DEVANEIOS MEGALÔMANOS DE KÁTIA
O circo estava montado.
Imprensa convidada, números decorados na ponta da língua, representação
ensaiada. Nesta quarta-feira (10), na sede da Confederação Nacional da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a ilustre presidente, senadora Kátia
Abreu (PSD-TO), apresentou à plateia seu mais novo estudo. O pacotão sugere que
as Unidades de Conservação, as Terras Indígenas e os assentamentos da reforma
agrária são prejudiciais ao suposto “progresso” brasileiro.
A pesquisa ressalta que,
se mantidas as taxas médias de criação de UCs e TIs das “eras FHC e Lula”, de
2011 a 2018 seriam colocados sob proteção do Estado mais 48,81 milhões de
hectares, o que supostamente corresponderia a uma perda de R$ 204,6 bilhões no
Produto Interno Bruto (PIB) do país em oito anos.
O que não se leva em
consideração é que esse processo não é cumulativo. O governo Dilma, por
exemplo, criou apenas três UCs, totalizando pouco mais de 44 mil hectares, o
número mais baixo em cerca de 20 anos. Situação similar ocorre com relação à
expansão da reforma agrária e à homologação de Terras Indígenas, que têm seus
processos parados desde o início da atual gestão.
Além disso, há unidades de
conservação de uso sustentável, que permitem a produção e o manejo florestal.
Mas parece que Kátia desconhece esse setor produtivo – aquele dos pequenos
agriculturores e da agricultura familiar. O estudo tampouco analisa que a
criação dessas unidades ao longo dos anos ajudou a estancar os desmatamentos
ilegais em suas respectivas regiões.
Com isso, o que essa parcela
de grandes produtores rurais evidencia é a sua tendência a favorecer o
reaparecimento do desmatamento como este era no passado. Outro ponto esquecido
foi que a criação de áreas protegidas no período abordado não impediu o
crescimento do setor agropecuário. Ao contrário, foi exatamente nessa época que
os produtores rurais atingiram todo o seu esplendor.
O problema no Brasil hoje,
portanto, não é o volume de áreas destinadas à produção – 330 milhões de
hectares, segundo o próprio estudo – ou protegidas por lei – 231 milhões de
hectares –, mas sim as áreas de terras abandonadas de forma inconsequente pela
pecuária extensiva ou pelo plantio de soja. O que se vê, então, é que no Brasil
não falta área, mas consciência do uso responsável da terra.
Era uma vez, outra vez
Apesar da nova roupagem, a
história não é nenhuma novidade. Há cerca de três anos, Kátia Abreu, juntamente
com a bancada ruralista do Congresso Nacional, alardeava ao Brasil que, caso o
Código Florestal não mudasse radicalmente, a agricultura do país iria falir.
Conseguiram o que queriam e o resultado foi a desfiguração do que restava da
legislação ambiental brasileira. Uma imensa anistia a criminosos ambientais e o
aumento do desmatamento foram os frutos colhidos pela nova lei que rege as florestas
do país.
Hoje, os novos alvos do
segmento do agronegócio que incentiva o desmatamento são os direitos indígenas
e as Unidades de Conservação, últimas barreiras que ainda fazem frente à
expansão desenfreada da fronteira agrícola no Brasil. Seguindo o mesmo roteiro,
eles defendem que os processos de criação de áreas protegidas precisam ser
revistos, caso contrário a economia brasileira e a agricultura irão à
bancarrota.
Há um constante clima de
chantagem e pressão ruralista a rodear o governo. Apoiados em falácias e
números tendenciosos, os representantes da pequena, mas mais atrasada parcela
da economia pedem a revisão de direitos conquistados com suor pela sociedade
brasileira. Ou seja, o que eles querem mesmo é mais retrocesso.
Na esteira do ataque aos povos
indígenas já estão programados ataques aos direitos trabalhistas, ao controle
dos agrotóxicos e às regras para compra de terras por estrangeiros. Nos seus
sonhos megalômanos, Kátia Abreu quer colocar o país de joelhos à sua agenda. E
tudo sob a bênção do governo Dilma. Cabe à presidente do país, então, tomar as
rédeas da situação e trazer a senadora de volta ao chão que ela tanto preza.
Fonte/Foto: Nathália
Clark – greenpeace.org/Valter Campanato - ABr
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