OPINIÃO

Rede Globo ditando padrão ético e dando pito no Judiciário amazonense? Viva a Rede Globo. Onde estávamos, enquanto isso?
A Rede Globo, desde anteontem, domingo (19/01), no programa Fantástico, vem detonando o prefeito de Coari, Adail Pinheiro. Eleito com votação espetacular, reeleito com votação ainda mais expressiva, preso, solto e eleito de novo, Adail é passado na casca do alho. Parece ter uma couraça de aço, tanto do ponto de vista político quanto jurídico. Ocorre que, desta vez, a Globo acertou a mão e colheu testemunhos contundentes, dos quais o maior é, certamente, o de um ex-motorista dele, que o define como “doente”, por ignorar as mulheres, por mais bonitas que sejam, escolhendo apenas crianças e virgens.
A Globo falou, todo mundo se mexeu. Mães falaram. Conselheiro tutelar aceitou dar depoimento. Onde estava esse pessoal todo, todos esses anos, enquanto Adail marcava as vidas dessas meninas para sempre, aos olhos da sociedade coariense, onde ninguém parece ignorar as práticas do atual prefeito? Onde estávamos nós, imprensa, que não vimos nada disso? Por que algo tão atroz ocorreu debaixo dos nossos narizes, sem que trouxéssemos à tona?
Jornalista, em primeiro lugar, não tem bola de cristal, embora muita gente acredite que tenha. Não é nenhum ser sobrenatural, mesmo com a sociedade achando que sim – e até é engraçado quando alguém faz uma denúncia grave, com risco para o denunciante, e pede: “Não põe meu nome, tá? Esse pessoal é muito violento”. Quer dizer, o jornalista pode meter o peito na frente – que deve ser de aço – e o “corajoso” denunciante não.
E os jornais, rádios e TVs de Manaus noticiaram sim os crimes de Adail. Só não houve continuidade na cobrança. Ou será que o Judiciário local só reage diante do escândalo nacional?
Jornalismo corajoso, investigativo, vigilante, corre riscos sim. Mas, hoje, com as possibilidades abertas por FaceBook, Twitter, Watsapp e tantos outros meios, a sociedade tem uma parcela de participação no noticiário. É dela também uma parte da responsabilidade por monstros, como Adail Pinheiro foi pintado, continuarem incólumes e praticando atrocidades como estuprar uma menina de 9 anos e hoje perseguir a filha dela, de 11, para estuprar também.
Não acho que o caso seja de perseguição política. Não creio em complô da oposição. Se foi daí que saiu a inspiração para a matéria da Rede Globo, contudo, benditos sejam a perseguição e o complô. Adail está nu. Agora só não vê quem não quer.
Houve muita e justa cobrança pela repercussão do Fantástico na mídia local. Pegou mal para os veículos que não ligaram para a matéria. Claro que não falo daquela patrulha simplória, década de 1960, que cobra do colega uma coragem que não teve em tantos outros episódios.
Falei sobre o tema na rádio Tiradentes. Ronaldo também falou. Cobramos consequências, como cobro aqui também.
Se desta vez nada for feito, se nem com a amplitude da TV Globo conseguirmos desbancar aquele que um dia foi chamado de “meu amigo e meu camarada” pelo presidente Lula e posa ao lado das autoridades estaduais, graças ao incrível arsenal de votos, estaremos desmoralizados perante o País. Quase tanto quanto a mídia está ficando em relação ao Maranhão de Roseana e José Sarney e sua Pedrinhas, no meio do caminho.

Fonte: blogmarcossantos.com.br

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