SEXAGENÁRIO
Às vezes esqueço que passei dos trinta ou dos sessenta. Correr outra maratona? Nem pensar. Três dias de carnaval? Longe disso...
Aprendi a ouvir o silêncio e seus ritmos. Acho que a arte me mantém vivo. Ou serão os amigos que me livram do abismo ?
Faço canções que não serão ouvidas e livros que não serão lidos.
Viverei para sempre em forma de pedra, areia, estrela, pólvora. O resto não sei, mas estou aprendendo rápido. Parece que nem passei dos trinta ou dos sessenta.
Que ridículo !
Correrei ainda meia maratona?
Esqueço os óculos e a senha que me permite entrar na máquina do tempo.
Sinto-me menino. Tropeço nos cadarços, rabisco paredes, imito passarinhos.
O coração sempre dispara, não sei se por emoção ou falta de ginástica rítmica. Choro, quando a minha amante, a poesia, finge que não existo.
Vôo nas asas de sonhos bons e sou devorado pela nostalgia.
Velho é quem passa dos trinta ou dos sessenta?
Ainda não me dei conta disso.
Enquanto as células se degeneram, abro outras portas e escrevo outros versos, de olho no infinito...
*Cicero de Pais
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