NHAMUNDÁ É DESTAQUE NA MÍDIA: NO AMAZONAS, MERENDA LEVA TRÊS DIAS PARA ATRAVESSAR CACHOEIRAS E CHEGAR À ESCOLA
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Lucas Filho, secretário de Educação de Nhamundá-AM |
A tarefa de distribuir
merenda para escolas públicas já é complexa na maioria dos municípios
brasileiros, mas na cidade de Nhamundá, no Amazonas, esse trabalho ganha
detalhes impensados para muitos secretários de educação do País. Todos os meses
um barco sai do centro do município, que fica a 370 km de Manaus, e demora pelo
menos três dias para descer 50 km de rio com 23 cachoeiras no caminho. Na
bagagem, refeições para os estudantes de uma escola municipal em Kaçawa, uma
das aldeias indígenas da cidade.
O caso da comunidade não é
o único. De acordo com o secretário de Educação de Nhamundá, Lucas Filho, o
transporte escolar para 60 escolas da cidade é feito inteiramente com 198
embarcações alugadas de uma cooperativa da região. É que o município com
aproximadamente 18 mil habitantes fica numa ilha e a maioria dos colégios
públicos está fora dela, ao longo da beira dos rios que estão no entorno.
Apenas quatro escolas ficam no centro.
“A maior dificuldade
geralmente é o acesso às escolas porque vivemos numa área de diversidade. É
muito difícil fazer reforma de escola, levar merenda escolar. Tem coisas que só
mesmo com ajuda dos índios. A que mais dá trabalho é essa ai (Kaçawa). São três
ou quatro dias para chegar onde tem cerca de 100 alunos. Todos indígenas.
Professores, também”, explica.
Lucas Filho é um dos cerca
de mil secretários de educação que participam do 14º Fórum Nacional de Dirigentes
Municipais de Educação, que acontece até o dia 17 em Mata de São João, na
Bahia. Por causa das características geográficas de Nhamundá, ele aproveitou
para pedir no evento que o governo federal reveja a questão da verba para
merenda escolar.
Pedido de mudança
“Não se pode comparar a
renda per capita da merenda escolar das regiões Norte e Sul, é uma diversidade
muito grande o transporte nas duas regiões. Um negócio muito difícil. Sugeri
para a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) para que
isso possa ser revisto. A nossa diversidade é muito maior. Isso acaba
encarecendo muito tanto nosso transporte quanto nossa merenda”, critica.
Ainda segundo o
secretário, o governo federal repassa R$ 0,60 centavos de merenda para cada
estudante da rede escolar. Mas, o valor é insuficiente. “Tenho um custo muito
maior com a merenda. Coloco 60% a mais (no valor recebido). Estou gastando 120
mil com merenda. Eu recebo só R$ 50 mil do governo federal”, argumenta.
Outra diferença dos
municípios do Amazonas é o período letivo. O secretário conta que em algumas
regiões de Nhamundá o ano escolar começa apenas em julho e termina em abril do
ano seguinte por causa do período de cheia dos rios. “Nós temos escolas em que
o ano letivo começa antes que o normal. Começa em julho do ano anterior porque
temos escolas em área de várzea. No período de cheia, as pessoas se mudam e as
aulas são suspensas. Isso acontece de seis em seis meses”, conta.
Apesar de todas as
dificuldades e falta de recursos para lidar com problemas incomuns, o
secretário não se empolga quando o debate é o investimento de 10% do Produto
Interno Bruto para a educação. Lucas Filho diz que preferiria que os
secretários de educação tivessem mais liberdade para controlar o orçamento. “Eu
acredito que no Brasil todo só 10% dos secretários de educação são ordenadores
de despesa. Nossas ações dependem sempre do prefeito”, critica.
Fonte/Foto:
ultimosegundo.ig.com.br/Renan Tuffi
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