, no sudoeste do Pará, tinha duração
prevista de 55 minutos. A 12 minutos do pouso, o piloto chamou o operador da
pista da Infraero em Jacareacanga para saber como estava o tempo na região.
“Foi informado ao
comandante que estava chovendo na vizinhança e que a visibilidade se
restringindo. Não havia condições de pouso em condições visuais”, afirma Jetson
Gomes, operador da Infraero em Jacareacanga.
Faltando seis minutos para
a aterrissagem, o comandante Feltrin tenta falar com o piloto Dário Correia,
que havia decolado pouco depois dele.
“Ele só me disse que
estava monomotor, que o motor esquerdo havia parado. Eu ainda pedi para ele me
confirmar a mensagem, porque eu estava com o rádio muito baixo. Ele confirmou
que o motor esquerdo havia parado”, conta o piloto Dário Correia.
Quase ao mesmo tempo, uma
das passageiras, a técnica de enfermagem Rayline, envia uma mensagem de celular
para o tio, alertando sobre a pane: "Tio, tô em um temporal e o motor
parou. Avisa à mãe que amo muito todos. Tô aflita, tô em pânico... Se eu sair
bem, aviso. Tô perto de JKRE (uma abreviação de Jacareacanga). Reza por nós,
não avisa a tia ainda''.
Um minuto depois, a
segunda mensagem: "O motor tá parando. Socorro, tio''.
“Passei uma mensagem para
ela de volta. Aí, não teve retorno, nada. Liguei e não consegui mais nada”,
lembra Rubélio Santos, tio da Rayline.
Às 12h50, Luís Feltrin
entra em contato com Dário pela última vez, dizendo que o segundo motor também
tinha parado.
“Infelizmente, após ele
dizer que o motor direito estava parando também, eu perdi contato com ele”,
conta Dário Correa.
O bimotor sumiu dos
radares às 12h53. Sempre que chegava de viagem, o comandante Feltrin ligava
para a mulher, que estranhou a demora dessa vez.
“O telefone chamou até
cair na caixa-postal. Depois de cinco minutos, eu liguei de novo e estava fora
de área”, conta Marilia Esquerdo.
O Fantástico passou três
dias no meio da Floresta Amazônica para acompanhar, com exclusividade, as
buscas. Do alto, se percebe que a região é uma das mais isoladas da Amazônia.
No caminho entre as duas
cidades existem vários parques e reservas florestais, ou seja, são áreas
preservadas, de mata nativa. Além disso, é uma região de serra, montanhosa, por
isso é muito difícil encontrar alguma área descampada, onde seja possível fazer
um pouso de emergência se houver um problema no avião.
“Estamos no inverno
amazônico, chove muito, inclusive este ano está chovendo até demais nessa
região. Então, fica muito difícil voar com esses aviões pequenos. Você não tem
muito apoio de solo, de pista, de controle”, explica o piloto Cláudio Collere.
Ao descer em Jacareacanga,
a equipe de reportagem encontrou no aeroporto vários parentes dos
desaparecidos. Os quatro passageiros iam levar medicamentos para aldeias
indígenas, passariam vinte dias trabalhando na floresta.
“Depois que entrei no
computador é que eu vi a foto dela com mais duas pessoas, duas técnicas de
enfermagem, que tinham caído o avião. Aí, na mesma hora, liguei para os meus
parentes de Itaituba para saber se era verdade. Aí, me avisaram que era
verdade”, afirma João Vitor de Souza, filho de Luciney.
“Gosta demais do que faz.
Eu digo que gosta porque acredito que eles estão vivos e esperando a nossa
ajuda e o resgate”, diz Sidney Aguiar, irmã de Luciney.
As buscas são coordenadas
pela FAB. Um avião P3-Orion, que possui sensores capazes de detectar partes
metálicas na mata e no fundo do mar, sobrevoou a região. Até agora, foram 192
horas de voos sobre 23 mil quilômetros quadrados.
A mata é muito densa. Do
alto, percebe-se que a copa das árvores forma uma espécie de cobertura que
prejudica muito a visualização.
A equipe de reportagem
acompanhou também a missão de busca por terra. Quinta-feira, 10 de abril. O
tempo amanheceu fechado. A equipe percorreria 30 quilômetros de Rodovia
Transamazônica nessas condições até se encontrar com uma das equipes que estão
vasculhando a mata para tentar localizar o avião.
De acordo com o tenente,
na área alagada tem uma grande ocorrência de cobras, insetos e outros animais.
“Porco-do-mato, que é muito perigoso. Sempre que a gente anda nessa região,
procura andar armado, para proteger a nossa equipe”, afirma o tenente Tiago
Vilhena, do Corpo de Bombeiros.
A chuva forte prejudica
muito o trabalho de buscas. “Prejudica porque, se na floresta existir algum
rastro, com a chuva já vai deixar de existir. Vai ficar complicado agora. Se a
pessoa tiver algum conhecimento da floresta, ela consegue, porque a selva
oferece alimento e oferece água. Mas se a pessoa não conhecer a selva, fica
complicado. É muito quente, muito úmido, você transpira bastante e desidrata
muito rápido”, ressalta o tenente.
A equipe de resgate já
percorreu 50 quilômetros de selva durante mais de 200 horas, mas o número de
militares – são cerca de 25 - é considerado pequeno pelas famílias das vítimas.
“Tempo é vida. Se eles
estiverem vivos na mata, quanto mais tempo demorar, um dia a mais é um dia a
menos”, diz Jéssica Feltrin, filha do comandante Feltrim.
Jéssica juntou R$ 19 mil
em doações para oferecer uma recompensa a quem encontrar o avião.
“Muitos deixam seus
trabalhos, entram na mata para procurar a aeronave. Outros que não podem fazer
isso doam. Muita gente doando suprimento e equipamentos, como bota, facão”,
conta Jéssica.
“A gente tem esperança que
um dia eles vão ser encontrados. Que seja logo”, diz a mulher do piloto
Feltrin.
“É nisso que a gente se
apega, para não ter que desistir”, diz Sidney, irmã de Lucy.
Fonte/Foto:
g1.globo.com - PA
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