FALTA DE HIGIENE NO MANUSEIO DO TUCUMÃ PODE TER SIDO A CAUSA DA MORTE DE UMA ADOLESCENTE NO INTERIOR DO AMAZONAS
Autoridades da Embrapa e da Vigilância em Saúde do AM
descartam que composto tenha matado adolescente em Parintins
Fundação de Vigilância em
Saúde (FVS) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), acreditam
que a falta de higiene no processamento e armazenamento do tucumã tenha sido a
causa da morte da adolescente de 17 anos no município de Parintins distante 325
quilômetros de Manaus e não o composto químico carbureto.
As causas da morte da
adolescente continuam sendo apuradas. A Secretaria de Saúde de Parintins
(Semsa), enviou amostras de tucumã e do sangue da adolescente para serem
analisadas por um laboratório em Manaus.
O diretor presidente da
Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Bernardino Albuquerque, informou que uma
equipe formada por técnicos da Vigilância Sanitária e epidemiológica da FVS, se
deslocaram até o município para fazer análises e identificar as causas da
contaminação.
Ainda de acordo com
Bernardino, o óbito pode não ter relação com produto químico carbureto e sim
com a falta de higiene ao manusear os alimentos. “Os indícios de falta de
higienização com o tucumã específicamente são fortes. Nós temos que fazer um
trabalho mais apurado no sentido de investigar melhor a situação. A primeira
hipótese levantada é de que tenha sido o tucumã, mas pode ter sido um queijo ou
outro produto, contaminado com uma bactéria ou mesmo um agrotóxico”, explicou
Bernardino.
O agrônomo da Embrapa
Jeferson Macedo descarta a possibilidade de o uso do carbureto ter intoxicado o
fruto. Para ele, o mais provável é que a falta de higiene no processamento e
armazenamento da fruta seja a causa da intoxicação.
“A polpa do tucumã é muito
rica em gorduras e é uma fonte extraordinária para a proliferação de fungos e
bactérias. Pelas características, tudo leva a crer que foi uma contaminação
biológica, e não pelo carbureto”, disse o pesquisador.
O resultado das análises
deve ser concluído até a metade da próxima semana, de acordo com a Fundação de
Vigilância em Saúde (FVS), até lá a comercialização de tucumã está suspensa.
A Prefeitura de Parintins
recolheu os tucumãs vendidos nas feiras de
Itaúna, do Centro e Zezito
Assayag, onde teria sido comprado o fruto suspeito de ter causado a morte da
adolescente e mal-estar de outras 17 pessoas. A secretaria também está
monitorando a venda de tucumã nos comércios dos bairros do município. Pelo
menos, 15 pessoas deram entrada no Hospital Padre Colombo, no último domingo
(25), com sintomas de vômito, diarreia e dores abdominais.
Reação que transforma
O carbureto é um composto
químico: CaC2 e quando reage com a água, forma um combustível, chamado de
acetileno e também gera oxigênio.
De acordo com o químico e
professor, Pedro Campelo Jr., os frutos realizam essa transfomação naturalmente
no processo de maturação. “Quando as pessoas querem que uma fruta amadureça
mais rápido elas envolvem o fruto com algum pano ou papel para abafar o fruto,
esse procedimento gera o acetileno e acelera a maturação”, explicou.
De acordo com Campelo, não
existem problemas em utilizar o composto. No entanto ele ressalta que a
utilização do carbureto em grandes quantidades, misturado à água, podem trazer
prejuízos.
“Na química temos uma
reação onde semelhante absorve semelhante, na prática, se uma fruta que possui
substâncias orgânicas, recebe grande quantidade de acetileno que é um gás
orgânico, a fruta acaba absorvendo e quem ingere a fruta também, resultando em
problemas de saúde”, ressaltou.
Prática
Não é apenas no tucumã que
se usa o cabureto para acelerar o processo de amadurecimento. No interior do
Estado, o composto é bastante aplicado para amarelar banana. Na capital, a
prática ainda é muito desconhecida.
Facilidade que pode
prejudicar
A diretora da Dvisa
(Departamento de Vigilância Sanitária), Eunice Alves, disse que em Manaus as
ações de fiscalização serão intensificadas. “Nós percebemos que quase não há
opções na cidade para quem deseja adquirir o fruto, a maioria dos vendedores já
oferecem o tucumã descascado e dentro de sacolas plásticas”, destacou Eunice.
Apesar de ser mais
trabalhoso, descascar o tucumã, ainda é a forma mais segura de saber a
procedência de quem manuseou aquele fruto, ressaltou a diretora do órgão.
Para ela os locais onde
geralmente os frutos ficam expostos influenciam no processo de contaminação. “É
muito comum nós observarmos os tucumãs descascados e jogados sobre um tabuleiro
e sem nenhuma proteção do alimento contra moscas ou outras sujeiras. No caso
das ‘banquinhas’ de café regional, os alimentos já vêm contaminados dos
fornecedores e a contaminação é agravada por serem guardados em vasilhas
plásticas mal lavadas”, finalizou.
Lascas
Em 2011, um trabalho
desenvolvido pelo curso de Biotecnologia da Fundação Centro de Análise e
Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) constatou a presença de coliformes
fecais em 100% das amostras de lascas de tucumã coletadas em feiras livres
situadas em várias zonas de Manaus.
Embora o estudo tenha sido
direcionado para constatar a contaminação das lascas do fruto comercializadas
em vários pontos de Manaus, a avaliação aponta a falta das boas práticas de
manipulação do alimento como o principal motivo para que ele esteja
contaminado.
“Os feirantes costumam
manipular o tucumã e o dinheiro ao mesmo tempo e isso vai contaminando as mãos
que, quando mal lavadas, ao descascar o fruto passam a contaminação”, destacou
a coordenadora da pesquisa professora Danielle Cordeiro, mestre em
Biotecnologia.
Fonte/Foto: Jaíze Alencar - A Critica/Ney Mendes
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