OS PIRATAS FLUVIAIS DA AMAZÔNIA
Lancha de ataque rápido da Policia Militar. |
Criminosos que roubam criminosos, corpos abertos
jogados nos rios e prisões em dia de tempestade são algumas das histórias
recentes de pirataria no Rio Amazonas e seus afluentes.
BELÉM, Brasil – Piratas
não são exclusividade dos oceanos. Nos rios da Amazônia, há quadrilhas que se
especializam em abordar e pilhar todo tipo de embarcação.
Episódios recentes mostram
que os piratas fluviais da Amazônia podem ser tão cruéis quanto os somalis
retratados em “Capitão Phillips”, filme indicado ao Oscar de 2014 que conta a
história de um navio invadido por bandidos no Oceano Índico.
Em fevereiro de 2013, o
corpo de um piloto de uma voadeira foi encontrado no Rio Negro, em Manaus,
capital do Amazonas. Ele tinha sido assassinado pelo bando Piratas do Rio
Negro.
Também chamado de Barriga
D’água, o bando saqueava embarcações, matava a vítima e jogava o corpo, com a
barriga aberta, no rio para não boiar.
Em maio último, o líder do
bando, Arlindo Jabelo de Sena, foi preso. Ele é acusado de três latrocínios,
mas a polícia suspeita de que ele cometeu pelo menos outros dez crimes na orla
de Manaus e municípios do Amazonas.
“O bando tinha como
principal alvo os traficantes e contrabandistas da região. Eles queriam drogas
e produtos piratas”, diz o tenente Valdemir Reis, comandante da 2ª Companhia de
Policiamento Ambiental e Fluvial da Polícia Militar do Amazonas. “E eles
matavam as vítimas porque sabiam que, se elas continuassem vivas, teria
retaliação.”
No Pará, as Polícias
Militar e Civil monitoram os rios com o apoio do Corpo de Bombeiros, da Marinha
e do Ibama. Para uma melhor integração entre essas corporações, a Secretaria de
Segurança Pública do Pará criou, em 2011, o Grupamento Fluvial do Sistema de
Segurança Pública (Gflu).
Em janeiro de 2013, a
operação Corsário resultou na prisão de 11 piratas que praticavam crimes no Rio
Amazonas, no Pará. Precedida por seis meses de investigações do Gflu, a
operação foi realizada durante uma forte tempestade, para evitar que os piratas
ouvissem os motores das embarcações da polícia se aproximando.
“Os presos faziam parte de
quadrilhas diferentes, embora não fossem rivais. Alguns criminosos agiam em
dois bandos”, explica o delegado Dilermando Dantas, diretor do Gflu. “Neste
caso, as prisões foram feitas após denúncias anônimas.”
Há atualmente duas
quadrilhas de piratas fluviais agindo no Pará, diz Dantas.
“Esses bandidos já foram
identificados e estão sendo monitorados”, assegura o delegado, acrescentando
que moradores das margens dos rios estão sendo recrutados por criminosos para
assaltar embarcações. “Organizações criminosas estão recrutando ribeirinhos
para trabalhar para eles, porque sabem que eles conhecem bem a malha
hidroviária e as embarcações.”
Dantas explica que o
policiamento ostensivo ocorre apenas nos principais corredores hidroviários,
mas o policiamento investigativo é setorizado por regiões e feito tanto por
água como por terra.
“Nosso trabalho é em
conjunto com a comunidade ribeirinha”, explica o major Kleverton Firmino,
comandante da Companhia Independente de Policiamento Fluvial da Polícia Militar
(Cipflu), que integra o Gflu. “Quando a população confia na gente, passa a
denunciar.”
A captura de piratas é
dificultada pelas dimensões territoriais e a tábua das marés, diz Dantas.
“Para contornar estes
problemas, além do trabalho de inteligência e de treinamento constantes,
adquirimos equipamentos e embarcações de maior porte”, diz o delegado.
Cada região da Amazônia
tem quadrilhas com especialidades diferentes.
No centro e no nordeste do
arquipélago do Marajó, por exemplo, os piratas se especializaram no roubo de
gado, pois é a principal atividade da região.
No sul e sudoeste do
arquipélago, há um grande fluxo de transporte de cargas oriundas de Macapá,
capital do Amapá, e Manaus, capital do Amazonas. Naquela região, os piratas se
especializaram no roubo de carga e desvio de combustível.
Já na orla de Belém,
capital do Pará, e ilhas adjacentes, os crimes ocorrem nos principais
corredores hidroviários contra passageiros e tripulantes, e nas margens, contra
comunidades ribeirinhas.
Um dos episódios mais
marcantes terminou com a morte da universitária Rafaelen de Souza Cavalcante em
2011. A estudante de 20 anos morreu com um tiro na cabeça quando a balsa em que
viajava foi invadida por piratas fluviais.
Conhecida como Família
Caterpillar, a quadrilha que matou Rafaelen era responsável por 70% dos
assaltos a embarcações em Belém, segundo a polícia. No fim daquele ano, nove
integrantes da família e mais oito de Crimes Fluviais (DPflu).
“A maioria dos criminosos
são bandidos que foram afugentados da capital e acabaram ocupando os rios”, diz
o tenente coronel Ayrton Norte, comandante do Batalhão de Polícia Militar de
Solimões, no Amazonas. “Eles pensaram que se dariam bem nos rios, mas as
autoridades criaram uma força tarefa para atuar nas águas com o mesmo vigor que
atuam em terra.”
Fonte/Fotos:
César Modesto, para Infosurhoy.com/Cortesia da Polícia Militar do Amazonas
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