PLANTIOS DE COCA AMEAÇAM FLORESTA AMAZÔNICA NA FRONTEIRA DO BRASIL
A expansão das plantações
de coca, matéria-prima da cocaína, na região do rio Javari no território do
Peru, está deixando um rastro de destruição na floresta amazônica que faz
fronteira com o Brasil.
A zona da coca fica na
divisa com o sudoeste do Estado do Amazonas. Os impactos ambientais são uma
ameaça ao ecossistema da quase intocada Terra Indígena Vale do Javari, onde
vivem etnias isoladas brasileiras.
Segundo a Polícia Federal
do Brasil, os “cocaleros”, como são chamados os agricultores do tráfico,
devastam áreas de floresta nativa, lançam insumos químicos, gasolina e
querosene, usados na produção da pasta base de cocaína, diretamente nos
afluentes do rio Javari, que recebe o mesmo nome do lado do Brasil.
O Relatório Monitoramento
de Cultivos de Coca em 2012 no Peru, publicado no mês de setembro pela ONU
(Organizações das Nações Unidas) e Devida (Comissão Nacional para o
Desenvolvimento e Vida Sem Drogas), diz que a área de cultivo de coca que mais
aumentou no país foi justamente nesta região de fronteira, que no lado peruano
chama-se Bajo Amazonas, pertencente à Província de Ramon Castilla, Departamento
de Loreto.
No lado da fronteira
peruana, segundo a ONU, foram identificados 2.959 hectares de plantações de
coca, em 2012, contra 1.710 hectares, em 2011, um aumento de 73%.
O superintendente da
Polícia Federal no Amazonas, delegado Sérgio Fontes, afirma que a área ocupada
pelos plantios na fronteira com o Brasil é bem maior do que mostram os dados da
ONU. Com bases em imagens de satélites e informações de inteligência da
Operação Trapézio 3, a PF diz que as plantações de coca nas margens do rio
Javari somam 10 mil hectares.
“Infelizmente é essa a
realidade. Hoje nós temos as plantações de folha de coca praticamente coladas
na nossa fronteira. São 10 mil hectares, é a nossa estimativa”, disse delegado.
As florestas são
destruídas também com o apoio dos colonos e integrantes de uma seita religiosa
arregimentados pelas organizações criminosas. “Eles (os narcotraficantes)
desmatam muito para plantar coca. São crimes ambientais que estão sendo
produzidos diariamente para que essa cadeia produtiva da droga chegue até o
final. Ou seja, são insumos químicos e gasolina jogados nos rios”, afirmou
Fontes.
Vulnerável
A fronteira do sudoeste do
Amazonas com o Peru tem uma extensão de 1.565 quilômetros. Do lado do rio
Javari brasileiro está a Terra Indígena Vale do Javari, que tem 8,5 milhões de
hectares, município de Atalaia do Norte (1.136 km de Manaus). Em solo
brasileiro, conforme a PF, não foi identificado plantio de coca. Também não há
informações precisas sobre os impactos ambientais na reserva indígena.
Mas, o aumento dos
plantios no Peru deixa o lado brasileiro mais vulnerável, diz a polícia. A
reserva indígena do Brasil é habitada por etnias indígenas isoladas. O IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano) na localidade é um dos piores do
país_similar a de países africanos como Ruanda.
Sobrevoos
O delegado Sérgio Fontes
participou de sobrevoos de helicópteros com representantes da Força Nacional do
Peru. Ele disse que foi possível comprovar a devastação da floresta peruana.
“Ao sobrevoarmos vemos que
não tem mais florestas no lado peruano. É só plantações de coca. É um prejuízo
ambiental irreparável, uma ameaça séria. Mas, ainda não é maior do que fazem os
grileiros e madeireiros responsáveis pelo desmatamento ilegal no Brasil”, disse
o delegado.
O Relatório Monitoramento
de Cultivos de Coca no Peru confirma os danos ambientais provocados pelas
plantações de coca. “O cultivo de coca contribui para o processo de
desmatamento da floresta. Os rios são assoreados pelo alargamento dos canais”.
A Operação Trapézio 3 é
uma ação binacional entre a Polícia Federal do Brasil e Polícia Nacional do
Peru, além do apoio com as Forças Armadas dos dois países. Para 2014, ano da
Copa do Mundo, estão previstas duas edições da Trapézio.
A reportagem do portal
Amazônia Real teve acesso imagens de vídeo da operação. Policiais combatem o
narcotráfico no meio da selva, destruindo com fogo os laboratórios de
processamento da droga. Destruir os laboratórios em solo peruano é o principal
foco na estratégia de combate aos crimes da operação, segundo a PF.
“A malha hidroviária na
bacia amazônica é extremamente difícil. As distâncias são enormes. O efetivo
que é colocado à disposição para esse trabalho não é adequado. É por isso que a
apreensão da cocaína não é o objetivo maior. Hoje é melhor interditar os
laboratórios, pois eles (os criminosos) perdem toda a produção”, disse o
delegado Sérgio Fontes.
Por causa dos danos
ambientais, a ação policial não utilizada mais produtos químicos, como desfolhantes,
para erradicar os plantios. Eles erradicam as plantações manualmente, com apoio
de trabalhadores contratados pela polícia peruana. “A solução é retirar as
plantas manualmente, o que é uma loucura”, afirma o delegado.
Segundo ele, uma parte da
pasta base de cocaína produzida no rio Javari peruano segue para os
laboratórios situados na Colômbia. Mas, a maior produção destina-se aos Estados
do Norte e Nordeste do Brasil.
A produção anual de pasta
base nesta região, conforme relatório da Operação Trapézio, pode superar a 100
toneladas. A rota da distribuição da droga parte de Manaus, segue para Belém
(PA) e Fortaleza (CE).
No balanço divulgado em
setembro, a coordenação da Operação Trapézio diz que durante a ação no rio
Javari peruano foram apreendidas 150.800 toneladas das várias formas da
produção da cocaína (folhas secas e maceradas, sulfato de cocaína e pasta base)
e destruídos 28 laboratórios localizados na selva.
Conforme os dados da
operação, a produção de cocaína na fronteira do no Peru causa danos de evasão
de divisas, à saúde pública e ao meio ambiente estimados em US$ 30 milhões por
ano.
O Relatório Monitoramento
de Cultivos de Coca no Peru diz que a produção de cocaína na região é
facilitada pelo fornecimento de insumos químicos pelos comércios das cidades de
Letícia, na Colômbia, e Tabatinga, no Brasil.
Fonte/Fotos:
amazoniareal.com.br/Polícia Federal - Divulgação
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