O país tem 2.906 lixões oficiais e uma cultura de reciclagem pouco valorizada O aprofundamento das questões ambientais em todo o mundo despertou também o Brasil para a necessidade de discutir o problema do lixo proveniente das residências, comércios e indústrias. O governo brasileiro elaborou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, cuja versão preliminar já está disponível na internet para consulta. O documento, que será amplamente discutido com a sociedade para, então, ser validado em Brasília, traz um panorama do tratamento dado aos resíduos sólidos gerados no país e sugere metas, algumas ousadas, como a eliminação total dos lixões até 2014.A discussão do plano está apenas começando. Mas, é um passo importante para a mudança de cenários urbanos e rurais, onde montanhas de lixo se acumulam e nelas materiais importantes que poderiam ser reciclados. Embora o país ainda não tenha um plano de resíduos consolidado, existem experiências bem-sucedidas no Norte do país que sinalizam ao menos uma preocupação em fazer diferente, mesmo que a nível local. São iniciativas que nascem do compromisso de fazer melhor e de resguardar o futuro das próximas gerações no meio da Amazônia.A seleção de resíduos já é realidade em Porto Trombetas, no Oeste Pará, área de atuação da Mineração Rio do Norte (MRN). A empresa assumiu o compromisso de orientar os habitantes da vila para os cuidados com o lixo e, bem mais que isso, cuidar para que materiais recicláveis tenham um destino adequado. O envolvimento dos moradores de Porto Trombetas com a gestão responsável do lixo não é recente. A vila, que pertence ao município de Oriximiná, foi o primeiro lugar do Brasil a receber a certificação da norma ISO 14001, ainda em 2001. A norma, que tem reconhecimento internacional, define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental efetivo, garantindo o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade de uma empresa e a redução do impacto ambiental.Em Porto Trombetas, a coleta seletiva faz parte da rotina dos moradores. Todos são orientados a separar corretamente os resíduos que produzem, as coletas são sistêmicas e nem o lixo vegetal, como folhas de árvores e galhos vai parar junto com o lixo comum. “Buscamos a participação da comunidade, pois sem ela não existe coleta seletiva e gestão de resíduos”, diz Arlete dos Santos, responsável pela gestão ambiental na vila que tem cerca de sete mil habitantes.O resíduo úmido, como as sobras de alimentos, por sua vez, vai para a Usina de Triagem e Compostagem e, após receber tratamento, retorna como adubo orgânico. As casas da vila residencial, em sua maioria, têm jardins que utilizam o adubo na manutenção das plantas. É mais uma ação da MRN com foco na sustentabilidade, incentivada pelo projeto Jardim Somando Verde, outra iniciativa educativo-ambiental promovida pela empresa. Já o papelão, plástico e outros materiais recicláveis, chamados de resíduos secos, são doados para o Movimento República de Emaús, em Belém, uma parceria que existe há nove anos. O Movimento República de Emaús atua em diversas frentes de inserção social e tem, no seu quadro de ações, cursos de reciclagem. A expertise da instituição de transformar sobras em utilidades chamou a atenção da MRN, que passou a enviar, mensalmente para o Emaús, materiais como alumínio, latas, papelão, pets e plástico rígido. O material, que percorre 880 quilômetros, de Porto Trombetas a Belém, é fonte de renda e de reintegração social de mulheres cujas famílias estão em situação de vulnerabilidade social.“Normalmente, são donas de casa que vem para o Movimento porque o filho está sendo atendido também por nós. São mulheres que viviam em casa e que não tinham como ajudar na composição de renda familiar. A MRN é nossa maior parceira e ajuda a manter o trabalho com esse e outros grupos, abrindo para eles um mundo novo”, explica a secretária executiva do Movimento República de Emaús, Marília Soares.A MRN doou cerca de 50 toneladas de recicláveis para o Emaús em 2010 e mais de 60 toneladas em 2011 – material que é selecionado e transformado em agendas, cadernos, porta-lápis e objetos de decoração, pelas mãos de pessoas como Leonisa Vieira, que se tornou artesã depois de fazer um curso de reciclagem de papel no Emaús. “Dá pra fazer tudo o que você quiser do papel, de cartões a bolsas. Reciclar não é só catar o lixo, mas olhar lá na frente. Ver que dá pra fazer com o papel e como você pode melhorar o meio ambiente com essa atividade”, argumenta.A artesã afirma que a profissão ainda não é muito valorizada. “Acho que devia haver outros projetos de separação do lixo. Ainda tem muita gente que cata ferro e pets nas ruas, revirando os sacos”, lamenta. Com as atividades de reciclagem, Leonisa contribui com a renda familiar. Fatura cerca de R$ 300 por mês com as vendas do material transformado. “Não é sempre que a gente vende muito. Vendemos mais no final de ano e nas feiras de eventos. Mas é um trabalho muito bom de fazer e que ajuda muitas pessoas a se socializarem. Você conhece gente nova o tempo todo. E tem também informações de cidadania, aqui, no Emaús”, completa.De acordo com o relatório do Ministério do Meio Ambiente, existem entre 400 e 600 mil catadores de materiais recicláveis no Brasil e apenas 1.100 organizações coletivas formadas para esse tipo de atividade. Ou seja, muito do lixo reciclável produzido ainda é retirado de forma individual por pessoas que remexem nas lixeiras comuns, procurando materiais retornáveis no meio de restos de alimentos, por exemplo, o que muitas vezes compromete a reutilização do material.A reciclagem é uma tendência no Brasil, mas ainda está em fase inicial. O relatório preliminar do Plano Nacional de Resíduos Sólidos aponta um aumento de 120% da coleta seletiva de materiais recicláveis entre 2000 e 2008 no número de municípios que desenvolvem tais programas. Ao todo 994 unidades federativas adotam essa prática no país, a maioria delas nas regiões Sul e Sudeste. Contudo, a participação dos resíduos recuperados pelos programas de coleta seletiva formais ainda é muito pequena, o que torna a iniciativa de Porto Trombetas ainda mais representativa. Dar um destino melhor aos resíduos sólidos por meio de parcerias de incentivo à reciclagem, portanto, é um passo inicial importante em direção à erradicação dos 2.906 lixões existentes no país.
Fonte: Érica Bernardo - Assessoria de Comunicação - MRN
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