O ANTES, O DEPOIS E AS LENDAS


por Helvecio Santos (*), no blog de Jeso Carneiro

Em época de eleição, tudo é válido, contanto que os candidatos consigam chegar ao pote de ouro, isto é, o cargo disputado.
São tantos cargos de assessores e secretarias a serem preenchidos ou criados que justificam, pelo menos para eles, os meios utilizados.
O eleitor é abraçado e afagado, lua de mel que termina com o fim da eleição. Depois disso, o surrado jeans e a modesta camisa são jogados fora ou lavados com bastante detergente para tirar o cheiro de perfume barato, e o povo que se dane.
Os políticos saem, então, em viagem de férias, pois o povo é mesmo cansativo e ninguém é de ferro. No retorno e após a posse, o “ungido” só será visto descendo ou entrando no carrão com ar condicionado e vidro com insufilm “escurésimo”. Ao eleitor, restará poeira na cara, pois o dito cujo estará sempre ocupado com assuntos “políticos” e não tem tempo a perder.
Carreata a céu aberto é coisa do passado e o sol faz mal à pele de qualquer cidadão, principalmente de quem está acostumado com ar condicionado.
Cumprimento, abraço, aperto de mão em sorridentes desfiles no cais é coisa de louco. Há muito trabalho a ser feito nos “congressos” nas capitais do Sul ou do Nordeste.
Mercadão 2000 aos sábados? Ora, e como fica o sapato de cromo alemão ou os mocassins de pelica?
Isso é verdade ou será que são devaneios de quem não compreende homens que passam a vida toda a serviço do povo?
Se for verdade, conclui-se que político é um 3 em 1 e não é lenda afirmar que nele existe um antes, um durante e um depois, três tipos distintos sobrecarregando um só corpo.
Bom, mas se o 3 em 1 é lenda e o político não é essa metamorfose do antes, do durante e do após o processo eleitoral, há também outras lendas que são alimentadas pelos homens que dedicam a vida toda “em prol do bem comum”.
A alegação de que o dito cujo tem experiência, o que não acontece com os adversários, é uma destas LENDAS. Afinal, o que é experiência senão o exercício do cargo? Quem nasceu andando? Ninguém. No entanto, todos aprendemos a andar. Assim, alegar experiência e alegar ser esta uma vantagem competitiva é LENDA.
Além do mais, experiência não traz eficiência e experiência sem eficiência é esquentar o lugar sem realizar nada. Como dizia o Barão de Itararé, aquele que foi sem nunca ter sido, “não é nada, não é nada, não é nada mesmo”.
Outra LENDA é dizer que nosso município será mais bem aquinhoado com verbas porque o candidato é amigo deste ou daquele ou porque é do mesmo partido do governante federal ou estadual.Os recursos repassados aos municípios não são repassados utilizando-se o critério de amizade. Os repasses obedecem a mandamento legal. Assim, é LENDA dizer que a amizade regrará repasse de verba ao município.
Também é LENDA dizer que há transferência vertical de prestígio e que visita de ministro ajuda. Se visita de ministro resolvesse, não haveria mais enchente em Santarém. E o que se vê todo ano? A água sobe, o ministro da vez passeia nas pontes de madeira do Mapiri, tira fotografia, almoça no restaurante caro e nada mais. Para nós, fica a conta do restaurante e a certeza de que no próximo ano a água subirá e o ministro aparecerá novamente.
Outra LENDA é dizer que o nosso “SIM” foi barrado por obra de qualquer candidato a prefeito ou do governador do Estado. O nosso tão esperado “SIM” foi barrado pelo ministro Ricardo Levandowsky, quando determinou, segundo interpretação da lei, que “parte interessada” a participar do plebiscito seria todo o Pará e não somente as duas partes interessadas na separação.
Ora, ao assim entender, jamais teríamos qualquer chance de vitória pois o povo de Belém e entorno é quase o triplo da população do Tapajós e de Carajás juntos. Assim, quem nos derrotou foi a interpretação da lei pelo ministro e não qualquer candidato a prefeito ou o governador, mesmo que este tenha tomado partido.
LENDA também é a afirmação de que Santarém é um polo turístico. No máximo, temos potencial. Mas estamos a anos luz de sermos pólo turístico. Não temos nada que nos habilite, a não ser a natureza que aos poucos vai sendo destruída e nossos governantes nada fazem. Pelo contrário, todos, religiosamente todos, contribuíram ou contribuem para essa destruição.
Por obra ou omissão de nossos governantes: a Cargill está aí; o terminal de cargas da Praça Tiradentes está aí; o esgoto continua a ser despejado no rio; os barcos continuam com sanitário sem tratamento e, adicione-se, servindo de hotel ou moradia em frente à cidade; o nível de poluição das praias é crescente; o esgoto corre a céu aberto nas ruas; os comerciantes invadem o passeio público; inexiste pontos de apoio ao turismo etc etc etc.
Penso que o turismo poderia ser nossa maior fonte de recursos, mas, a continuar assim, seremos sempre uma cidade com um potencial turístico que se esvai celeremente e um promissor passado pela frente.
Seremos sempre uma promessa que não se realizou por obra de uma perversa conjugação de um povo que não se envolve e governantes que só miram o próprio umbigo.
Uma verdadeira LENDA!
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* Santareno, reside no Rio de Janeiro. É advogado, economista, ex-jogador e torcedor do São Francisco

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